65ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 13. Engenharia Sanitária
ASPECTOS TOXICOLÓGICOS DE PESTICIDAS DOMÉSTICOS COMERCIALIZADOS EM DOIS MUNICÍPIOS DE SANTA CATARINA
Sonia Corina Hess - Profa. Dra. - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
Edson da Silva - Ciências Rurais - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
Gilmario Vilela Santos - Ciências Rurais - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
Matheus Pellizzaro Coelho - Ciências Rurais - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
Paulo Bai Filho - Ciências Rurais - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
Walquiria Chaves da Silva - Ciências Rurais - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
INTRODUÇÃO:
A exposição a produtos de limpeza, pesticidas ou corrosivos de uso doméstico tem sido a principal causa de envenenamento não intencional registrada no Brasil onde, em 2010, foram registrados 2.576 intoxicações e 18 óbitos por ingestão de raticidas, e 2.094 intoxicações e 7 óbitos por absorção de pesticidas domésticos. A maioria das vítimas de tais intoxicações tem sido crianças com menos de 05 anos de idade. Também tem sido evidenciado que a presença, no ambiente, de resíduos de pesticidas, pode resultar em aumento das taxas de mortalidade por neoplasias, malformações congênitas e suicídio, na população exposta. Tais dados tornam-se relevantes ao considerar-se que as neoplasias foram a segunda principal causa dos óbitos registrados no Brasil entre 2006 e 2010, totalizando 836.209 mortes, enquanto que as malformações congênitas representaram a segunda causa de óbito de crianças com menos de 01 ano de idade. As taxas de mortalidade por suicídio a cada 100 mil habitantes no Brasil variaram de 7,4 a 8,0 para o sexo masculino e de 1,9 a 2,1 para o sexo feminino, índices considerados médios e baixos, respectivamente. Portanto, o estudo de aspectos toxicológicos de pesticidas de uso doméstico constitui-se em ferramenta útil a programas de vigilância em saúde.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar aspectos toxicológicos dos pesticidas industriais de uso doméstico comercializados em dois municípios de Santa Catarina.
MÉTODOS:
O estudo foi realizado em dois municípios (CA e CB) do estado de Santa Catarina. CA está localizado ao nível do mar (latitude -27o35'48”, longitude -48o32'57”) e tem a maior parte da população em área urbana (421.240 habitantes em 2010). CB esta a 1.000 metros de altitude (latitude -27o16'58” e longitude -50o35'04”), a maior parte da população em área rural (37.748 habitantes em 2010). Foram realizados levantamentos em 10 estabelecimentos comerciais em CA e 10 em CB, no período de março de 2011 a setembro de 2012, incluindo os maiores supermercados, agropecuárias e “pet shops” de cada cidade, visitando-se cada estabelecimento em, pelo menos, duas ocasiões. Anotou-se o nome comercial, fabricante, ingredientes e recomendações de uso, descritos nas embalagens dos pesticidas domésticos comercializados. Os dados relativos à toxicidade das substâncias descritas nos rótulos foram levantados na literatura e no portal da internet da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária e Ambiental (ANVISA).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram encontrados 204 pesticidas comerciais, 31,9% somente em CA, 19,6% em CB e 48,5% em CA e CB, sendo 88,2% inseticidas, acaricidas, formicidas e/ou cupinicidas (I), 8,3% raticidas (R); 2,9% herbicidas (H) e 0,5% moluscicidas (M). Nos produtos I foram encontrados 34 diferentes princípios ativos: piretróides (44,1%), organofosforados (17,6%), carbamatos (11,8%), entre outros, sendo os mais frequentes os piretróides permetrina (15,5%), praletrina (15,0%), imiprotrim (12,8%), cipermetrina (12,8%), esbiotrim (8,3%), deltametrina (6,7%), aletrina (6,1%), transflutrina (5,5%), fenotrina (5,0%) e tetrametrina (4,4%). A maioria dos produtos continha mais de um princípio ativo. O Triclorfom, um organofosforado de uso proibido no Brasil, foi encontrado em 01 produto, em CA. Brodifacum, bromadiolona e cumatetralil foram encontrados em 50,0%, 37,5% e 12,5% dos raticidas, respectivamente. Dentre os herbicidas, o glifosato esteve presente em 83,3% dos produtos, e o imazapir, em 16,7%. O moluscicida metaldeído foi encontrado em apenas um produto, em CA. Quanto à classe toxicológica, eram da classe I (extremamente tóxico) 8,8% de I, 33,5% de R e 50% de H; II (altamente tóxico) 29,4% de I e 33,3% de R; III (medianamente tóxico) 8,8% de I e 33,3% de R; IV (pouco tóxico) 5,9% de I e 50% de H.
CONCLUSÕES:
A presença de princípios ativos das classes toxicológicas I e II em pesticidas de uso doméstico, de acesso irrestrito, representa sério risco à saúde de pessoas e animais expostos. Além disso, em 68,0% dos pesticidas encontrados, não havia descrição de todos os materiais presentes nas formulações, além dos princípios ativos, sendo estes citados com termos genéricos, tais como: emulsificante, solvente, estabilizante, veículo, sinergista, entre outros, o que não permite a identificação de seus possíveis efeitos tóxicos. T-Butóxido de piperonila (sinergista), BHT (butil-hidroxi tolueno) (antioxidante) e triclosan (antisséptico) são exemplos de tais aditivos, que apresentam efeitos tóxicos. Algumas recomendações de uso descritas nos rótulos, por outro lado, são de difícil aplicação e, até, contraditórias. Por exemplo, para inseticidas liberados no ambiente a partir do aquecimento de matrizes sólidas ou líquidas, para uso em ambientes interiores durante muitas horas, lê-se no rótulo: evite a inalação; proteja os olhos durante a aplicação; não aplicar sobre plantas, aquários, utensílios de cozinha e alimentos. Também não foram encontradas citações, nos rótulos dos produtos, de sua toxicidade, aguda ou crônica. Portanto, sugere-se que a normatização de tais produtos seja revista.
Palavras-chave: Santa Catarina, Pesticidas domésticos, Toxicidade.