65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 8. Medicina
INCIDÊNCIA DE MÁ QUALIDADE DO SONO E SUA RELAÇÃO COM PERMANÊNCIA HOSPITALAR: ESTUDO DE COORTE PROSPECTIVO EM ENFERMARIAS DE CLÍNICA MÉDICA
Divany de Brito Nascimento - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Gilson Mauro Costa Fernandes Filho - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Charles Saraiva Gadelha - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Alisson Monteiro Salvador - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Laís Araújo dos Santos - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Rilva Lopes de Sousa-Muñoz - Prof. Dra.- Depto. de Medicina Interna do Centro de Ciências Médicas- UFPB
INTRODUÇÃO:
A má qualidade do sono está associada a diversos problemas de saúde, como o aumento da mortalidade, aumento da morbidade e mortalidade cardiovasculares, aumento do risco de desenvolvimento de diabetes mellitus tipo II, pior qualidade de vida, aumento do risco de depressão e suicídio, aumento do risco de câncer e aumento dos custos em saúde. Pacientes atendidos em enfermarias de clínica médica podem enfrentar distúrbios de sono durante a hospitalização devido à sua condição clínica, ao tratamento e ao próprio ambiente hospitalar. O problema de pesquisa deste estudo foi o seguinte: teria o padrão de sono noturno influência sobre a permanência hospitalar do paciente hospitalizado? A principal hipótese da pesquisa foi de que a má qualidade do sono associa-se a desfechos clínicos desfavoráveis. O conhecimento dos preditores de insônia pode ajudar no planejamento de estratégias de prevenção e tratamento para melhorar o estado de saúde global e qualidade de vida de pacientes hospitalizados por descompensação clínica de doenças crônicas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar o impacto da má qualidade crônica do sono sobre a permanência hospitalar em pacientes clínicos do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
MÉTODOS:
Estudo observacional de coorte, envolvendo pacientes internados nas enfermarias de clínica médica do HULW. O desfecho principal foi a permanência hospitalar prolongada e o secundário, mortalidade. Os instrumentos empregados foram o Formulário de Identificação e Evolução (FIE) e dois questionários padronizados de avaliação da qualidade do sono – o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh e o Verran and Snyder-Halpern Sleep Scale. No primeiro dia de internação, realizou-se a avaliação inicial, com preenchimento do FIE e do IQSP. No FIE, registraram-se semanalmente os eventos ocorridos com o paciente durante toda a hospitalização. O VSH foi aplicado duas vezes por semana. Formaram-se quatro grupos de acordo com a exposição ao fator de risco “má qualidade do sono”: Grupo 1, de não-expostos, pontuação menor ou igual a 5 no IQSP e menor ou igual a 249,7 na escala de distúrbio do VSH; Grupo 2, agudamente expostos, com IQSP menor ou igual a 5 e escala de distúrbio do VSH maior que 249,7; Grupo 3, cronicamente expostos, com melhora durante a internação, IQSP maior que 5 e escala de distúrbio do VSH menor ou igual a 249,7; e Grupo 4, cronicamente expostos, com persistência durante a internação, IQSP maior que 5 e escala de distúrbio do VSH maior que 249,7.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dos 107 pacientes incluídos no estudo, 45 eram do sexo masculino (42,1%) e a média de idade foi de 46,1 ± 16,7 anos. O tempo de internação médio foi de 23,4 ± 15,4 dias. Quanto à composição dos grupos, 24 pacientes se enquadraram no grupo de não-expostos (Grupo 1), 7 pacientes tiveram apenas exposição aguda ao fator de risco (Grupo 2), 31 tiveram exposição crônica ao fator de risco, com melhora durante a internação (Grupo 3), e 45 tiveram exposição crônica ao fator de risco persistente durante a internação (Grupo 4). Houve diferença significativa entre exposição à má qualidade do sono e tempo de permanência hospitalar (p=0,007). Observou-se que maior o tempo de permanência hospitalar, maior a exposição à má qualidade do sono, sendo superior nos pacientes do Grupo 4. O aumento da permanência hospitalar associou-se significativamente com a qualidade do sono, tanto através da medida do VSH quanto do IQSP. Houve diferença significativa na duração da permanência hospitalar entre os grupos (p=0,017), observando-se que quanto maior a exposição à má qualidade do sono, maior o tempo de permanência hospitalar. O fato de o paciente internado ser exposto crônica ou agudamente à má qualidade de sono se caracterizar como um fator de risco independente para o aumento no tempo de internação hospitalar, como demonstrado no presente estudo, tem importantes implicações clínicas.
CONCLUSÕES:
Má qualidade do sono, tanto aguda quanto cronicamente, associou-se a maior tempo de permanência hospitalar em pacientes clínicos de um hospital terciário. De acordo com estes resultados, a hipótese de pesquisa foi corroborada, ou seja, a má qualidade do sono e a insônia subjetiva associaram-se significativamente com um aumento no tempo de permanência hospitalar, influenciando, portanto, a evolução clínica destes pacientes. A adoção de medidas de higiene do sono no ambiente hospitalar com a devida orientação aos pacientes internados nas enfermarias dos hospitais gerais, assim como à equipe de saúde como um todo, para elaboração de rotinas de cuidados do sono em ambiente hospitalar, poderia ser realizada.
Palavras-chave: Qualidade de sono, Privação de sono, Tempo de Internação.