65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 9. Artes
MULTIPLEX CODE: CORPO COTIDIANO E PROCESSO RITUAL
Daniela de Aquino - Depto de comunicação e filosofia - Comunicação das Artes do Corpo - PUC SP      
Naira Neide Ciotti - Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Artes - UFRN
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa busca investigar o entendimento das ações que operam simultaneamente em ambientes com códigos distintos, isto é, ações do cotidiano que compartilham o processo ritual. Este relatório vai destacar estudos acerca do cotidiano que se expressam metaforicamente na forma de uma espiral e criar um diálogo contínuo entre as reflexões (elaborações) emitidas pelo Babalorisá Alberto de Osalá, e o conceito de Multiplex Code, elaborado pelo diretor teatral e pesquisador Richard Schechner. Desse modo, pudemos buscar os múltiplos códigos que acercam a religião do candomblé, como meio de estabelecer relações entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento ritual. Esses códigos estão presentes na culinária, na vestimenta e na tradição oral, e se manifestam através dos cantos e dos toques de tambores. Para Schechner o ritual não segue uma narrativa;  ele acontece em mutáveis “bit de informações”, em que o processo ocorre  a partir da emissão de sinais multiplex onde as experiências são restauradas, alterando os canais temporais entre passado, presente e futuro. Podemos entender esses bits como códigos distintos, que no processo multiplex code, enviam sinais em vários canais simultaneamente num impulso ou movimento em espiral, podendo cada um desses canais ser controlado individualmente.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esta pesquisa busca, acima de tudo, a definição do conceito de Multiplex Code e de que forma ele contribuiu para as ações que operam simultaneamente em ambientes com códigos distintos. O objetivo específico é investigar, através do Multiplex Code, quais são as naturezas de certas ações do cotidiano que compartilham o processo ritual.
MÉTODOS:
A opção pelo tema de pesquisa Multiplex Code e sua abordagem metodológica foi organizada com um enfoque a princípio teórico-bibliográfico, com leituras aprofundadas de Richard Schechner e Renato Cohen. Documentada em vídeo, parte da entrevista com o Babalorixá Alberto, Zelador da casa Kalamun Fun Fun - que também é artista plástico, pedagogo e diretor de EMEI - serviu como base para a organização da metodologia da pesquisa de campo. Esta orientou a produção de uma captação de áudio registrando e compondo uma cartografia sonora dos espaços por onde o Babalorisá Alberto transita: A EMEI , localizada na Praça da República, o Mercado Municipal, no centro de São Paulo e finalimente o Ilê Axé Kalamu Fun Fun, casa de candomblé situada no Bairro de Monte Verde, município de Franco da Rocha. Durante a pesquisa em campo, essas fronteiras apresentaram-se em deslocamentos particulares e interessantes. Nesse percurso, constatei a necessidade de uma investigação entre esses ambientes que são percorridos nesses trajetos entre ritual e o cotidiano, pude escutar e observar paisagens sonoras ricas em diversidades e com sua própria identidade e que juntas completam a simultaneidade dessas mediações que percorrem esses espaços entre corpo cotidiano e processo ritual.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Richard Schechner esteve recentemente no Brasil para apresentar The conservative Avantgarde, palestra proferida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Antropologia na USP/ Grupo de Estudos NAPEDRA, tendo também participado do Congresso da Associação Brasileira de Antropologia. No momento do debate, perguntei-lhe se o conceito de códigos múltiplos, o multiplex code, pode ser associado aos rituais do candomblé, onde acontece uma espécie de estratégia de sobrevivência que faz os signos percorrerem uma espiral. Confirmando a minha hipótese, ele responde que sim, que o Multiplex Code assume essa expansão em espiral, por se tratar de situações onde ampliamos nosso conhecimento (urgências); seriam como travessias nos limites de cada etapa dessa espiral. Nesses entre-espaços compartilhados do processo ritual o sistema ganha complexidade com códigos distintos e simultâneos. Schechner fala do potencial ilimitado da consciência sob o prisma da neurociência cognitiva e da performance,  na neuroplasticidade ambiental,  onde o cérebro pode ser treinado a fazer várias conexões entre comportamento e aprendizado neuronal de heranças. Em" O paradigma perdido", Morin aborda a necessidade de exploração e expansão do espaço/tempo, como forma de sobrevivência e permanência da espécie.
CONCLUSÕES:
Schechner aponta que precisamos usar das nossas experiências e criar metodologias cognitivas e somatizadas, tarefas multiplex contra as narrativas não-confortáveis, para entender e mudar ideias neocolonialistas. No processo ritual o Multiplex Code movimenta-se em trajetória em espiral, as soluções são codificadas em estratégias que ao longo do tempo se complexificaram  tornado possível  o conhecimento hábil para a sobrevivência e êxito no meio. Deste modo,nossos rituais seriam mecanismos que objetivam a busca da totalidade frequentemente inexistente ou difícil de ser percebida no nosso cotidiano. Num sistema como o nosso, onde o indivíduo sempre tem primazia, tudo já está separado conceitual e concretamente. Por causa disso, aqui o rito não divide, junta. Não separa, integra. Não cria o indivíduo, mas a totalidade.Durante todo esse processo de pesquisa , perceber que percorrer em espiral indica a transformabilidade, e aponta para a natureza múltipla da realidade.
Referências:                                
COHEN, Renato. Performance como Linguagem São Paulo, Ed. Perspectiva, 2004.
SCHECHNER, Richard. - The End of Humanism. Performing Arts Journal .Vol. 4, No. 1/2, May, 1979 .
MORIN, Edgar - O paradigma perdido: A natureza humana , Publicações Europa- América, 4ª edição. 1973.
Palavras-chave: Estudos da performance, Candomblé, Espiral.