65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 2. Sociologia do Conhecimento
A ideologia capitalista no discurso construtivista na educação: reflexões sobre a relação entre a teoria construtivista de Piaget e o Capitalismo
José Antônio de Lima - Graduado em Pedagogia - FACOL/PE
Maria Letícia Leocádio Silva Cavalcanti - Profa. Mestra/Orientadora - Curso de Pedagogia - FACOL/PE
Camelo Souza da Silva - Prof. Mestre/Co-orientador - Curso de Pedagogia - FACOL/PE
INTRODUÇÃO:
A concomitância entre a expansão da Teoria Construtivista de Piaget e a reformulação do Capitalismo leva a profundos questionamentos acerca da possibilidade de se relacionar esses dois universos ideológicos. Nesse sentido, questionamo-nos se o movimento educacional construtivista, grande bandeira dos educadores atuais, estaria a atender às necessidades que a nossa sociedade e seu sistema econômico, o capitalismo, apresentam.
Esse questionamento torna-se fundamental, visto que tal concepção é fortemente difundida e defendida por teóricos, professores, gestores, políticos, dentre outros.
A opção por este tema se pautou em estudos realizados durante a nossa graduação, nos quais observamos que os modelos educacionais, na grande parte das vezes, concordavam com as necessidades que a sociedade apresentava em determinado momento, e que essas necessidades ligavam-se fortemente a fatores econômicos.
Objetivamos, portanto, analisar o núcleo do discurso construtivista e investigar a possibilidade de se criar um paralelo entre ele e a ideologia capitalista capaz de condicionar o indivíduo, por meio da Escola, às práticas do mundo capitalista.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar o núcleo do discurso construtivista e observar se nele há alguma influência da ideologia capitalista.
MÉTODOS:
Este trabalho fundamentou-se sob o método dedutivo de raciocínio, que a partir das teorias e leis, na maioria das vezes, consegue predizer a ocorrência dos fenômenos particulares. Tal linha de pensamento torna-se fundamental quando se parte de pressupostos filosóficos e ideológicos para se chegar a conclusões teóricas acerca da realidade.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, na qual se analisou algumas obras que discutem sobre o Construtivismo. Utilizamos os livros Para Onde Vai a Educação e Epistemologia Genética, ambos do próprio Piaget. Além desses, analisamos ainda Construtivismo: A Poética das Transformações, de Monique Deheinzelin e Construtivismo e Mudança, Sanny S. da Rosa.
Na etapa seguinte, decantamos o corpo ideológico capitalista. Fundamentados na acepção de Lima sobre o pensamento neoliberal, utilizamos como categorias de análise: o individualismo, a liberdade e a propriedade.
Por último, contrapomos ambos os universos ideológicos, relacionando-os, para extrair deles os pontos em concordância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A teoria construtivista considera o conhecimento como resultado da interação entre sujeito e objeto, desconsiderando a influência do meio na aprendizagem. Depreende-se que essa teoria individualiza a aprendizagem e, por conseguinte, monopoliza o conhecimento. A exaltação dos valores individuais parece alinhar-se ao individualismo presente na ideologia neoliberal, na qual o indivíduo é a referência basilar do sistema.
Além disso, o Construtivismo reforça constantemente a necessidade de formar indivíduos autônomos, isto é, que sejam capazes de pensar por si próprios. Percebe-se que a autonomia permite a sustentação do conceito de liberdade individual, desdobramento do individualismo. Contudo, considerando que ela pertence à ideologia neoliberal, infere-se que estará limitada aos ditames do Capitalismo, e será, portanto, uma liberdade condicionada.
Ademais, nota-se que o Construtivismo exalta o esforço individual, a incorporação dos “resultados educativos” ao seu “patrimônio”. Esse ponto coaduna-se com o conceito de propriedade, que é a possibilidade de se dispor daquilo que se produz. No entanto, a propriedade tanto dos meios quanto do produto do trabalho reduz o processo educacional ao próprio sujeito, negando o caráter social do conhecimento e da cultura.
CONCLUSÕES:
Durante este estudo, observamos que o Construtivismo possui um viés tendencioso aos valores defendidos pela ideologia neoliberal. As consequências de noções de individualismo, liberdade individual e propriedade privada ampliam-se devido à interdependência entre elas. A combinação delas cria uma conjuntura que interpela o indivíduo a sua constante profissionalização, como se o trabalho não o servisse, mas ele servisse ao trabalho.
Somos levados a inferir ainda que, ao contrário do passado, no qual eram os homens que se alienavam mutuamente; hoje, além desta forma, há a ideologia da competitividade mercadológica, na qual os homens alienam a si mesmos.
Havíamos partido da hipótese de que os modelos educacionais tendessem a adequar a escola às necessidades da sociedade e de seu sistema econômico. Percebemos que o Construtivismo possibilita adequar a escola às novas necessidades do sistema capitalista: indivíduos autônomos, criativos e que busquem constantemente aperfeiçoamento.
Cremos que este trabalho contribua à reflexão sobre a docência, ressaltando, como dissemos na introdução que almejávamos destacar pontos do Construtivismo que possam servir ideologicamente ao Capital, e não, denegrir a abordagem construtivista. É necessária, no entanto, a observação prática deste teorema.
Palavras-chave: Ideologia, Construtivismo, Dominação.