65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
O CAOS RENOVADOR: ANTONIN ARTAUD E O DEVIR SOCIAL
Luiza Ritz Bertocco - Graduanda em Licenciatura em História - UFTM
Rodrigo de Freitas Costa - Prof. Dr./Orientador - Depto. de História - UFTM
INTRODUÇÃO:
O tema da minha pesquisa se situa ao redor de questões relacionadas à loucura, ou seja, analisar as suas manifestações, as diferentes formas da sociedade encará-la e os estereótipos constituídos através do tempo e, além disso, identificar personagens que, mesmo sendo considerados à margem por alguns, podem possuir dentro de si um arsenal imenso e potente de idéias criadoras e desconstruções de mentalidades já cristalizadas. O personagem escolhido, nesse caso, se trata de Antonin Artaud (1896-1948).
Além de poeta, escritor, dramaturgo, roteirista e ator, é considerado atualmente como uns dos grandes nomes do século XX no âmbito artístico e filosófico. Pretendo estudar a complexidade sócio-cultural marselhesa do século em que ele viveu e as idéias revolucionárias que deixou para a posteridade, inspirando muitos rompimentos com a concepção e as condutas vigentes. Mesmo sendo taxado como louco e sendo submetido a diversos tipos de tratamentos, Artaud consegue que suas idéias sobrevivam, contribuindo para diversos questionamentos a respeito dos direitos humanos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A intenção desse trabalho é relacionar os escritos de Artaud com as características do contexto histórico em que viveu, além das formas particulares que esse sujeito se apropriou e construiu. Dessa maneira, é possível analisar de forma mais crítica os seus porquês, ideais e as lutas internas. Pretendo compreender os anseios deste homem, assim como as questões sociais que o provocavam.
MÉTODOS:
Foi realizada uma análise do livro “O teatro e o seu duplo” de Antonin Artaud e de outros de seus escritos. Esse livro trata basicamente de sua concepção sobre o teatro e a vida, por isso pode ser considerado como uma importante teoria e filosofia de teatro do século XX. Nele são manifestadas as suas idéias sobre as formas que o teatro deveria ter, assim como as potencialidades e mudanças que podem influenciar na existência humana. Pelo fato de Artaud tratar dessas “formas” de maneira fluida e de não enquadrá-las em um manual, acabou idealizando e criando uma nova idéia artística, onde os esquemas e o predeterminado dão lugar à espontaneidade e pensamentos não reprimidos.
Outro ponto importante é que esse teatro é pensado não apenas como um lugar do espetáculo, e sim como o duplo da própria vida, assim como a vida deveria ser representada intensamente no palco, local da extravasão e da livre criação de pensamentos.
É importante compreender o que o levou a criar o “Teatro da Crueldade”, já que Artaud pensa as questões sociais e a vida de forma muito subjetiva e complexa, buscando meios alternativos para responder às suas indagações mais essenciais, portanto, nada mais conveniente do que tentar compreendê-lo através das análises macro e micro-históricas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Artaud dialoga com uma multiplicidade de questões e, através de suas críticas à medicina da época, à psiquiatria, à ortodoxia e hipocrisia tanto religiosa quanto dos mais diversos âmbitos da sociedade, acabou por manter uma posição de denúncia ao controle e às regras ao sistema social. Através de sua ideologia, foi capaz de motivar movimentos artísticos e políticos dos mais diversos, inspirando uma forma anárquica inédita.
Se para ele não há como pensar o material desvinculado do espiritual e a arte sem as questões sociais e políticas, Artaud combate as condutas vigentes de sua época à sua maneira, tanto por meio de suas atitudes ou de seus escritos.
Suas atitudes incomodavam as autoridades, em vista que ousou evidenciar as estruturas já falidas de sua época, principalmente a Ocidental. Ele foi considerado como louco, internado e sujeito a penosos tratamentos, porém, mesmo assim, continuou sua empreitada em prol da dignidade humana.
Podemos notar suas influências em movimentos anarquistas, de lutas anti-manicomiais, em concepções de teatro e de arte mais abertas, em áreas da educação, política, dentre outros.
CONCLUSÕES:
Ao tentar romper com as balizas pré-estabelecidas da sociedade, Artaud promove uma nova via para que a as pessoas possam criar as suas próprias brechas. As suas idéias insuflam na mente das pessoas uma nova maneira de encarar os dilemas sociais, onde os seres se sintam autônomos e ativos para agir e reelaborar as normas e preceitos dados de antemão. Quando as pessoas se sentem capazes de atuar de forma íntegra no meio em que vivem, passam de meros reprodutores para constantes criadores de sua própria conduta.
Artaud sempre procurou por uma verdade arcaica e essencial, da qual a humanidade se desviou e alienou. Essa sua busca incessante pelo caos construtivo e pelos elementos não contaminados se dá, basicamente, pela necessidade que sentia de conseguir desenvolver na Terra os prelúdios de uma vida não cerceada por restrições e ausente de estigmas.
Palavras-chave: Loucura, Estigmas, Antonin Artaud.