65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
APROXIMAÇÕES ENTRE WITTGENSTEIN E A FENOMENOLOGIA
Raimundo Nonato Araujo Portela Filho - Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís-MA
Carmem Maria Almeida Portela - Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão, São Luís-MA
INTRODUÇÃO:
Há interpretações denominadas fenomenológicas do pensamento de Wittgenstein ou, ao menos, de algum momento dele. Todavia, a noção de fenomenologia que é usada para possibilitar essas interpretações tem sentidos que não coincidem com a fenomenologia de Husserl. Isto é possível, visto que se pode aceitar e empregar um sentido lato ou amplo do termo fenomenologia. Ademais, é factível ocorrer o reducionismo eliminativo, isto é, o risco de se admitir que a fenomenologia wittgensteiniana conteria o melhor de Husserl, exposto com maior clareza e rigor, de modo que tudo o mais pensado por Husserl não teria relevância.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Abordar a efetiva existência ou não de uma pretensa fenomenologia wittgensteiniana e sua relação com o projeto fenomenológico husserliano.
MÉTODOS:
Empreende-se uma pesquisa bibliográfica fundamentada em textos de Edmund Husserl (1962, 1990), Friedrich Waismann (1979), Hans-Johann Glock (1998), Herbert Spiegelberg (1981), Jaakko Hintikka (1975), Jaakko e Merrill Hintikka (1994), Ludwig Wittgenstein ( 1975, 1979,1994, 1996), Newton Garver (1996) e Nicholas Gier (1981).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Diversos autores já indicaram elementos fenomenológicos no período intermediário da obra de Wittgenstein. Entretanto, Jaakko e Merrill Hintikka (1994) encontram tais elementos já presentes no Tractatus, mais precisamente nos objetos. No entender dos Hintikka, o caráter fenomenológico dos objetos do Tractatus consiste no fato de eles serem objetos de conhecimento imediato ou, na linguagem russelliana, objetos de familiaridade. Os Hintikka sustentam que a linguagem original postulada no Tractatus foi fenomenológica, tendo como seus objetos os dados imediatos. A natureza fenomenológica da concepção wittgensteiniana dos objetos simples consistiria na exigência de que tais objetos devam ser dados na experiência e não postulados a priori pela lógica. Eles consideram, no entanto, que a fenomenologia constitui apenas um momento da filosofia wittgensteiniana, tendo sido abandonada no período de maturidade em favor da análise conceitual, realizada por intermédio do estudo de jogos de linguagem e de uma linguagem fisicalista, porém não mais fenomenológica. No contexto do problema da vivência privada os Hintikka explicam a superação da fenomenologia pela primazia dos jogos de linguagem que nos retiram do reino fenomenológico privado para o público.
CONCLUSÕES:
No Tractatus encontra-se uma teoria lógica limitada que não dá conta da diversidade e da riqueza dos fenômenos da linguagem. Conforme o Tractatus, haveria um primeiro sistema, constituído tanto pela simbólica de objetos como por funções de verdade e um segundo sistema, a linguagem ordinária. Wittgenstein aceitará somente o segundo. Pode-se asseverar que é superada não uma pretensa fase fenomenológica, mas a simbólica, do Tractatus, com o seu intento falho de apreensão dos fenômenos múltiplos e variados através de uma teoria única. Seria possível chamar o segundo período da filosofia de Wittgenstein, que resulta nas Investigações Filosóficas, de fenomenologia linguística, caso se quisesse referir às análises gramaticais. Contudo, esta é a filosofia das Investigações Filosóficas, não a do Tractatus. Quanto às relações entre uma alegada fenomenologia wittgensteiniana e o projeto fenomenológico husserliano, há autores que concedem que a fenomenologia husserliana é transcendental, constituindo um tipo de apriorismo forte a que Wittgenstein jamais assentiria. Supondo-se que se está diante de duas fenomenologias, uma delas seria transcendental e a outra gramatical. Husserl apontaria Wittgenstein como um pensador naturalista, não se constituindo um fenomenólogo.
Palavras-chave: Wittgenstein, Análise conceitual, Fenomenologia.