65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
Etnografia nas prisões femininas: ouvindo as mães para conhecer a situação sócioeducacional de seus filhos e filhas dentro e fora dos presídios
Carmen Lúcia Guimarães de Mattos - Profa. Dra./Orienatdora - Depto. de Estudos Aplicados ao Ensino - UERJ
Antonia Valbênia Aurélio Rosa - Mestra - UERJ
Juliana Linhares de Oliveira - Graduanda - UERJ
Flávia Mesquita Bernardo da Silva - Graduanda - UERJ
Juliana Rebelo Ferreira - Graduanda - UERJ
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho foi realizado pelo grupo de pesquisa netEDU (Núcleo de Etnografia em Educação) que é coordenado pela Doutora Carmen de Mattos e refere-se a uma pesquisa que aconteceu em três presídios femininos localizados no estado do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Através de entrevistas feitas com mulheres presas, foram analisados os vídeos produzidos para investigar a relação entre a situação dessas mulheres com o processo educacional de seus filhos. O estudo utilizou autores como Goffman (2001) e Foucault (1991), que discorrem sobre o sistema prisional, os processos de exclusão e documentos legislativos. Ao analisar a fala dessas mulheres na revisitação dos vídeos das entrevistas, foi possível encontrar três categorias que são: vulnerabilidade, intergeracionalidade e pobreza. Este trabalho se justifica pela necessidade de estudos na área e que se preocupem com a situação educacional dos filhos de mulheres encarceradas que estão na escola fora do presídio e com a garantia dos direitos básicos dos filhos e filhas destas mulheres enquanto estão nas prisões com as mães.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo do presente estudo é conhecer a situação dos filhos das mulheres dentro e fora do presídio, buscando investigar a relação existente entre a situação de privação vivida pelas mulheres e o processo educacional de seus filhos e filhas, observando quais consequências podem ser geradas tanto na educação escolar quanto na vida pessoal dos filhos e filhas das mulheres encarceradas.
MÉTODOS:
Diante da especificidade da situação das mulheres em situação de privação de liberdade e da escassez de estudos sobre esta temática, este estudo escolheu uma metodologia de pesquisa qualitativa, de abordagem etnográfica. Este tipo de abordagem propicia uma análise minuciosa dos materiais observados, assim como dá ao pesquisador a oportunidade de conhecer a situação da mulher em situação de privação de liberdade na perspectiva das próprias mulheres, o que favorece a criação de políticas públicas mais realistas e que atendam a essas sujeitas e suas necessidades. Esta metodologia baseia-se nos estudos de Erickson (1973) e Geertz (1989), onde afirmam que a qualidade do trabalho etnográfico não está no relato descritivo da situação presente, mas na importância que se dá ao relato dos sujeitos que fazem parte da pesquisa, como estes percebem a partir de si mesmo a situação em que vivem. Ao utilizar os instrumentos da etnografia, revistou-se os vídeos das entrevistas com as mulheres presas, os quais foram transcritos e a partir de então, foi possível analisar as falas e categoriza-las. As categorias foram discutidas com base em autores que discorrem sobre a temática estudada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Goffman (2001) vê a prisão como um espaço de segregação, homogeneizante, normalizador e estigmatizante. Os dados coletados confirmam a afirmação anterior, pois foi observado que as práticas presentes mostram que o espaço prisional ainda está permeado por atitudes e situações preconceituosas. As falas das mulheres entrevistadas revelam que as instalações das prisões são inadequadas: celas superlotadas, escassez de atividades educacionais, vivência de situações de humilhação, castigo e controle do corpo por parte dos agentes penitenciários. A vulnerabilidade dos filhos de mulheres encarceradas dentro e fora do presídio pode ser percebida em diferenciadas situações que tiveram relevância nas falas das mulheres entrevistadas. A questão da creche para os filhos das mulheres, as relações entre os funcionários, a família, a educação dos filhos fora da prisão, a separação entre filhos(as) e mães, são fatores que evidenciam essas vulnerabilidades. Muitas mulheres já tinham envolvimento posteriores com o crime no seu histórico familiar, a maioria relacionados aos seus companheiros. Os dados analisados revelam que a situação sócioeducacional em que vivem os filhos e filhas dessas mulheres apresentam precariedade e despreocupação por parte do próprio sistema.
CONCLUSÕES:
Este estudo mostrou a existência de uma relação entre a situação em que vivem as mulheres presas com a vida social e educacional de seus filhos, visto que suas condições como privadas de liberdades põem seus filhos e filhas em situações de vulnerabilidades, acarretando uma vida difícil, discriminatória e à margem da pobreza, influenciando até mesmo na vida escolar destes. Até mesmo os bebês que permanecem com suas mães nas prisões estão em área de vulnerabilidade, pois não lhes é garantido seus direitos básicos de sobrevivência, já que estão sentenciados à prisão junto com suas mães. Entendemos com esse estudo que essa dura realidade tem sido pouco pesquisada e discutida pela área da educação, o que provoca e convida pesquisadores e pesquisados para uma profunda reflexão e à uma mobilização acerca dos problemas enfrentados por essas mulheres que desafiam a lógica do direito humano.
Palavras-chave: Etnografia, Mulheres Presas, Filhos (as) de mulheres presas.