65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica
RELAÇÃO ENTRE APOIO SOCIAL E FUNCIONALIDADE FAMILIAR COM CONTROLE GLICÊMICO EM DIABÉTICOS TIPO 2
Aline Dantas de Sá - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Liana Luz Lima - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Divany de Brito Nascimento - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Amanda Dantas Cavalcante Ferreira - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Rilva Lopes de Sousa-Muñoz - Docente do Departamento de Medicina Interna, Centro de Ciências Médicas, UFPB.
Ângela Siqueira de Figueiredo - Docente do Departamento de Medicina Interna, Centro de Ciências Médicas, UFPB.
INTRODUÇÃO:
Questões psicossociais, tais falta de apoio social e disfuncionalidade familiar, são frequentemente negligenciadas pelos profissionais da saúde no atendimento a pacientes com doenças crônicas como o diabetes mellitus. A falta desse tipo de abordagem pode explicar muitos dos resultados clínicos insatisfatórios no seguimento dos pacientes que podem não aderir ao regime medicamentoso prescrito e apresentar sintomas de depressão, aumentando, assim, a morbidade e mortalidade pela doença. Os problemas de pesquisa deste estudo são: qual o nível de funcionalidade familiar dos pacientes diabéticos tipo 2 atendidos no ambulatório do HULW? Qual o grau de apoio social nas suas várias dimensões percebido por esses pacientes? Há presença de quadro clinicamente significativo de sintomas depressivos em tais pacientes? Há correlação entre apoio social e controle glicêmico dos pacientes incluídos? Há correlação entre o apoio social recebido e sintomas de depressão? Qual a relação entre as classes econômicas e o nível de apoio social percebido? Há relação entre os níveis glicêmicos dos pacientes e a sua classe econômica?
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar a prevalência de apoio social e a funcionalidade familiar, assim como associação destas variáveis com controle glicêmico em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) atendidos em ambulatórios de Endocrinologia do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) / Universidade Federal da Paraíba UFPB), João Pessoa, Paraíba.
MÉTODOS:
A pesquisa teve modelo observacional e transversal, realizado nos ambulatórios de endocrinologia do HULW/UFPB. Os instrumentos utilizados na coleta de dados da pesquisa foram o Medical Outcomes Study (MOS), a Escala de Depressão Geriátrica na versão curta com 15 itens (EDG-15), o A.P.G.A.R. de Família (funcionalidade familiar) e o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB). Aplicou-se também um formulário para coleta de dados demográficos (idade, sexo, estado civil, procedência) e clínicos dos pacientes (duração do acompanhamento no HULW, duração do diagnóstico de DM, tratamento e duração). O controle glicêmico dos pacientes foi realizado através de glicemia capilar verificada imediatamente antes da consulta no ambulatório, quando também foram aplicados os instrumentos da pesquisa. Registraram-se também os valores das últimas glicemias venosas e hemoglobinas glicosiladas encontradas nos prontuários dos pacientes. Considerou-se adequado o nível de glicemia capilar igual ou menor que 200 mg/dL, de acordo com a American Diabetes Association (ADA) 2011.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram incluídos 100 pacientes com média de idade de 56,7 ± 10 anos, 74% do sexo feminino, 63% casados, das classes C1 (35%), C2 (24%), D e B2 (18% cada), B1 (4%) e E (1%). A duração média do diagnóstico de DM2 foi de 8,8 ± 6,8 anos. Verificou-se uma média de 4,8 (± 6,22) anos de acompanhamento no HULW, 17 eram pacientes de primeira consulta. Observou-se que 54% apresentavam controle glicêmico adequado. A média glicêmica capilar foi de 215,7 ± 100,1 mg/dL. Os valores médios das cinco dimensões da MOS (apoio social) foram inferiores ao ponto médio das subescalas (50%), o apoio material percebido teve valores superiores aos das demais dimensões, enquanto apoio afetivo, os menores valores. Não houve diferença significativa nestes escores e os da EDG-15 entre os pacientes com hiperglicemia capilar em relação aos considerados controlados (p=NS). Observou-se que 27% relataram disfunção familiar, 14% grave. Não se verificou correlação entre controle glicêmico e funcionalidade familiar. Houve relação entre esta e idade (p=0,038) e também com sintomas depressivos (p=0,0001). Os níveis de glicemia capilar foram maiores nas classes econômicas mais baixas (p=0,028), enquanto os valores de glicemia venosa e hemoglobina glicosilada não diferiram.
CONCLUSÕES:
Houve associação entre funcionalidade familiar e sintomatologia depressiva e correlação positiva entre esta e glicemia capilar. Os níveis de glicemia foram significativamente maiores nas classes econômicas mais desfavoráveis. Não houve diferença no apoio social percebido entre os pacientes com hiperglicemia capilar e os considerados controlados. Estes resultados têm implicações para a prática clínica considerando que o ambiente familiar, a presença de sintomas depressivos e a classe econômica desfavorável devem ser levados em consideração para a obtenção de intervenções mais efetivas dos profissionais de saúde no atendimento aos pacientes diabéticos atendidos ambulatorialmente.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus tipo 2, Relações Familiares, Depressão.