65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
O ESTIGMA DE SER UM ALCOOLISTA: UM ESTUDO SOBRE AS MULHERES DO GRUPO AA (ALCOÓLICOS ANÔNIMOS)
Magda Cristina Mariz Meira - Depto.Ciências Sociais- UFRPE.
Maria Grazia Cribari Cardoso - Profa.Dra./Orientadora- Depto. Ciências Sociais- UFRPE.
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho visa entender como as mulheres constroem suas representações sociais sobre o uso abusivo de bebidas alcoólicas, baseados em um sistema de acusações e na lógica de gênero. Assim esta pesquisa espera aprofundar os estudos sobre os significados criados pela sociedade sobre a dependência alcoólica.
Ao analisarmos o trabalho em questão, temos que considerar alguns conceitos primordiais: as representações sociais, estigma e gênero. No âmbito social, conforme Durkheim (2007), as representações são conjuntos de crenças, valores caracterizados pelas maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo e que são dotados de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. De acordo com Arruda (apud Jodelet, 2002) as representações são formas de conhecimentos socialmente elaborado e compartilhado com objetivo prático e que contribui para a construção de uma realidade comum. Já o estigma, segundo Goffman( 1988), é formado a partir de uma ideologia para explicar a inferioridade das pessoas e dar conta do perigo que elas representam. O gênero, conforme Costa (apud Scott, 2003) excede a questão da relação homens e mulheres, servindo para visibilizar processos culturais complexos e relações de poder.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Entender como são construídas as representações sociais e o estigma sobre as integrantes do grupo AA (Alcoólicos Anônimos) Ressurreição no município de Olinda- PE.
MÉTODOS:
As mulheres entrevistadas tiveram os seus nomes trocados, como forma de preservar o sigilo das informações e o anonimato do grupo. As integrantes possuem idade entre 40 e 58 anos. Foram entrevistadas 6 mulheres: 3 são solteiras, 1 é viúva e 2 são casadas.Dentre as profissões, haviam empregada doméstica, recepcionista e telefonista.A faixa etária de iniciação do uso de bebidas alcoólicas varia de 11 aos 25 anos.A idade pela qual se identificaram como dependentes de álcool está entre 28 e 46 anos.O período de ingresso no grupo AA Ressurreição: 6 meses a 10 anos.A pesquisa de campo, as entrevistas e os questionários aconteceram nos dias 5 e 19 de maio de 2011, com duração de 40 minutos, sendo dividida em duas etapas: observação dos depoimentos das participantes e realização de entrevistas. Acrescenta-se ao trabalho de campo a participação da pesquisadora em 6 encontros anteriores com o grupo estudado.A metodologia empregada baseou-se na pesquisa qualitativa, o método foi o hermenêutico- dialético, a observação participante; de cunho superficial, questionários abertos e fechados e entrevistas por pauta. Sobre os documentos, utilizaram-se informações do site oficial de AA acessado em 10 de abril de 2011, para corroborar a pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Ao analisarmos os resultados da pesquisa, compreendemos que o alcoolismo é uma doença que possui causas externas, ou seja, fora das atitudes pessoais. As mulheres foram coagidas pelas opiniões de amigos, familiares ou por problemas de ordem social a iniciarem o consumo de bebidas alcoólicas de modo socializante. O ato social de beber será alvo de padrões de comportamento (beber com moderação, beber sem fazer brigas), a fim de que elas cumprissem as normas estabelecidas por estas representações sociais. Caso, não adotassem esses procedimentos, seriam vítimas de punições informais, como Durkheim (2007) classifica por ofensas públicas e Goffman (1988) destaca por estigmas. Estes estereótipos fazem menção aos termos “alcoólatra” e “bêbada”, sinônimos de irresponsabilidade e imoralidade. Em um dos pontos do questionário, procuramos compreender em que lugares as entrevistadas começaram a ingerir álcool: duas mulheres responderam que consumiam bebidas alcoólicas em suas próprias residências e seis falaram que bebiam fora de casa. Isso ratifica que a dependência alcoólica não é apenas um ato construído pela influência social, mas também é uma atitude subjetiva, pois envolve o sentimento de solidão e o caráter simbólico e cultural, significando autoproteção e a fuga do preconceito.
CONCLUSÕES:
O nosso objetivo foi analisar as representações sociais construídas sobre o uso abusivo de álcool entre as mulheres integrantes do Grupo AA Ressurreição. Conforme as participantes, a ingestão demasiada de bebidas alcoólicas promoverá um sistema de acusações, baseado no rompimento de normas sociais estabelecidas pelos indivíduos. A fim de explicar está rede de significados, propomos três conceitos: representações, estigma e gênero. As representações sociais, conforme Durhkeim (2007) são formadas por crenças, hábitos e costumes criados por um poder coercitivo, vindo do externo, que manipulará todas as condutas dos sujeitos. As representações psicossociais, segundo Arruda (apud Moscovici 2002), entendem que os sujeitos terão a capacidade de construir as suas próprias realidades. Já o estigma está condicionado pela fixação de um padrão comportamental a ser aceito pelas sociedades. Caso, as pessoas não se assemelhem aos modos de agir dos normais ou quebrem alguma norma, elas serão pejorativamente denominadas de estigmatizadas. O último conceito enfatiza o gênero feminino, estudado de acordo com Costa (2003) como sendo um elemento mediador entre o simbólico (a mulher caracterizada por “alcoólatra” “ bêbada”) e o material( o ato social de beber).
Palavras-chave: Atributo, Representações Sociais e Psicossociais, Gênero Feminino.