65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental
Estudo de impactos ambientais em mananciais por resíduo da mandioca (manipueira) visando o desenvolvimento sustentável e preservação do ambiente aquático do semiárido alagoano.
Wander Gustavo Botero - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
Amanda Paulina Bezerra da Silva - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
INTRODUÇÃO:
De maneira geral, após serem aportados no ambiente aquático, os contaminantes podem ficar livres ou serem complexados pelas substâncias húmicas aquáticas (SHA), as quais constituem a principal fração da matéria orgânica natural no ambiente. Quando permanecem na forma livre, contaminantes são passíveis de serem absorvidos pela fauna e flora aquática e atingindo a cadeia alimentar humana, causando impactos ambientais. Desta forma, estudos da (bio)disponibilidade e capacidade máxima de complexação dos contaminantes pelas SHA são importantes para entender o processo e a dinâmica dos contaminantes lançados nos corpos d’água (Rocha & Rosa, 2003). No estado de Alagoas não existe um programa de monitoramento do impacto ambiental causado por este tipo de resíduo em corpos d’água, tampouco estudos que busquem o uso sustentável e/ou descarte adequado da manipueira no ambiente. Como a maioria das casas de farinha não possui destino adequado para este resíduo e seu descarte é feito em corpos d’água, a existência dessas atividades com potencial poluidor na região demandam estudos e ações sistemáticas que forneçam subsídios para o planejamento e desenvolvimento de mecanismos locais de gestão. O fato de a manipueira ser altamente tóxica e poluente implica que a mesma ao ser descartada nos corpos aquáticos causa uma diminuição na quantidade de gás oxigênio disponível no meio, prejudicando muitos organismos que dependem do meio para sobreviver.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo principal do Projeto será estudar o impacto ambiental em corpos d’água dos resíduos gerados nas casas de farinha; avaliar o uso sustentável deste resíduo proporcionando subsídios para aproveitamento deste sem causar danos ao ambiente; estudar as interações entre as substâncias húmicas aquáticas e cianeto presente neste contaminante e oferecer cursos de educação ambiental as comunidades.
MÉTODOS:
As casas de farinha que participam da APL da mandioca do agreste alagoano foram visitadas e foi verificado que quatro delas, lançam no ambiente aquático o resíduo gerado (manipueira). As amostras de manipueira foram coletadas em Novembro/Dezembro de 2011(verão) e Junho/Julho de 2012 (inverno) imediatamente após serem extraídas em prensa e foram conservadas em frascos âmbar previamente descontaminados. As amostras de águas superficiais foram coletadas em Novembro/Dezembro de 2011, em corpos d´água próximos às casas de farinha, à Jusante (J) e Montante(M) do lançamento dos resíduos de manipueira, em frascos âmbar previamente descontaminados em banho com solução de ácido nítrico diluído e no local de amostragem foram lavados consecutivamente três vezes com água do próprio manancial. Após a coleta, as amostras foram filtradas em membranas de 0,45 µm e conservadas em frasco âmbar a 4ºC. As amostras de águas foram preparadas em triplicata, utilizando-se chapa de aquecimento. Foram transferidos para béquer forma alta 50,00 mL da amostra e adicionou-se 5,00 mL de ácido nítrico concentrado, sob aquecimento a 80ºC até que o volume fosse reduzido a aproximadamente 20,00 mL sob refluxo. Após a digestão, transferiu-se a amostra para balão volumétrico de 50,00 mL, completando-se o seu volume com água destilada As análises físico-químicas foram feitas com base nos parâmetros estabelecidos pela legislação CONAMA 357/2005, a fim de avaliar a qualidade das amostras de água coletadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
No processo de fabricação da farinha de mandioca em casas de farinha localizadas na região do semi-árido alagoano, o resíduo líquido gerado (manipueira) é muita vezes lançado diretamente em corpos d´água próximo às casas de farinha. Com isso, foram determinadas as características físico-químicas de quatro corpos d´água do agreste, a fim de avaliar possíveis impactos causados pelo lançamento desses resíduos, buscando a preservação desses corpos d´água. Os resultados das análises físico-químicas das amostras de águas superficiais coletados à montante e a jusante dos lançamentos de manipueira são: Casa de Farinha A: 0,15 e 0,25, Casa de Farinha B:0,09 e 0,13, Casa de Farinha C:0,09 e 0,11 e Casa de Farinha D: 0,12 e 0,19 a montante e a jusante respectivamente, lembrando que de acordo com a legislação (CONAMA 357/2005) os valores máximos permitidos são de 0,005 mg L-1. A presença de cianeto em águas tem influência direta sobre a atividade biológica dos ecossistemas. Os resultados obtidos, mostram que, para todas as amostras de águas superficiais analisadas, os teores de cianeto livre estão superiores àqueles estabelecidos pela legislação. Nos corpos d´água analisados, ocorre o lançamento direto de manipueira, sendo responsável pelas elevadas concentração dessa espécie nas amostras. Em todas as amostras analisadas, as concentrações de cianeto livre foram maiores à jusante do lançamento de resíduo, o que evidencia a contribuição da manipueira para as concentrações determinadas.
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos neste trabalho mostraram que os corpos d´água do semiárido alagoano que recebe aporte de manipueira apresentam, para a maioria dos parâmetros analisados, descordância com a legislação em relação ao cianeto encontrado na manipueira lançada nos corpos d’água, entretanto é imprescindível o estudo de meios que busquem diminuir ou até mesmo impedir o lançamento de manipueira nos corpos d´água. Assim, esses estudos e ações colaboram para a manutenção dos padrões adequados de qualidade ambiental dos corpos d’água e possibilitam estudos para a diminuição do impacto causado pela manipueira. Neste contexto é de fundamental importância oferecer às comunidades envolvidas, informações quanto ao uso sustentável dos recursos naturais e a necessidade de preservação.
Palavras-chave: Substâncias Húmicas, Extração, Caracterização.