65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
QUANDO A MARÉ ENCHER: CIÊNCIA A FAVOR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Will Bezerra - Espaço Ciência - (wbzra@hotmail.com)
Edilena Albuquerque Vieira - Espaço Ciência
Marcela Estanislau Marinho - Espaço Ciência
Antonio Carlos Pavão - Prof. Dr./ Orientador - UFPE / Espaço Ciência
INTRODUÇÃO:
Em Recife e Olinda, duas das mais importantes cidades do Estado de Pernambuco e cortadas por dois importantes rios, o Capibaribe e o Beberibe, observa-se uma situação inusitada: a utilização dos canais como área de lazer por parte de jovens de comunidades carentes. Em locais mais afastados do centro, onde o poder público brasileiro costuma oferecer opções de lazer gratuito para diminuir ou até mesmo extinguir a exclusão social dos jovens moradores de comunidades de baixa renda, observa-se em algumas áreas das duas cidades a inexistência de espaços públicos que contemplem algumas modalidades esportivas importantes para o desenvolvimento saudável e iniciação a alguns esportes, tais como a natação. A improvisação de áreas de lazer expõe os jovens a diversos riscos e no caso da natação realizada em canais, que pode ser observada em época de maré mais cheia, como ficou registrado na letra da música de Chico Science & Nação Zumbi, esses riscos podem ser potencializados. Por mero desconhecimento de tais riscos, talvez pela falta de acesso à informação, a prática continua. Trazer ao conhecimento científico alguns desses riscos envolvidos na diversão pode transformar essa realidade e aproximar jovens em condições de vulnerabilidade da ciência a partir do cotidiano que eles vivenciam.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Utilizar o conhecimento científico por meio de análises técnicas, estudos aprofundados das teorias e relatos de experiências para a conscientizar jovens sobre os riscos inerentes à práticas esportivas, especialmente da natação, em locais inadequados.
MÉTODOS:
Todo o trabalho foi baseado em três eixos: coleta de relatos e experiências, análise técnica da qualidade da água utilizada na área de lazer improvisada e pesquisa bibliográfica sobre ambientes naturais locais. Os relatos e experiências servem para investigar os riscos a que eles estão expostos, quais sejam doenças ou ferimentos. A coleta foi feita em maré alta e a análise feita no Laboratório de Química Analítica do ITEP (Instituto de Tecnologia de Pernambuco). Os resultados trazem a esses jovens uma nova dimensão desses riscos, do ponto de vista da ciência, onde eles tiveram acesso a resultados de uma análise realizada em laboratório especializado para tentar descobrir riscos aos quais estavam alheios antes da participação no projeto. Por fim, a pesquisa bibliográfica sobre os ambientes naturais locais aborda a situação atual de conservação desses ambientes, dando um novo valor a eles e mostrando a importância de manter as poucas áreas naturais remanescentes em situação de conservação a partir de medidas simples que qualquer cidadão pode tomar. Fechando os três módulos (vivências, pesquisa científica e bibliográfica), foi feita uma roda de discussão, onde os jovens participantes verificaram, sob um novo olhar, os impactos causados pela população em um determinado ambiente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os relatos envolvem riscos de afogamento ou de ferimento por parte do lixo no fundo do canal e em suas margens. Curiosamente, nenhum dos jovens relatou a percepção de qualquer sintoma de infecção que pudessem associar ao lazer. Seria necessário realizar exames clínicos mais detalhados em alguns dos jovens para aprofundar mais o tema. A porção final do canal possui influência direta da maré. Os jovens procuram os horários em que a maré está mais alta para praticarem a natação naquela área, devido ao aumento temporário da profundidade do local. A análise da água mostrou contaminação muito alta (2,8x107 UFC/mL para bactérias heterotróficas). Foi revelada presença de coliformes fecais e totais indicando a contaminação por esgoto. Há frequente ingestão da água, mas não há relato de sintomas relacionados a isso. Por serem coliformes que podem causar diarreia em caso de infecção, os sintomas associados a essa ingestão podem não ter sido relatados por esquecimento ou supressão de informação. Todos os dados da análise foram apresentados e discutidos com os jovens. A pesquisa bibliográfica sobre os ambientes locais mostrou a situação em que se encontram as corpos d’água em Recife e Olinda e serviu como um alerta importante para a preservação do meio ambiente.
CONCLUSÕES:
O projeto serviu como uma ponte entre o conhecimento científico e o cotidiano de jovens moradores de comunidades de baixa renda do entorno do museu de ciências Espaço Ciência, que utilizam formas alternativas de lazer, alheios aos riscos aos quais estão expostos. Dessa forma, a educação ambiental tomou uma nova dimensão, não apenas no tocante à conservação do ambiente, mas na utilização do mesmo como área de lazer de forma responsável e na constatação de que cada vez mais áreas adequadas estão desaparecendo dos ambientes urbanos. A utilização da pesquisa como uma ferramenta de inclusão torna-se eficaz, pois os jovens entendem que sem a ciência estão mais vulneráveis a riscos e que com ela ainda é possível contribuir de forma simples para a manutenção de ambientes naturais, importantes fontes gratuitas de lazer e entretenimento. O foco na juventude faz-se necessário para que tornem-se agentes multiplicadores e para que desde cedo percebam que possuem as ferramentas que podem tanto ajudar a preservar como a destruir os ambientes naturais.
Palavras-chave: educação ambiental, ciência, divulgação científica.