65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
A verticalização da Paisagem em Recife e os Sentidos da Habitação em Edifícios
Clara Torres Peres - Departamento de Arquitetura e Urbanismo - UFPE / FUNDAJ
Allan Rodrigo Arantes Monteiro - Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (CEHIBRA) - FUNDAJ
INTRODUÇÃO:
A cidade do Recife, atualmente, é considerada a terceira cidade do país mais verticalizada e uma das trinta no ranking mundial. A situação da cidade hoje é de intenso adensamento populacional em muitas áreas. Esse processo além de transformar bruscamente a paisagem, sobrecarrega a capacidade de carga urbana, afeta a dinâmica e os padrões de vida dos cidadãos, assim como a maneira em que se relacionam com o espaço urbano. Nesse sentido, interessa a pesquisa, compreender alguns aspectos das transformações históricas, culturais e simbólicas ligadas à dinâmica urbana e ao modo de vida de seus habitantes, o que inclui as mudanças de mentalidade sobre as experiências de habitação, percepção e interação com o espaço físico e social da cidade. Nesse aspecto, o fenômeno da verticalização, ligado à habitação, descreve um processo que vai desde a rejeição às habitações multifamiliares, no início do século passado, até sua completa aceitação, o que a consolidou como a alternativa de moradia que melhor se adéqua aos valores, anseios e medos dos tempos atuais. Há que se destacar nesse processo de paulatina aceitação a importância da associação feita entre o edifício alto e a imagem do progresso e da modernidade, conforme se observa ao longo do período entre 1930 a 1960.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O projeto consiste na investigação das transformações históricas, culturais e simbólicas ligadas ao processo de verticalização da paisagem do Recife, a partir do século XX. O principal objetivo é compreender qual era o discurso vinculado à imagem dos edifícios nas décadas de 1950 e 1960. Nesse sentido a análise de anúncios de edifícios em jornais constituiu a principal fonte para a pesquisa.
MÉTODOS:
O procedimento metodológico empregado na pesquisa consiste na consulta de jornais das décadas de 1950 e 1960. Esse período é justificado por ser quando começa a aparecer, em maior quantidade, anúncios de edifícios nos jornais da cidade O foco dessas consultas foram os anúncios de edifícios de apartamentos ou matérias sobre esse tipo de habitação na cidade do Recife. O jornal consultado foi o Diário de Pernambuco e o principal objetivo desse levantamento foi encontrar pistas acerca do fenômeno da verticalização na cidade, bem como as estratégias utilizadas nos anúncios publicitários de modo a compreender qual era o discurso vinculado à imagem dos edifícios no período. A maior parte das fontes utilizadas pertence ao acervo do Núcleo de Microfilmagem e Digitalização da Fundação Joaquim Nabuco. A partir das consultas, foi elaborado um banco de dados com os registros (imagens digitalizadas) mais significativos para o objetivo da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir do século XX, uma série de reformas urbanas aconteceu em várias cidades do Brasil, inclusive no Recife. Com o intuito de higienizar e modernizar a cidade desenvolveu-se o Plano de Remodelação do Bairro de Santo Antônio, sobretudo da Avenida 10 de Novembro, atual Avenida Guararapes. Esse Plano de 1936 previa a abertura de uma avenida com grandes proporções. Os primeiros “arranha-céus” da cidade, surgiram nessa nova área e constituíram um emblemático conjunto arquitetônico pra época. É nessa atmosfera que os edifícios aparecem e são associados ao progresso e a modernidade. Entre as décadas de 1950 e 1960, vários anúncios de jornais associam frequentemente os edifícios da Avenida 10 de novembro ao símbolo do progresso. Essa ideia, além de ser evidente nos anúncios publicitários de edifícios, foi bastante ressaltada pelas empresas de engenharia que construíam os edifícios. Seus anúncios enfatizavam a modernidade da capital, seja por meio de slogns como “Acompanhe o progresso da sua cidade”, ou ao comparar a Avenida 10 de Novembro como sendo a “Wall Street pernambucana”. A pesquisa em questão analisa e expõe esses discursos e imagens encontradas nos jornais da época, que evidenciam a imagem simbólica aos quais os edifícios eram associados.
CONCLUSÕES:
Pode-se concluir que o edifício, para se consolidar como habitação ideal, como é tida atualmente, passou por uma série de momentos que refletem concepções e mentalidades de cada época a respeito da paisagem e da relação dos habitantes com o espaço da cidade. Os grandes edifícios surgem na cidade, envolvidos pela carga simbólica da modernidade e do progresso. Como locais de moradia, aparentemente, foram apenas a partir da década de 1960 que passaram a se tornar solução comumente aceita pela sociedade. Nesse processo no qual se desenvolveu o fenômeno da verticalização, vários momentos e arcabouços simbólicos são evidenciados e associados à imagem do edifício ao longo do século XX. O entendimento desses momentos em que a cidade e os cidadãos se relacionam com os edifícios, seja ele de apartamentos ou não, são muito importantes para a compreensão mais abrangente do cenário atual da cidade do Recife e do modo de vida de seus habitantes.
Palavras-chave: Verticalização, Recife, Progresso.