65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
NARRATIVAS SERTANEJAS: MEMÓRIA DAS SECAS NO ALTO OESTE POTIGUAR
Giovanni Sampaio Queiroz - Curso Técnico em Alimentos - IFRN
Natalia Cristina Feitoza - Curso Técnico em Alimentos - IFRN
Ana Cristina Pereira Lima - Profa. Ms. / Orientadora - IFRN
INTRODUÇÃO:
Os problemas de escassez de água marcam vários períodos do cotidiano dos moradores do alto oeste do Rio Grande do Norte. Considerando importante discutir sobre as formas de enfrentar esse problema, buscamos analisar os sentidos dados por diferentes sujeitos às ações coletivas e corriqueiras de amenizar a falta d’ água. A partir da construção de fontes orais – relatos de alguns moradores idosos sobre “secas” anteriores – é possível entender como o fenômeno da seca está presente na memória coletiva.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar as narrativas de diferentes sujeitos com relação à seca enquanto fenômeno social, discutindo sobre memórias e estruturas de sentimentos presentes nas formas de narrar os períodos de escassez de água por moradores do Alto Oeste Potiguar, estudando também as experiências de trabalho, traços de religiosidade e formas coletivas de enfrentar os períodos de estiagem nessa região.
MÉTODOS:
Ao longo do trabalho foram efetuadas pesquisas em jornais e revistas que forneceram dados necessários para o entendimento da problemática da seca na região do Alto Oeste Potiguar.
Foram realizadas entrevistas com moradores idosos da região, que sofreram com as estiagens da segunda metade do século XX, relatos que ajudaram a compreender as dificuldades enfrentadas nesses períodos, como também analisar o modo de como se deu a sobrevivência no local, discutindo formas de driblar a escassez de água e maneiras coletivas de lidar com a seca.
A pesquisa bibliográfica foi efetuada por meio de uma seleção de textos e artigos científicos, seguidos de leituras das obras e posterior discussão dos mesmos, em conjunto com a orientadora do projeto, em reuniões semanais. Dessa forma foram também realizadas transcrições das entrevistas, sendo analisadas a partir da bibliografia de referência sobre memória, seca e cotidiano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa mostrou que as sucessivas secas na região do Alto Oeste potiguar marcaram a memória dos moradores, que narraram experiências, sentimentos e percepções em comum, revelando traços de um imaginário coletivo. Tomando as narrativas dos sertanejos entrevistados como fonte sobre a história da seca na região, foi possível perceber que a seca tem diferentes significados, que vão além das notícias dos jornais e das previsões meteorológicas. À medida que vão se confirmando os baixos índices de chuva, a população local relembra experiências anteriores que trazem ao momento presente certa ansiedade e temor. Nas narrativas também aparecem com frequência formas simbólicas de lidar com a falta d’ água, como os apelos religiosos e a fé externada em orações coletivas, romarias e promessas.
A pesquisa tem como pressuposto teórico-metodológico os estudos de história cultural, permitindo uma análise das percepções dos indivíduos, de seus valores e aspirações. (PESAVENTO, 2005)
As narrativas são marcadas por momentos trágicos, como a morte de familiares e tentativas frustradas de obtenção de água através de poços e açudes. Por outro lado, é perceptível que essas memórias tornam-se uma espécie de registro de superação do problema enfrentado, um título de herói.
CONCLUSÕES:
Após serem ouvidos os relatos e analisadas as marcas da seca na memória e nos gestos das pessoas, é notório que essa vivência histórica carrega muitos significados, problemas muito além dos descritos pela mídia, tendo em vista que esses meios de informação tendem a mostrar a seca apenas como um problema socioeconômico. Porém, as entrevistas evidenciaram que o dilema vivenciado pelos sertanejos durante as seca é algo que envolve saberes, religiosidade e conflitos no que diz respeito às formas de sobrevivência nesses períodos.
Palavras-chave: Estiagem, Experiência, Semiárido.