65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 8. Demografia - 6. Política Pública e População
CASO PIETRA – OS BENEFICIOS DO TRABALHO EM REDE
Claudineia Alexandrina Moreira - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – UFMG
Claudia Viana Gomes - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – UFMG
Luiz Eduardo Gouvêa - Faculdade de Direito – UFMG
Bruna Martins Andrade - Faculdade de Direito – UFMG
Ana Luísa Mota Ribeiro - Faculdade de Direito – UFMG
André Luiz Freitas Dias - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Psicologia - UFMG
INTRODUÇÃO:
Pólos de Cidadania é um programa de pesquisa e extensão da Faculdade de Direito da UFMG que atua em regiões com altos índices de vulnerabilidade social, na tentativa de defesa e promoção da cidadania, subjetividade e emancipação social. O Programa mantém núcleos de atendimento em aglomerados de Belo Horizonte, compostos por equipes interdisciplinares que, por meio da metodologia da mediação interindividual e comunitária de conflitos, trabalham pela efetivação dos direitos humanos. No núcleo localizado no Aglomerado Santa Lúcia presta-se serviços de orientação no âmbito formal ou jurídico, bem como a mediação, que representa uma forma extrajudicial de resolução de conflitos.o que demanda uma especial atenção à dimensão psicossocial e ao trabalho desenvolvido em rede. Esses casos costumam exigir uma articulação que englobe diversas instituições. O presente trabalho apresentará um caso emblemático que se iniciou em maio de 2010, que foi trazido por uma vizinha, sensibilizada com a situação, que atenta á dignidade da pessoa humana. Dona Pietra vive na comunidade em um ambiente insalubre, sem iluminação, circulação de ar e convivendo com ratos, o que contribui para o agravamento de seus problemas de saúde, além de passar por uma situação de abandono familiar.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A ação do Pólos visa à criação de uma rede de cooperação entre diversas instituições, locais e externas, no intuito de garantir condições de vida digna à Pietra, respeitando suas escolhas e alcançando uma solução mais adequada para o a questão. Ressalta-se que o caso coloca em cheque a capacidade de articulação e trabalho em rede das instituições que atuam com populações vulneráveis.
MÉTODOS:
A metodologia utilizada pelo Pólos na solução das demandas que se apresentam no núcleo é a mediação de conflitos e a constituição de capital social com a ampliação do trabalho em rede. Além disso, o fortalecimento do capital social em determinada comunidade possibilita a diminuição da violência intra e extrafamiliar e a emancipação dessas populações, porque transforma um conflito aparentemente individual em coletivo, o que aumenta o diálogo, levando a novas soluções. O conceito de mediação utilizado pelo Polos privilegia a autonomia das partes, que chegam a um consenso debatendo e deliberando sobre seus próprios interesses e vontades. O mediador conduz o processo de mediação sem impor sua própria vontade, ele tem o papel de conduzir a mediação de modo que que as partes sejam ouvidas e para que o procedimento seja democrático. O nosso trabalho congrega essas duas metodologias, a da mediação e do fortalecimento de rede, para a construção da emancipação de sujeitos em situação de grande vulnerabilidade social.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Desde o início do Caso Pietra, várias ações foram realizadas no sentido de garantir a melhoria na sua condição de vida. Em um primeiro momento, foi realizada uma conversa com dois vizinhos, que ficaram responsáveis por garantir a alimentação e a segurança da atendida. Paralelo a essa ação, as entidades comprometidas tentaram envolver os familiares de Pietra para que os mesmos se responsabilizassem por seu cuidado. Essa iniciativa culminou com um encontro que foi promovido entre Pietra e sua mãe, que não se viam há dez anos. Frente à grande sensibilização familiar, a atendida foi viver com sua mãe. Contudo essa solução não se mostrou adequada, visto que Pietra não se adaptou ao novo modo de vida e retornou para sua antiga residência. Isso demonstra que uma ação para ser efetiva precisa respeitar a autonomia do indivíduo. Tendo em vista a vontade de Pietra de permanecer em sua casa, a rede que se formou com outras entidades, como o CRAS, o posto de saúde e outras entidades privadas, como a Sociedade São Vicente de Paulo, para a solução do caso resolveu se mobilizar para melhorar a moradia de Pietra. Conseguimos financiamento para a reforma de sua casa e que sua irmã a acolhesse durante o período da reforma. Finalizados os reparos Pietra pode voltar para sua casa.
CONCLUSÕES:
A partir desse caso podemos concluir que o trabalho em rede é fundamental para a construção da emancipação do indivíduo, uma vez que permite a outras entidades articularem em um processo coletivo, privilegiando a alteridade dessas entidades. Além disso, o respeito dado a Pietra, permitindo que ela atuasse ativamente nesse processo, também foi fundamental para a construção da emancipação da mesma.
Palavras-chave: Saude Mental, Trabalho em rede, Mediação.