65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
ANÁLISE DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA EXTERNA PARA O CONTEÚDO DE REAÇÕES ORGÂNICAS
Priscila do Nascimento Silva - Depto. de Química - UFRPE
Larissa de Oliveira Souza - Depto. de Química - UFRPE
Andreza Cristiane Custódio - Depto. de Química - UFRPE
José Euzébio Simões Neto - Prof. Me./Orientador - Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UFRPE
INTRODUÇÃO:
Um dos principais objetivos da escola é sistematizar o conhecimento, ou seja, transformar o saber científico (savoir), em saber a ser ensinado (savoir à ensigner - aquele trabalhado nas escolas), de forma que possibilite a aprendizagem do aluno. A passagem do saber científico para o saber a ser ensinado é realizada por uma instituição invisível, denominada por Chevallard (1991) como noosfera, que é responsável por envolver a comunidade na análise do que deve ser ensinado na escola. Brito Menezes (2006) afirma que esta é composta por didatas, professores, pedagogos, técnicos de instituições do Governo que geram o ensino. Estes organizam e produzem os programas, currículos e livros didáticos, que possuem o papel de normatizar o que será ensinado, característica da primeira etapa da transposição didática externa, e que se utiliza de processos que fazem do livro um instrumento regulador representante das instituições que geram o ensino (BRITO MENEZES, 2006). Devido os alunos do Ensino Médio de um modo geral sentirem muitas dificuldades na aprendizagem de conteúdos relacionados a química, essa pesquisa se torna relevante por apontar muitas falhas decorrentes da tranposição didática externa nos conteúdos de Reações Orgânicas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar o processo de transposição didática externa do conteúdo programático de reações orgânicas utilizando livros didáticos de química.
MÉTODOS:
O instrumento de pesquisa elaborado consistiu da análise comparativa do conteúdo de reações orgânicas nos livros de Ensino Médio e um livro de Ensino Superior. Fizemos uma leitura detalhada visando identificar deformações quanto à transposição didática externa, a saber: momentos de supressões, acréscimos e criações didáticas, que podem ajudar ou prejudicar (dependendo da maneira como estão dispostos) a construção do conhecimento por parte do alunado. Escolhemos como amostra cinco livros didáticos do Ensino Médio amplamente utilizados em escolas públicas e particulares do Brasil, e, para fins de comparação, o livro didático do Ensino Superior Química Orgânica, de Solomons e Fruhle, em sua sétima edição (2001).
Os livros do Ensino Superior são produtos de uma transposição didática, pois o saber se encontra didatizado, bem como nos livros do Ensino Médio. No entanto, esse processo de transposição é mais fiel ao saber científico em questão, validando o método comparativo sugerido em nossa metodologia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise comparativa dos livros de Ensino Médio com o do Ensino Superior revela problemas na transposição didática externa, principalmente com relação a supressões. Nos livros analisados encontramos a preocupação de mostrar na introdução do conteúdo aplicações no cotidiano, mas não abordam os aspectos históricos que ajudariam na compreensão por parte dos alunos, que teriam a oportunidade de conhecer o contexto histórico da origem daqueles conceitos, como fundamento para uma compreensão de outros mais complexos.
Observamos algumas adaptações quanto à linguagem tentando viabilizar uma mais fácil compreensão e apropriação desses conceitos por parte dos seus leitores, no entanto muitos desses conceitos são deveras resumido, repletos de supressões e criações didáticas que entendemos ser prejudiciais na formação conceitual desses alunos.
No livro do Ensino Superior encontramos uma abordagem abrangente quanto aos tipos de reações orgânicas existentes. Ao compararmos com os livros de Ensino Médio, observamos a omissão de duas categorias de reações, a saber: Reações de eliminação ou rearranjo, exceção feita apenas do livro (6), os demais livros de Ensino Médio classificam e definem apenas as reações de adição e substituição, onde são consideradas pelos seus autores como de maior importância.
CONCLUSÕES:
A transposição didática externa de reações orgânicas resultou em abordagens muito simplificadas nos livros didáticos,gerando lacunas que poderão impedir a construção mais abrangente dos conceitos e criar barreiras para a aprendizagem de novos. Outro problema encontrado é com relação à linguagem, pois entendemos que ela deve ser compreensível, devido a fatores como faixa etária, nível de desenvolvimento e abstração do conhecimento, contudo deve-se tomar cuidado para não denegrir integralmente o sentido dos conteúdos, eles serão utilizados mais na frente e precisam ser compreendidos da maneira correta, visando evitar uma maior dificuldade na reorganização do conhecimento aprendido.
O processo de transposição didática do conteúdo de reações orgânicas nos mostrou muitas supressões, mais do que qualquer outra modificação no saber. Regras que poderiam ser abordadas pelos autores, nem que de maneira simplificada foram encontradas nos livros didáticos do Ensino Médio. Reações como a regra anti-markovnikov que ao menos foi citada pelos autores e algumas reações orgânicas também foram omitidas abrindo uma lacuna gerando algumas incompreensões ao estudá-los.
Palavras-chave: Transposição Didática, Livros Didáticos, Reações Orgânicas.