65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DE DUAS ESPÉCIES DE GASTRÓPODES Pomacea bridgesi (REEVE, 1856) E Pomacea lineata (SPIX, 1827) EM PROCESSO DE INDUÇÃO A ESTIVAÇÃO.
André Lucas Corrêa de Andrade - Depto. de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) – UFRPE
Priscila Rafaela Leão Soares - Depto. de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) – UFRPE
Danilo Martim Fonseca Oliveira - Depto. de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) – UFRPE
Maria Adélia Borstelmann de Oliveira - Profa. Dra. do Depto. de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) – UFRPE
Pabyton Gonçalves Cadena - Prof. Dr./Orientador do Depto. de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) – UFRPE
INTRODUÇÃO:
As espécies Pomacea bridgesi (REEVE, 1856) e Pomacea lineata (SPIX, 1827) constituem uma parte significativa na diversidade da fauna nativa da região Nordeste e são importantes nos ecossistemas de água-doce nestes locais. Segundo Hayes et al. (2009), são espécies presas chaves e compõem uma importante ligação entre a cadeia alimentar aquática e terrestre. Habitam ambientes lênticos, como lagos e riachos temporários, sujeitos a longos períodos de estiagem. Diante da presença desse fator limitante, as espécies em questão sobrevivem à seca extrema, enterrando-se no solo, regulando a temperatura corporal abaixo de 41 ºC (CEDEÑO-LEÓN, 1983), consumindo oxigênio com uma taxa de um quinto dos animais ativos (BURKY ET AL., 1972) e utilizando as suas reservas em taxas baixas (CEDEÑO, 1972), fenômeno este conhecido como estivação.
Segundo Snowdon (1999), o estudo do comportamento animal é uma ponte entre os aspectos moleculares e fisiológicos da biologia e da ecologia, pois representa a parte de um organismo através da qual ele interage com o ambiente. Devido a isso, estudos comportamentais de uma espécie podem servir como um ótimo indicador para a qualidade ambiental, já que o comportamento, geralmente, é o primeiro sinal em relação a alterações e estresses ambientais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Diante do exposto o presente trabalho tem como objetivo investigar e comparar os padrões e estratégias comportamentais das espécies P. bridgesi e P. lineata em processo de indução a estivação pela redução do volume de água em laboratório, a fim de descobrir como cada espécie se comporta na presença da variação do conteúdo hídrico.
MÉTODOS:
Os experimentos foram realizados no Laboratório de Ecofisiologia e Comportamento Animal – LECA, da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. Dois grupos de 15 animais cada foram mantidos em aquários com 19,5 litros de água, com aeração artificial, a temperatura de 25 °C e alimentados diariamente ad libitum. Após o período de aclimatação (7 dias), os animais foram induzidos ao processo de estivação pela redução gradual do volume de água. Houve três reduções deste volume - 9,75, 4,88 e 2,44 L, mais o inicial de 19,5 L. Este método reduz a mortalidade em comparação com a retirada total da água.
As observações comportamentais foram realizadas através do método de varredura instantânea (ALTMANN, 1974), com o auxilio de um etograma construído em estudo prévio (ANDRADE et al., 2012), que define dezesseis atos comportamentais agrupados em seis categorias, sendo cinco categorias em estado ativo e uma categoria em estado inativo. Os animais foram observados por 10 dias. Adicionalmente, os aquários foram divididos em dois quadrantes (superior e inferior), para localizar a preferência de distribuição no espaço. As observações tiveram duração de 30 minutos, pelo período da manhã.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A espécie P. bridgesi apresentou um comportamento predominantemente inativo que foi gradualmente aumentado e mantido com mais de 90% do tempo gasto desses animais nos atos de permanecer imóvel e retraído, para os eventos apresentados. No estado ativo, o ato que apareceu com maior frequência foi o de rastejar com 7,40, 4,44 e 0,44%, nos volumes de 19,5, 9,75 e 4,88 L, respectivamente. Ao analisar a espécie P. lineata, o estado ativo foi dado como preferido por apresentar maior frequência em três volumes, apenas sendo superado pelo estado inativo quando em 4,88 L. O ato de rastejar foi o mais observado com 26,94, 41,53 e 32,44% nos 19,5, 9,75 e 2,44 L, respectivamente. Justificado pela necessidade de locomoção para realização de outras atividades, como procurar alimento ou subir ao quadrante superior para ventilar com sifão. A redução do volume não alterou o comportamento de P. lineata, porém ao observar o volume de 2,44 L, onde o ato de permanecer retraído foi o segundo mais visto, com 30,53% dos eventos, significando um aumento de 23,22% em relação ao valor observado em 19,5 L, justificado pelo baixo volume de água e possivelmente pela retração antes do início da estivação.
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos demonstraram que apesar das espécies pertencerem ao mesmo gênero e possuírem características semelhantes, foi observado padrões comportamentais diferentes em relação à redução gradual do volume de água. Comparavelmente, a espécie P. bridgesi apresentou comportamento completamente inativo e quando submetido à redução do volume de água, já a espécie P. lineata apresentou um padrão comportamental distribuído entre os estados ativos e inativos em relação à redução de água. Em relação à distribuição dos quadrantes, as preferências foram completamente diferentes, a espécie P. bridgesi preferiu o quadrante inferior, enquanto a P. lineata não apresentou uma preferência específica por quadrante. Conclui-se que P. lineata por ter maior distribuição no agreste é mais aclimatizado a redução do volume de água o que pode contribuir para uma maior sobrevivência deste animal a variações ambientais.
Palavras-chave: Etologia, Pomacea, Volume hídrico.