65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
PERFIL DAS INTOXICAÇÕES POR MEDICAMENTOS NO NORDESTE DO BRASIL: RETRATO DE UMA DÉCADA.
Alyne Fernanda Tôrres de Lima - Programa de Pós-Graduação Integrado em Saúde Coletiva – UFPE
Niedja Maria Coelho Alves - Programa de Pós-Graduação Integrado em Saúde Coletiva – UFPE
Isabelle Rayanne Alves Pimentel da Nóbrega - Programa de Pós-Graduação Integrado em Saúde Coletiva – UFPE
INTRODUÇÃO:
Os medicamentos ocupam o primeiro lugar em acidentes resultantes de exposição a agentes tóxicos, sendo as intoxicações mais frequentes as decorrentes de acidentes individuais e tentativas de suicídio. O uso irracional de medicamentos, a automedicação, a grande variedade de fármacos comercializados e o nível de informação sobre medicamentos por parte de usuários, prescritores e dispensadores são alguns dos fatores responsáveis pela manutenção dos elevados níveis de intoxicação medicamentosa no Brasil. Alguns trabalhos demonstram, por exemplo, que o problema da automedicação é pratica comum principalmente entre mulheres com elevados níveis de uso de drogas sintomáticas, e nas crianças a explicação seria a utilização pela indústria farmacêutica de embalagens atraentes, medicamentos coloridos e adocicados. No Brasil as intoxicações são registradas pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (SINITOX), criado em 1980 pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de coordenar o processo de coleta, compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados. Os resultados são divulgados anualmente, constituindo-se uma relevante base de dados para a caracterização deste crescente problema de saúde pública, e consequente enfrentamento.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Descrever o perfil das intoxicações por medicamentos no Nordeste do Brasil, no período de 2001 a 2010.
MÉTODOS:
Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, de série temporal, cuja base de dados foi a Rede SINITOX. Foram coletados dados referentes aos casos registrados de intoxicação por medicamentos na região Nordeste para o período de 2001 a 2010. Os casos de intoxicação foram descritos segundo as variáveis: sexo, faixa etária, zona e cidade de registro, motivo da intoxicação, evolução do caso e percentual de solicitação de informação aos centros de registro. Para melhor apresentação dos dados, foram excluídos os casos com variáveis ignoradas. Os dados obtidos foram organizados e analisados por meio do programa EpiInfo®, versão 3.5.2. Por se tratar de um banco de domínio público, não foi necessário submeter o projeto a um Comitê de Ética em Pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
No período estudado foram registrados 26.781 casos de intoxicação por medicamentos na região Nordeste (10,3% dos casos do Brasil), com maior número de registros em Salvador (43,16%). A maioria dos casos foi proveniente da zona urbana (91,7%), acometeu mulheres (62,4%), pessoas entre 20 e 29 anos (22,43%) e teve como causa a tentativa de suicídio (46,39%). Cerca de 78% das ocorrências evoluíram com cura, ou seja, eliminação do quadro clínico sintomático apresentado no momento do atendimento. Em todos os anos verificaram-se baixíssimos percentuais de solicitação de informações nos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIAT). O maior percentual ocorreu em 2001 (8,93%). Estima-se que os casos registrados representem apenas 2% dos ocorridos anualmente. A localização dos CIAT em capitais e grandes cidades tem dificultado o conhecimento e acesso por parte da população. O fato das mulheres se preocuparem mais com a saúde as predispõe um maior consumo de medicamentos, muitas vezes de forma independente. Estudos mostram que a maioria dos óbitos por intoxicação medicamentosa ocorrem em pessoas adultas e resultam de exposição intencional, demonstrando que o fácil acesso a medicamentos os torna um meio viável para aqueles que desejam eliminar suas vidas.
CONCLUSÕES:
O impacto dos medicamentos nas intoxicações no Brasil têm apresentado grande participação no conjunto dos agentes tóxicos registrados pelo SINITOX, e a população a depender das suas características é acometida por razões e de formas diferentes. Apesar do grande número de pesquisas na área, as informações geradas sobre esse problema ainda são muito deficientes; não há, por exemplo, uma sistematização das informações sobre o uso de medicamentos que proporcione o acompanhamento da evolução dos padrões de utilização pela população ao longo do tempo, toda a informação gerada e fornecida pelos órgãos oficiais é referente somente a atendimento ou óbito, existindo ainda o problema da subnotificação dos casos. Por esse motivo, de uma maneira geral, as ações voltadas a reverter ou minimizar os casos de intoxicação por medicamentos devem passar primeiramente pela educação e informação da população, posteriormente pelo maior controle na venda com e sem prescrição médica, pelo melhor acesso aos serviços de saúde e por fim pela adoção de critérios éticos para a promoção de medicamentos e melhoria dos sistemas de informação.
Palavras-chave: Centros de Informação, Assistência Toxicológica, Intoxicação medicamentosa.