65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia
ANÁLISE DA FORMAÇÃO DE BIOFILMES MULTIESPÉCIES ENTRE LEVEDURAS DO GÊNERO Candida E A BACTÉRIA Streptococcus sanguis
Wanderléia de Aguiar Policarpo - Universidade Estadual Vale do Acaraú
Victor Alves Carneiro - Prof. Dr./Orientador- Universidade Federal do Ceará
Marianne Mesquita Pontes - Universidade Estadual Vale do Acaraú
Humberlânia de Sousa Duarte - Universidade Estadual Vale do Acaraú
Victor Aragão Abreu de Freitas - Universidade Federal do Ceará
INTRODUÇÃO:
A cavidade oral constitui-se de diversos microambientes contendo uma considerável diversidade de superfícies nas quais as células microbianas podem aderir e formar biofilmes. Bizerra e colaboradores (2006) definem biofilme como uma comunidade dinâmica altamente organizada de micro-organismos aderidos a superfícies bióticas ou abióticas embebidos em uma matriz de substância polimérica extracelular (EPS). Segundo Bandara (2009), um biofilme pode ser formado por uma única espécie (biofilme monoespécie) ou por várias espécies (biofilme multiespécie), inclusive entre gêneros e até reinos diferentes. Thein e Samaranayake (2006) relatam a ocorrência de coagregação entre diferentes bactérias e espécies de Candida, e que alguns fatores de modulação como saliva, açúcares e pH colaboram para esse processo. Millsap (1998) menciona a existência de numerosos biofilmes infecciosos constituídos por bactérias e leveduras, podendo formar sítios de adesão para outros colonizadores, e essa adesão é bastante observada na cavidade oral. De acordo com Diaz e colaboradores (2011), possíveis interações sinérgicas ou competitivas entre fungos e bactérias em biofilmes orais e seus efeitos sobre a terapia são de grande importância para a compreensão de infecções.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar a interação das leveduras Candida albicans e Candida tropicalis com a bactéria Streptococcus sanguis através da formação de biofilmes mistos experimentais em placas de poliestireno, devido aos prejuízos causados pelos biofilmes para a saúde pública e da necessidade de mais estudos sobre as interações entre fungos e bactérias em biofilmes multiespécies.
MÉTODOS:
Saliva estéril a 25% (0,5ml) foi incubada em placas de poliestireno de 24 poços por 16 h a 4°C e em seguida lavadas duas vezes com água destilada estéril. As leveduras Candida tropicalis ATCC750 e Candida albicans ATCC90028 e a bactéria Streptococcus sanguis ATCC10556 foram centrifugadas a 5000 x g por 5 min, ressuspendidas e ajustadas para uma concentração de 3 × 106 UFC/ml (Unidade Formadora de Colônia) para as leveduras e 5 × 107 UFC/ml para a bactéria. Foram adicionados aos poços com película adquirida, 0,5 ml de bactéria e a placa foi incubada a 37°C por 1 hora. O meio de cultura foi trocado para possibilitar o desenvolvimento do biofilme em estufa a 5% de CO2 a 37ºC durante 6 horas. Em seguida, 0,5ml de suspensão de levedura foi adicionada aos poços já contendo as bactérias. Após 1h de contato, os poços foram lavados duas vezes com meio Sabouraud Dextrose Broth, e a placa foi incubada para o desenvolvimento do biofilme multiespécie por 6 horas. Foi realizada a quantificação indireta da formação de biofilme através da coloração com cristal violeta. A suspensão foi transferida para uma placa de 96 poços e a absorbância foi medida com o auxílio do espectrofotômetro à 590nm. ANOVA foi realizado com um pós-teste Bonferroni, e p <0,001 foi considerado estatístico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Após 14 horas de formação dos biofilmes multiespécies, foi possível observar que o crescimento do biofilme misto de C. albicans com S. sanguis foi superior ao monoespécie de S. sanguis, com um aumento de 95,1%. Quando comparado ao biofilme monoespécie de C. albicans, foi notado um aumento de 399,1% em relação ao multiespécie. Em contrapartida, foi constatado um aumento de 116,98% no crescimento do biofilme multiespécie de C. tropicalis com S. sanguis em relação ao monoespécie de S. sanguis. Entretanto, o biofilme monoespécie de C. tropicalis apresentou-se superior em um percentual de 23,54% quando comparado ao biofilme multiespécie. De acordo com os resultados dos estudos de Jenkinson, Lala e Shepherd (1990), a adesão de C. albicans às bactérias é um meio em que as células da levedura podem aderir às superfícies das células epiteliais e da mucosa oral. Além disso, a proliferação das células de C. albicans poderia aumentar devido aos produtos metabólicos produzidos pela bactéria. Segundo Matthew (2006), algumas bactérias apresentam a capacidade de produzir moléculas de Quorum-sensing que inibe a formação do tubo germinativo da levedura, suprimindo a formação de hifas de Candida, como observado no biofilme multiespécie entre C. tropicalis e S. sanguis neste estudo.
CONCLUSÕES:
As leveduras C. albicans e C. tropicalis comportam-se de maneira diferente em biofilmes mistos com a bactéria do gênero Streptococcus. O biofilme misto de C.albicans apresentou uma maior biomassa em relação ao biofilme monoespécie, possivelmente por consequência da indução da filamentação da levedura por moléculas produzidas pela bactéria. E o biofilme misto de C.tropicalis apresentou uma menor biomassa em relação ao biofilme monoespécie da levedura, devido a presença de produtos metabólicos produzidos pela bactéria que suprime a filamentação desse fungo.
Palavras-chave: Biofilmes, Fungos, Interação.