65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL DE PEIXE-BOI MARINHO (Trichechus manatus manatus) EM UMA DAS COMUNIDADES DE PESCADORES ARTESANAIS DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE, PARAÍBA
Paula Djanira Fernandes Coutinho - Centro de Ciências Biológicas – UFPE
Simone Ferreira Teixeira - Profa. Dra./Orientadora – Instituto de Ciências Biológicas – UPE
Daniele Mariz Vieira - Msc. – Instituto de Ciências Biológicas – UPE
INTRODUÇÃO:
Únicos mamíferos aquáticos herbívoros e considerados ameaçados de extinção no Brasil, os peixes-bois marinhos (Trichechus manatus manatus) pertencem à Ordem Sirenia e podem medir até 4,5m de comprimento e pesar mais de 600kg na idade adulta. Em 1987 foi criada, pelo então IBDF, a primeira base do Projeto Peixe-Boi Marinho, hoje sob a responsabilidade do Governo Federal através da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape na qual se situa. Sua missão é desenvolver pesquisas voltadas para a preservação da espécie no seu ambiente natural e promover a Educação Ambiental. A APA Barra do Rio Mamanguape engloba quatro municípios do Estado da Paraíba, Rio Tinto, Marcação, Baía da Traição e Lucena, sendo formada pelos estuários do Rio Mamanguape, Miriri e Estivas. Dentro dos seus limites existe uma significativa diversidade de sistemas ecológicos e trinta e duas vilas e povoados que constituem comunidades de pescadores e pescadoras artesanais. O conhecimento que essas comunidades acumularam ao longo dos anos sobre o meio em que vivem é denominado conhecimento ecológico local, e por ser fruto de várias gerações de saberes acumulados e trocas de informações pode contribuir positivamente na formulação de planos de manejo para a preservação das espécies e conservação dos habitats.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar o conhecimento que uma das comunidades de pescadores artesanais da Área de Proteção Ambiental Barra do Rio Mamanguape possui sobre a ecologia do peixe-boi marinho.
MÉTODOS:
A pesquisa foi realizada através de revisão bibliográfica, coleta e interpretação de dados primários obtidos em vinte entrevistas com pescadores artesanais residentes na Vila de Barra de Mamanguape, durante os meses de abril e maio de 2012, sendo escolhidos preferencialmente os pescadores que possuem mais de trinta anos de pesca. Foi aplicado um questionário semi-estruturado onde foi registrado o conhecimento etnoecológico que o pescador possui sobre o peixe-boi marinho, abordando questões específicas relacionadas a esta espécie, como: alimentação, reprodução, encalhe e influência na pesca. As informações obtidas foram devidamente interpretadas, quantificadas, tabeladas e analisadas quantitativamente, por meio da estatística descritiva dos dados, e qualitativamente, por meio da análise do conteúdo individual e comum dos entrevistados. Posteriormente, os questionários e os dados foram armazenados no laboratório de Ecologia de Peixes Tropicais da Universidade de Pernambuco (LEPT – UPE).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Constatou-se que os pescadores avistam frequentemente os peixes-bois, e nestas ocasiões não fazem nada ou mudam de lugar. A maioria dos entrevistados citou o capim-agulha como sendo o alimento dos peixes-bois, mas também citaram as algas marinhas e as folhas de mangue. Com relação à reprodução da espécie, a maioria informou não saber qual o tempo de gestação dos animais, não identificaram o intervalo de gestação e a maioria não soube dizer qual a época em que nascem os filhotes. Os pescadores demonstraram conhecimento de que as mães utilizam áreas protegidas para parir seus filhotes e que se a fêmea parir o filhote em lugares com muitas ondas este pode se separar dela e encalhar. A maioria dos entrevistados informou que encontrou um peixe-boi encalhado, se tratando, em grande parte dos casos, de filhotes vivos, os quais foram levados para o Projeto Peixe-Boi em quase todos os relatos. Os pescadores informaram que capturaram um peixe-boi em suas redes de pesca, e a maioria afirmou que se tratavam de peixes-bois reintroduzidos e adultos. Os animais são capturados nas redes de arrasto e também nas redes de espera, como a caçoeira e o caçoá. Os pescadores se queixaram com frequência de os peixes-bois atrapalham a pesca, porém a grande maioria dos animais foram liberados com vida.
CONCLUSÕES:
Os pescadores possuem consciência de que não devem interagir com os peixes-bois e demonstraram conhecimento acerca de alguns aspectos ecológicos destes, como alimentação e fatores que ameaçam a espécie. Com relação à reprodução, demonstraram pouco conhecimento. Os entrevistados estão cientes do que deve ser feito ao encontrar um peixe-boi encalhado, constituindo um ponto positivo para a preservação da espécie. A maioria dos animais capturados nas redes de pesca foram os reintroduzidos e adultos, sugerindo que estes são mais suscetíveis às capturas acidentais que os nativos e os filhotes. Os pescadores conheciam as redes que são mais perigosas para os peixes-bois, o que consiste em um ponto positivo para a integração dos mesmos às atividades de preservação do peixe-boi marinho. No presente estudo, a grande maioria dos animais foram liberados com vida, o que comprova que não há consumo recente de carne de peixe-boi pelos pescadores, demonstrando que eles possuem conhecimento do fato da espécie ser protegida e que agem de maneira correta diante desses episódios.
Palavras-chave: Etnoecologia, Mamíferos Aquáticos, Comunidades Tradicionais.