65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica
ACURÁCIA DO EXAME FÍSICO NO DIAGNÓSTICO DE HEPATOPATIA CRÔNICA EM PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAL-ESCOLA
Mariah Malheiros Costa Martins - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Joyce Freire Gonçalves de Melo - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Fernando Roberto Gondim Cabral de Vasconcelos - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Aline Alves Lopes - Estudante de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
José Luis Simões Maroja - Docente do Departamento de Medicina Interna, Centro de Ciências Médicas, UFPB.
Rilva Lopes de Sousa-Muñoz - Docente do Departamento de Medicina Interna, Centro de Ciências Médicas, UFPB.
INTRODUÇÃO:
O estudante de Medicina é exposto cada vez mais a uma grande variedade de exames de laboratório e de imagem, e presencia um comportamento, de muitos médicos, de valorização excessiva desses métodos. Esta é uma questão de educação médica, portanto é importante que seja discutido o real papel da observação clínica no diagnóstico. O presente estudo enfoca o tema da insuficiência hepática crônica, que mantém sua atualidade e interesse não somente devido à elevada prevalência de hepatopatias no Brasil, onde há milhões de afetados por cirrose, esquistossomose e hepatites crônicas, como também pelo fato de esta síndrome ser pouco estudada na sua vertente mais fundamental, a do estudo da contribuição dos sinais clínicos para o diagnóstico do paciente com esta condição. O objetivo deste trabalho foi verificar a correlação da observação clínica de sinais de insuficiência hepática crônica com o diagnóstico médico de internação de hepatopatia crônica em pacientes hospitalizados no serviço de clínica medica do HULW da UFPB.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Verificar a correlação da observação clínica de sinais de insuficiência hepática crônica com o diagnóstico médico de internação de hepatopatia crônica em pacientes hospitalizados no serviço de clínica medica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
MÉTODOS:
Estudo de modelo observacional-transversal, cuja amostra foi composta por 80 pacientes adultos internados nas enfermarias de clínica médica do HULW/UFPB. Os critérios de inclusão foram: apresentar icterícia e/ou ascite, ou dois dos seguintes sinais clínicos: eritema palmar, aranhas vasculares, hálito hepático, ginecomastia, alterações pilosas e ungueais, sufusões hemorrágicas, hipotrofia muscular, edema e encefalopatia. O diagnóstico de hepatopatia crônica foi baseado em critérios clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos, os quais foram analisados por especialistas em gastroenterologia do serviço (padrão-ouro). Os sinais de encefalopatia foram psicométricos, do sono, humor, comportamento e desorientação. As alterações ungueais foram hipocratismo digital e distrofia das unhas. As alterações pilosas foram consideradas nos pacientes do sexo masculino (escassez de pêlos e distribuição ginecóide). Foi feita a Classificação de Child-Turcotte-Pugh. A frequência dos sinais clínicos foi determinada no grupo com diagnóstico de hepatopatia crônica e no grupo que não recebeu este diagnóstico. Foram determinados sensibilidade, especificidade, valores preditivos e razão de verossimilhança. Determinou-se a área sob a curva de todos os achados clínicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A média de idade foi 52±17,6, 52,5% do sexo masculino, 58 (72,5%) da amostra classificada como hepatopata e de baixa reserva funcional (55,2% Child-Turcotte-Pugh C). A etiologia presumida mais prevalente foi a alcoólica (23/39,7%). Os sinais de insuficiência hepática crônica que apresentaram especificidade alta foram eritema palmar (90,9%), ginecomastia (90%), hálito hepático (95,4%), asterixis (86,4%), outros sinais de encefalopatia (81,8%) e aranhas vasculares (81,8%). Ascite (74,1%), icterícia (65,5%) e sufusões hemorrágicas (63,7%) foram os achados clínicos mais sensíveis. O eritema palmar e o asterixis foram os sinais com maior razão de verossimilhança positiva. Os valores da área sob a curva ficaram entre 60% e 66% para eritema palmar (66%), asterixis (64%), aranhas vasculares (62%), ascite (61%) e sufusões hemorrágicas (60%). Nenhum sinal clínico avaliado alcançou valor de RV elevado, e portanto, a presença isolada de um estigma de hepatopatia crônica não aumentou a chance de se fazer o diagnóstico. A área sob a curva demonstrou um moderado poder de discriminação do exame físico entre pacientes com diagnóstico de hepatopatia e aqueles que não receberam este diagnóstico.
CONCLUSÕES:
A maioria dos pacientes da amostra estudada apresentava baixa reserva funcional hepática. Os sinais clínicos de maior especificidade foram eritema palmar, ginecomastia, hálito hepático, asterixis, detecção clínica de encefalopatia e aranhas vasculares. Ascite, icterícia e sufusões hemorrágicas cutâneas constituíram os achados de maior sensibilidade. Contudo, nenhum destes achados clínicos isoladamente foi suficientemente discriminante para o diagnóstico de hepatopatia crônica. A associação de sinais clínicos considerados estigmas de doença hepática também não apesentaram acurácia satisfatória. Novos estudos devem ser realizados para investigar a utilidade dos sinais clínicos de insuficiência hepática para o diagnóstico de hepatopatia crônica, de forma a corroborar os resultados encontrados nesta casuística e fortalecer a vertente da Semiologia Baseada em Evidências.
Palavras-chave: Insuficência hepática, Sinais e Sintomas, Medicina Baseada em Evidências.