65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
DESIGUALDADES DE GÊNERO NA DIVISÃO DE TAREFAS E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NA QUALIDADE DE VIDA DAS MULHERES: ARTICULANDO O TEMPO DEDICADO AO TRABALHO REMUNERADO, AOS CUIDADOS DO LAR E PARA O LAZER NO COTIDIANO DAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS
Virginia Paes Coelho - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Serviço Social - UFF
Daniela Beatriz dos Santos Ferreira - Depto. de Serviço Social - UFF
Glauber Lucas Ceara Silva - Depto. de Serviço Social - UFF
Guilherme da Silva Souza - Depto. de Serviço Social - UFF
Natália Buginga Ramos da Costa - Depto. de Serviço Social - UFF
Viviane Pereira Monteiro - Depto. de Serviço Social - UFF
INTRODUÇÃO:
A pesquisa tem por foco as condições de vida das trabalhadoras domésticas remuneradas, na difícil conciliação entre o trabalho remunerado com as responsabilidades na família e o impacto no seu bem-estar. As mulheres são predominantes nos trabalhos domésticos. Isso se deve ao contexto
econômico e social em que essa categoria foi sendo construída. Na sociedade capitalista e
sexista em que vivemos às mulheres cabe ainda hoje o papel dos cuidados da casa e da
família e ao homem de ser o provedor. Principalmente nas camadas pobres quando havia a
necessidade de complementar a renda da família, a mulher saía para prestar serviços
domésticos em outras casas, tidos como femininos, em troca de uma remuneração. Dessa
maneira a profissão cresceu sem o devido reconhecimento. Esse segmento de mercado é ainda hoje procurado pelas mulheres pobres para compor a renda familiar, mas em muitos casos mais do que juntar rendimentos para aumentar o ganho da família, são elas as únicas ou principais provedoras da casa. Assim, a maior participação feminina no mercado de trabalho ocorre de forma precarizada e sem
mudanças na sua inserção no espaço doméstico dificultando uma colocação melhor e
mesmo sua permanência na vida pública. No caso das trabalhadoras domésticas além de
permanecerem como principais responsáveis pelo tempo dedicado à reprodução se vêem
forçadas a combinar uma dupla jornada – no seu próprio lar e no de seus empregadores.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar a problemática da conciliação entre o âmbito público e privado examinando as conseqüências da dupla jornada de trabalho para a qualidade de vida dessas mulheres. Conhecer a contribuição feminina para o rendimento familiar e a percepção dessas mulheres sobre o papel que desempenham no trabalho assalariado e na família em relação às questões que envolvem poder, autonomia e afetividade.
MÉTODOS:
A partir de dados de pesquisas de âmbito nacional, de estudos bibliográficos acerca dos eixos estruturantes da pesquisa que são gênero, classe
social, trabalho doméstico, raça/etnia e maternidade, de entrevista realizada com as
representantes do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos dos Municípios de Niterói, São Gonçalo e regiões foi possível a realização dessa pesquisa.
A entrevista, teve por base a metodologia da História Oral que consiste do aprofundamento sobre as percepções do sujeito acerca de sua realidade social. Consideramos que esse método de estudo permite maior
entendimento de como ocorre neste segmento estudado a difícil conciliação entre o trabalho
remunerado e o trabalho não pago que envolve as responsabilidades com suas famílias e as
tarefas domésticas na compreensão acerca das relações de gênero, classe e etnia, além de
possibilitar a percepção dos sujeitos entrevistados sobre suas vivências e percepções do
cotidiano de trabalho. Foram utilizadas também, as anotações feitas no diário de campo.
A entrevista foi guiada por um roteiro elaborado com os seguintes núcleos
temáticos: Trabalho doméstico remunerado, Maternidade, Lazer e descanso - Qualidade de
vida, Gênero e Perspectivas para o futuro, buscando assim, conhecer a realidade da
categoria. Esse processo de reflexão acaba por
contribuir na promoção de mudanças no comportamento das próprias entrevistadas frente
as suas histórias de vida enquanto sujeitos de direitos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Pode-se afirmar que em grande parte das famílias, para as mulheres permanecem
as dificuldades em equilibrar o tempo dedicado ao trabalho pago, aos cuidados da casa e da
família, e para o lazer. No caso das trabalhadoras domésticas o que se observa é que além de realizarem
o trabalho doméstico remunerado têm de enfrentar a segunda jornada de trabalho, quando
chegam a casa, ao “cumprir seu papel de mulher”, cultural e historicamente construído,
ficando sobrecarregadas, pois além de cuidar da casa e dos filhos de seus empregadores,
tem que cuidar de seus filhos e de sua casa.
No que se refere ao tempo dedicado ao trabalho remunerado, aos cuidados do lar e
para o lazer, quando articulados, nota-se uma grande desigualdade com relação aos sexos
na divisão de tarefas, que acarreta conseqüências na sua qualidade de vida.
Através de muitas lutas a categoria tem conquistando alguns direitos, como à
carteira assinada, férias, apesar de nem sempre serem respeitados mesmo em se tratando
das áreas urbanas. Ao falarmos em perspectivas para o futuro das trabalhadoras domésticas,
percebemos através da entrevista realizada com uma das representantes do Sindicato das
Domésticas de Niterói que essas mulheres desejam mudar de profissão através do estudo,
almejam um futuro melhor, um trabalho com definição de horários e vêem esta profissão
como um meio para chegar aonde desejam realmente, um outro tipo de atividade
remunerada, mais valorizada socialmente e com menos sobrecarga de trabalho.
CONCLUSÕES:
O estudo revela a ausência de qualidade de vida nesses segmentos femininos,
devido ao excesso de atividades, desvalorização e desrespeito ao trabalho realizado e
expectativas no âmbito público e privado em relação ao papel da mulher. Analisando o
trabalho remunerado produtivo e o não remunerado, reprodutivo, verificamos que o sexo
feminino é o que mais está sujeito à desigualdades ocasionadas pela divisão sexual do
trabalho e é o mais suscetível ao desgaste físico e mental, devido à sobrecarga que a dupla
jornada de trabalho provoca. Desse modo, vê-se que na vida contemporânea o tempo que é
dedicado ao lazer é cada vez menor para as mulheres que trabalham e executam as tarefas
domésticas e como conseqüência estas dispõem de pouco tempo para seus filhos e família,
tendendo compensar essas dificuldades de outras formas.
Palavras-chave: Gênero, Maternidade, Trabalho doméstico.