65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
A TEORIA CONSTRUTIVISTA E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA: CRÍTICAS E POSSIBILIDADES DE SUPERAÇÃO
Maíra Araújo de Oliva Gentil - Programa de Pós-graduação em Educação – UFBA
Cláudio de Lira Santos Júnior - Prof. Dr./Orientador – Programa de Pós-graduação em Educação – UFBA
INTRODUÇÃO:
O presente texto é parte dos estudos desenvolvidos no mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFBA na área de concentração “Educação, sociedade e práxis pedagógica”. Localiza-se entre as pesquisas que investigam o processo de aquisição da escrita enquanto problemática significativa relacionada à formação humana pelo acesso à cultura histórica e socialmente construída pela humanidade, ao papel da educação na transmissão dessa cultura às gerações futuras e à influência do contexto social, histórico e político nesta formação. Possui como objeto de estudo o processo de aquisição da escrita a partir da teoria construtivista. Problematiza as contradições presentes nesta teoria, a partir dos trabalhos de Jean Piaget, segundo o qual a aquisição dos conhecimentos, dentre eles a escrita, é resultado de uma adaptação dos fatores biológicos (primordiais) aos estímulos do meio, de maneira que caberia ao professor apenas mediar a relação da criança com a escrita. Os números alarmantes de analfabetos e dos chamados alfabetos funcionais no país, bem como o crescente número de crianças que são encaminhadas para a área Médica como portadoras de “distúrbios” de aprendizagem, chamam atenção para o problema da alfabetização no Brasil e conferem relevância a este estudo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste estudo foi identificar as contradições da teoria construtivista no aspecto da aquisição da linguagem escrita, bem como contribuir para a constituição de bases científicas sólidas de uma teoria de linguagem sobre o processo de aquisição da escrita, orientada pelos princípios da formação humana.
MÉTODOS:
Para alcançar o objetivo proposto, este estudo adotou como teoria do conhecimento o materialismo histórico-dialético (teoria sócio-histórica) e tomou a Psicologia Soviética – Vygotsky (2007, 2008, 2009, 2010), Luria (2006, 2007) e Leontiev (2004, 2006, 2007) – como base para análise crítica da teoria construtivista no aspecto da apropriação da escrita pela criança. A natureza da pesquisa foi de caráter documental. Os procedimentos de pesquisa consistiram em: 1) identificação e seleção das fontes; 2) exploração do material selecionado; 3) confecção de fichamentos (sistematização da leitura); 4) seleção das categorias de análise (concepção de mundo, concepção de indivíduo, concepção de educação e concepção de aquisição da linguagem); 5) elaboração da crítica dentro da problemática do estudo. O material selecionado apara análise da teoria construtivista concentrou-se nas principais produções de Jean Piaget traduzidas para o português, a saber: A linguagem e o pensamento da criança (1956), Biologia e Conhecimento (1973), Psicologia e Epistemologia (1973), Para onde vai a educação? (1976), O nascimento da inteligência na criança (1996), Sobre a Pedagogia (1998), Epistemologia Genética (2007), Psicologia e Pedagogia (2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os estudos demonstraram que a concepção de mundo piagetiana é a-histórica e idealista ao defender que as contradições sociais seriam decorrentes de “dificuldades psicológicas” dos homens e não da realidade material concreta. Já a concepção construtivista de Piaget sobre o indivíduo abandona o terreno sócio-histórico para assentar-se no terreno da biologia, não fazendo distinções entre a formação humana e a formação animal. Tais pilares explicam o porquê esta teoria concebe a educação como um mero instrumento de adaptação da criança à realidade à sua volta, entendendo que a escola não deve, portanto, transmitir os conhecimentos historicamente elaborados pela humanidade, mas sim, organizar um método que desperte a “atividade interna” que a criança já possuiria naturalmente. Por fim, Piaget considera a aprendizagem como um processo de construção individual e, dessa forma, a escrita seria resultado de um processo natural e não social. Perde-se a característica da escrita como elemento cultural e desconsidera-se o papel dessa cultura como elemento da formação humana, portanto, do lugar da escrita nesta formação. Abre-se a possibilidade de “biologizar” as dificuldades que as crianças apresentam no processo de aquisição da linguagem escrita, culpando o sujeito pelos problemas sociais.
CONCLUSÕES:
As obras de Jean Piaget analisadas com base nos pressupostos da teoria sócio-histórica concentram toda a sua perspectiva na defesa de que o indivíduo aprende os conhecimentos, dentre eles a escrita, para se adaptar ao meio. A ação “ativa” defendida pela teoria construtivista diz respeito apenas em a criança escolher os instrumentos e os meios de melhor adaptar-se. O aspecto “social” presente nesta teoria, refere-se apenas a estímulos os quais os adultos não devem “impor”, mas apenas mediar. A escrita, dessa maneira, não é ensinada e nem corrigida. A criança “aprende a aprender”. Dessa maneira, os conhecimentos historicamente elaborados pela humanidade são privados à criança e a possibilidade da escrita contribuir como elemento de formação humana é podada. Em oposição crítica à teoria a-histórica do construtivismo, a teoria sócio-histórica considera que os conhecimentos devem ser transmitidos pelo adulto à criança com objetivo de fornecer os elementos necessário para formar a partir dos aspectos culturais da humanidade.
Palavras-chave: Aquisição da Escrita, Construtivismo, Teoria Sócio-Histórica.