65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
Ensino de Física no Rio de Janeiro: Um olhar deweyiano da nova proposta curricular.
Ana Carolina Lucena Dias - Depto. Física – PET-Física - UFRRJ
Natália Alves Machado - Depto. Física – PET-Física - UFRRJ
Frederico Alan de Oliveira Cruz - Prof. Dr./Tutor - Depto. Física – PET-Física – UFRRJ
INTRODUÇÃO:
Nos últimos anos a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) realizou algumas mudanças no programa das diversas disciplinas que compõem o currículo do Ensino Médio. Apesar da estrutura curricular ter sido baseada no pensamento formulado por John Dewey, que foi estendido ao Brasil por Anísio Teixeira no âmbito das escolas públicas, nunca foi completamente implementada. A filosofia deweyana se baseia no método científico, onde os acontecimentos são avaliados com visão crítica e pragmática, permitindo criar uma metodologia que una crenças práticas e teóricas, propiciando um ambiente de interação entre o professor e os alunos. Apesar dessa visão, o modelo empregado nas últimas décadas consiste na figura de um professor detentor do conhecimento e de alunos recebendo informações de forma passiva e descontextualizada. Sendo assim, a formulação de uma nova estrutura curricular deve estar alinhada ao pensamento original, como proposto por Anísio Teixeira, criando uma nova prática educativa implantando uma nova escola, ativa e baseada na ciência e no cotidiano vivido pelos alunos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar se as mudanças ocorridas na estrutura curricular dos conteúdos de Física permitirão uma maior interação entre os alunos e o elemento estudado, criando um ambiente favorável para uma aprendizagem significativa e que possa contribuir para formar um cidadão crítico e a serviço da sociedade.
MÉTODOS:
O trabalho foi realizado no seguinte conjunto de etapas: (1) Inicialmente foi realizada uma análise sobre a nova proposta curricular para o Ensino de Física, apresentada pela SEEDUC-RJ; (2) Realizou-se uma comparação entre a nova proposta e aquela estabelecida anteriormente nas escolas estaduais, e em vigor na maioria das escolas privadas da cidade do Rio de Janeiro; (3) Foi analisada a possibilidade de introduzir temas transversais, que possam conectar os assuntos apresentados no novo currículo e nas outras disciplinas presentes dentro da estrutura curricular do Ensino Médio; (4) Foram avaliados se os temas apresentados permitem uma formação que prepare os alunos, das escolas públicas, para realizar as provas de acesso ao Ensino Superior, atualmente através das provas do ENEM, e que este possa identificar os fenômenos físicos presentes no cotidiano; (5) Finalmente, com base no exposto, discutiremos se o novo currículo proposto pela SEEDUC-RJ atende as necessidades de uma educação plena dentro da filosofia deweyana trazida por Anísio Teixeira.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A nova proposta curricular para o Ensino de Física está voltada para uma abordagem mais conceitual dos fenômenos físicos e vai de encontro à filosofia de Dewey, demonstrando que os conceitos partem do pré-suposto de que o mundo é um sistema aberto, indeterminado e passível de mudanças. Na comparação entre os programas tradicionais, existe uma maior possibilidade de interdisciplinaridade com os temas apresentados nas outras disciplinas, mostrando uma evolução na proposta do ensino de Física. Em relação aos temas transversais, que estão voltados para a compreensão e para a construção da realidade social, o novo programa apresenta temas como a geração e transmissão de energia que podem ser trabalhados num projeto político pedagógico que esteja voltado a proteção do Meio Ambiente. Em relação à preparação dos alunos para as provas de acesso ao Ensino Superior, foi visto que muitos temas estão pouco explícitos na proposta, como é o caso da óptica geométrica. Num primeiro olhar o tema parece ter sido banido do currículo, mas na verdade ele está inserido dentro do estudo do funcionamento do “olho humano”, ou seja, o aluno deve ser capaz de “reconhecer, utilizar, interpretar e propor modelos explicativos para fenômenos naturais ou sistemas tecnológicos”, como descrito no programa.
CONCLUSÕES:
Se o pensamento de Dewey, trazido por Anísio Teixeira, defende que o aluno aprenda com base na busca de informações que fluem do professor, a perspectiva educacional não poderá considerar listas fixas de conteúdo nas quais a realidade dos alunos é inserida apenas a título de ilustração. Assim, consideramos que a nova proposta curricular permite que o professor possa inserir situações de aprendizagem desenvolvidas a partir das experiências significativas vividas anteriormente pelos alunos, na escola ou fora dela, construindo, com mais facilidade, ideias a respeito dos fenômenos estudados, proporcionando um melhor entendimento do tema abordado e que esteja associada a alguma situação concreta. Apesar do aluno ainda ser refém das provas de acesso ao ensino superior, consideramos que o novo programa seja capaz de norteá-los para o pensamento científico de tudo o que está a sua volta e assim criar uma nova possibilidade de aprendizagem que possam prepará-los de forma conveniente para essas avaliações.
Palavras-chave: Ensino de Física, John Dewey, Anísio Teixeira.