65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural
A ESCOLA RURAL MODELO ANÍBAL FALCÃO/ALBERTO TORRES: A EDUCAÇÃO RURAL E O IDEÁRIO NACIONAL NAS DÉCADAS 1930-40.
Tatiane Oliveira de Carvalho Moura - Fundação Joaquim Nabuco
Maurício Antunes Tavares - Pesquisador-doutor/Orientador- Fundação Joaquim Nabuco- PE
INTRODUÇÃO:
Com o advento da urbanização e industrialização brasileira, a escola ganha prioridade por formar este novo homem do século XX, principalmente o homem rural. Então, na década de 1930, institucionalizou-se a Escola Modelo Rural Aníbal Falcão/Alberto Torres em Tejipió, Recife. Referência nacional por articular ciência à agricultura camponesa, segundo os preceitos escolanovistas (MANIFESTO 1932), foi lugar de formação para as normalistas que se dirigiam às escolas do interior de Pernambuco. Ainda, o jornal O Semeador, editado pelo Clube Agrícola dos alunos da escola e distribuído nacionalmente, manteve rica troca de correspondências com intelectuais, cientistas e institutos de agronomia e veterinária de várias partes do país. Dado que há apenas citações sobre esta Escola Rural Modelo, este trabalho preenche lacunas na discussão sobre ruralidade e educação em Pernambuco. E, principalmente, elucida os sentidos de “educação rural” no período delimitado, por meio de análise dos discursos emitidos pelos personagens que compuseram aquele cenário.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Compreender os sentidos de “educação rural” em Pernambuco na década de 40, pela análise dos discursos dos atores e intelectuais que pensaram a educação rural, no Brasil, e dos atores locais envolvidos na concretização deste ideário durante a experiência implementada na Escola Rural Modelo Aníbal Falcão/ Alberto Torres.
MÉTODOS:
Foi realizada uma análise qualitativa, com a abordagem de análise do discurso, a respeito da memória da sociedade pernambucana nas décadas de 1920-1940. Os documentos coletados na Fundaj e no Arquivo Público pernambucano, constituindo um corpus com textos jurídicos, jornalísticos e acadêmicos, fotografias e jornais escolares, foram analisados considerando-os como construções da realidade, tendo influência histórica e ideológica daqueles que os construíram. Com isto, inspirando-se na sociologia figuracional de Norbert Elias, procurou-se ressaltar as interelações entre indivíduos em sociedade, mostrando que as mudanças se dão devido aos conflitos, negociações e tensões constantes. Ainda, considerou-se a teoria da memória baseada em Halbwachs (2004), na qual a memória coletiva e individual se inter-relacionam e se fazem simultaneamente, mas podem ser registradas de formas diferentes. A abordagem entrelaçou aspectos sociais, políticos e econômicos de forma correlacionada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Segundo Leão (1939), integrante do Movimento Escola Nova e idealizador da reforma educacional em Pernambuco em 1926/27, o professor rural deveria entender o universo de seu aluno. Nestes preceitos foi criada a Escola Rural Modelo Aníbal Falcão/Alberto Torres.
Lima Cavalcanti, então governador, em consonância com Getúlio, tentou modernizar a sociedade pernambucana. E modernizar significava seguir os padrões do mundo desenvolvido. As edições d’O Semeador, jornal escolar feito pelos alunos, entre 1933 até 37 mostram a perspectiva sobre “rural”: baseava-se em conhecimentos científicos, tendo a produção voltada para o mercado, além da valorização do trabalho.
Com o contra golpe de Getúlio, em 1937, Agamenon Magalhães assume o governo pernambucano e a Igreja católica reassume a educação. “Na Religião, a pedagogia se completa e aperfeiçoa”(GOVERNO DO ESTADO, S/D, p.24). Também por meio d’O Semeador, percebe-se que a ideia de “rural” traz a forte valoração do trabalho, mas desvinculado da cientificidade.
Assim, foi possível perceber as transformações ocorridas nos sentidos de “educação rural” em Pernambuco. De início, a educação rural aparece como “urbanizadora” do espaço rural, e depois com cunho mais moralizador, sem trazer aspectos científicos anteriormente observados.
CONCLUSÕES:
No período estudado, uma parte das elites rurais pernambucanas via nesse projeto modernizador de “educação rural” uma oportunidade para fortalecer o seu poder político e econômico, bastante debilitado. Mas havia também temores de que esse processo resultasse em “anarquia social”, com o povo alfabetizado a exigir melhores trabalhos do que os que eram oferecidos pelos usineiros. Então, o projeto pedagógico inicialmente implantado em Pernambuco também passou pelos conflitos políticos de uma elite rural dividida e acabou sendo modificado em parte, atendendo às vivências de uma sociedade com forte influência católica e moralizadora.Como não foi possível determinar quando a Escola Rural Modelo deixou de ser desse tipo, é premente um futuro estudo sobre quando e por que este projeto se deslegitimou para a sociedade pernambucana.
Palavras-chave: Educação Rural, Escola Rural Modelo Aníbal Falcão/Alberto Torres, Memória da educação pernambucana.