65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal
O DNA DO CAPARARI (Pseudoplatystoma tigrinum, SILURIFORMES: PIMELODIDAE) RESPONDE: ESSE PEIXE FORMA UMA ÚNICA POPULAÇÃO NAS BACIAS AMAZÔNICA, BOLIVIANA E DO ORINOCO?
Antonio Saulo Cunha Machado - Bolsista FAPEAM – Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia – UFAM
Kyara Martins Formiga - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
Henrique de Oliveira Lima - Bolsista FAPEAM - Programa de Iniciação Cientifica - UFAM/INPA
José Gregorio Martínez - Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia – UFAM
Tomas Hrbek - Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Jacqueline da Silva Batista - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA
INTRODUÇÃO:
A estrutura ou diferenciação genética populacional de uma espécie é o padrão da distribuição da variação genética dentro e entre populações. A identificação dessa estrutura é possível mediante a utilização de técnicas de biologia molecular. Algumas espécies de peixes do gênero Pseudoplatystoma são estruturadas em grupos de indivíduos geneticamente mais semelhantes. E essas espécies têm grande importância, ecológica e econômica, por serem predadores de topo na cadeia alimentar e por serem comercializadas e usadas para consumo humano, gerando emprego e renda. Podem ainda estar ameaçadas devido à grande exploração pesqueira e projetos hidroelétricos. Torna-se importante, conservar os recursos genéticos do caparari (P. tigrinum), para garantir e manter a diversidade genética. A capacidade de manejo da pesca e a aplicação de modelos estatísticos para administração pesqueira dependem do conhecimento da estrutura genética das espécies. Considerando o hábito migratório desta espécie, neste trabalho foi testada a hipótese de que as cachoeiras do alto rio Madeira (divisão entre as bacias amazônica brasileira e boliviana) e as cachoeiras do canal do Cassiquiare (divisão entre as bacias do Orinoco e amazônica) não atuam como barreiras ao fluxo gênico nesta espécie.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Verificar o nível de estrutura genética de P. tigrinum entre as bacias: amazônica brasileira, amazônica boliviana e do Orinoco e se as corredeiras e cachoeiras do rio Madeira e do canal do Cassiquiare atuam como barreiras para o fluxo gênico nesta espécie.
MÉTODOS:
Foram coletados 188 espécimes de P. tigrinum distribuídos 15 localidades, sendo 12 na bacia amazônica brasileira (Tabatinga, Tefé, Anamã, Manaus, Nhamundá, Santarém, Rio Branco, Lábrea, Manicoré, Humaitá, Porto Velho e Itaituba), uma na bacia boliviana (Guayaramerín) e 2 na bacia do Orinoco na Colômbia (Puerto Carreño e Puerto López). As 15 localidades foram distribuídas em três macrorregiões, sendo uma representando cada bacia. A extração de DNA foi feita de acordo com o protocolo de Fenol-Clorofórmio. Para verificar o nível de estrutura genética populacional de P. tigrinum foi amplificado por PCR (Reação da Polimerase em Cadeia) o seguimento do gene do DNA mitocondrial, citocromo oxidase subunidade I (COI), em seguida foi feita a purificação do produto da PCR com PEG 8000 20% com NaCl a 2,5M. Para a reação de sequenciamento de DNA foi usado o Kit BigDye Terminator v3.1. Para as análises foram usados os programas: DNASP para verificar o número de haplótipos, TREEFINDER para construção da rede de haplótipos, ARLEQUIN para inferir a diferenciação entre as bacias por meio da AMOVA, o índice de fixação ФST para estimar o nível de diferenciação genética par-a-par entre as localidades e estimativas de fluxo gênico (taxas de migração), baseado no número de migrantes por geração (Nm).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram analisadas 188 sequências do gene COI totalizando 536 pares de bases. Foram observados 13 haplótipos, o haplótipo mais frequente apresentou 164 sequências representando espécimes de todas as localidades. A rede de haplótipo revelou uma genealogia de estrela, com um haplótipo centralizado largamente distribuído. A partir do haplótipo central, 11 haplótipos divergiram em uma mutação e um haplótipo divergiu em duas mutações, estes resultados podem indicar que os espécimes de P. tigrinum podem ter passado por um crescimento populacional recente. Indivíduos das três bacias foram analisados com a AMOVA em um único nível hierárquico. Foi observado que 99,46% da variação genética está dentro das bacias, e 0,54% entre as três bacias. Os valores de ФST par-a-par variaram de 0,0000 a 0,0168(P > 0,1014) esses resultados juntamente com os valores de Nm, que variaram entre 29,333 a 53,602, indicam alto fluxo gênico de P.tigrinum entre as três bacias hidrográficas indicando ausência de estrutura genética significativa.
CONCLUSÕES:
Esses resultados diferem dos resultados obtidos por Ramirez (2001) que encontrou diferenciação genética de P. tigrinum, utilizando marcadores moleculares isoenzimáticos, entre a bacia Amazônica e a bacia do Orinoco. Pode-se constatar que as corredeiras e cachoeiras do rio Madeira e do canal do Cassiquiare não atuam como barreiras para o fluxo gênico dos espécimes de P. tigrinum. Os espécimes de P. tigrinum provenientes de ambiente natural são compostos por uma única população panmítica, onde a chance de cruzamento entre os indivíduos é a mesma. P. tigrinum tem um padrão genético diferente do que tem sido relatado para outras espécies do gênero. Estrutura genética significativa foi verificada em P. corruscans entre as bacias do Paraná e do São Francisco (Carvalho et al. 2012), estrutura genética de linhagem materna em localidades onde existem cachoeiras, para de P. fasciatum (Coronel et al. 2004). Os dados adquiridos a partir deste trabalho podem ser úteis para administração pesqueira e servir como subsídios na elaboração de estratégias de políticas de manejo e conservação do P. tigrinum na bacia Amazônica, boliviana e do Orinoco.
Palavras-chave: COI (Código de Barras de DNA), Conservação, Pseudoplatystoma tigrinum.