65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
TAMANHO É DOCUMENTO? ANÁLISE DO ACÚMULO DE SERAPILHEIRA EM REMANESCENTES FLORESTAIS DE UM TRECHO DA FLORESTA ATLÂNTICA NORDESTINA
Patrícia Barbosa Lima - Doutoranda - Depto. de Biologia - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Liliane Ferreira Lima - Doutoranda - Depto. de Biologia - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Angélica Cândida Ferreira - Graduanda – Depto. de Biologia - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Tássia de Sousa Pinheiro - Doutoranda - Depto. de Biologia – Universidade Federal Rural de Pernambuco
Marcelo Tabarelli - Prof. Dr. – Depto. de Biologia – Universidade Federal de Pernambuco
Carmen Silvia Zickel - Profa. Dra. - Depto. de Biologia – Universidade Federal Rural de Pernambuco
INTRODUÇÃO:
A cobertura da floresta Atlântica vem sofrendo intensa fragmentação, em virtude do desmatamento descontrolado para a formação, sobretudo, de áreas agrícolas. Atualmente, observa-se que seus remanescentes possuem diferentes tamanhos e formas e estão localizados em áreas mais elevadas da paisagem, muitas vezes de difícil acesso e inadequadas à agricultura. A formação de pequenas e isoladas manchas florestais tem ocasionado a criação abrupta de bordas, que desencadeiam diversas alterações nas condições microclimáticas até mais de cem metros para o interior da floresta, em muitos casos, dominando por completo os remanescentes. Dentre as modificações é possível destacar o incremento na luminosidade e na intensidade dos ventos, além da diminuição na umidade do ar e do solo. Tais condições afetam fisiologicamente muitas espécies vegetais, contribuindo para o aumento na queda de folhas e/ou na mortalidade de muitos indivíduos, principalmente das espécies de estágios sucessionais iniciais estabelecidas em tais locais, visto suas elevadas taxas de renovação. Um ponto importante é que tanto a produção quanto o acúmulo de serapilheira podem variar, mas, geralmente, em ambientes nos quais o efeito de borda é mais intenso observa-se menores taxas de decomposição devido ao dessecamento.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este estudo teve por objetivo verificar se o tamanho do fragmento florestal interfere na quantidade de serapilheira acumulada, visando testar a hipótese de que o acúmulo de serapilheira é inversamente proporcional ao tamanho do remanescente florestal.
MÉTODOS:
A coleta dos dados de acúmulo de serapilheira foi realizada entre os meses de outubro de 2010 e março de 2011, sendo estabelecidos, aleatoriamente, 100 pontos de coleta de serapilheira ao longo de 11 remanescentes de distintos tamanhos. Coletou-se toda matéria orgânica morta acima do nível do solo contida em uma moldura coletora de 50×50 cm. Cada amostra foi transferida para sacos de papel madeira (devidamente lacrados e identificados) para secagem em estufa elétrica (a uma temperatura de 50ºC) até adquirirem peso constante (peso seco), sendo o material pesado em balança de precisão com capacidade de 5 kg e sensibilidade de 1g. Para a análise da quantidade de serapilheira acumulada, os fragmentos foram classificados de acordo com o tamanho: 1) Classe 1 - quatro remanescentes com dimensões variando entre 7,84 ha a 26,42 ha; 2) Classe 2 - três remanescentes com dimensões variando entre 33,71 ha e 42,04; 3) Classe 3 – três remanescentes com dimensões variando entre 68,49 ha e 83, 63 ha; e 4) Classe 4 – um remanescente com dimensão de 3.500 ha. A variação da quantidade de serapilheira acumulada foi avaliada a partir de uma Análise de Variância (um fator) com o Teste de Tukey a posteriori.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados exibem que de fato a quantidade de serapilheira acumulada é maior em remanescentes com menores dimensões, quando se comparado com um fragmento de grandes proporções (F = 9,2898; p< 0,0001). Contudo, quando se analisa remanescentes com tamanhos menores do que 100 ha, não se observa diferença entre os tratamentos (F = 0,4047; p = 0,675). Geralmente, o acúmulo de serapilheira está associado tanto à produção de serapilheira quanto à velocidade de decomposição. Dessa forma, sugere-se que os resultados obtidos podem ser explicados pelo fato dos pequenos remanescentes florestais ainda estarem sofrendo com os efeitos de borda, sobretudo, pelo aumento da intensidade luminosa e pela diminuição da umidade, que causa a dessecação do ambiente e o estresse hídrico na flora existente (com consequente liberação de folhas), além da redução nas taxas de decomposição. E, ainda pelo maior remanescente, mesmo apresentando elevada complexidade estrutural e na composição florística, apresentar elevadas taxas de decomposição (devido a maior umidade) e possuir um baixo número de espécies sucessionais iniciais.
CONCLUSÕES:
Este estudo permitiu observar que a diminuição na dimensão das florestas desencadeia a intensificação dos efeitos de borda, que alteram fortemente a produção, a velocidade da decomposição e, consequentemente, o acúmulo da serapilheira. Dessa forma, faz-se necessário entender os padrões de acúmulo de serapilheira, visto que o seu acúmulo pode indicar o quão frágil é o ecossistema.
Palavras-chave: Decomposição, Efeito de Borda, Estresse Hídrico.