65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NO COXIPÓ DO OURO, CUIABÁ-MT: CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVAS DE FUTURO.
Aline Martins de Oliveira - Depto. de Educação - UFMT
Ana Carla de Lima Albernaz - Depto. de Educação - UFMT
Darci Secchi - Prof. Dr./Orientador – Depto. de Educação - UFMT
INTRODUÇÃO:
As discussões e projetos em torno da Educação do Campo no Brasil estiveram, historicamente, inseridas no contexto da seguinte matriz agrária: latifúndio, monocultora e escravidão. É a partir dos anos 1930, paralelo aos projetos de “modernização do campo”, com o patrocínio de organismos de cooperação norte-americana e do sistema de assistência técnica e extensão rural, se esboça um primeiro modelo de educação rural. Apesar das dificuldades, obteve-se alguns avanços, especialmente com as políticas específicas que contemplam a perspectiva de tratar a Educação do Campo como um ensino diferenciado. Contudo, é necessário avaliar como os jovens se vêm, como percebem tais políticas e como elas impactam nas escolhas do seu projeto de futuro. A pergunta fundamental que persiste no imaginário e no cotidiano dos jovens há décadas continua a mesma: concluir o ensino médio para permanecer atuando no campo ou sair em busca de outras condições de vida nas áreas urbanas? O presente estudo se propõe a discutir tal temática, associada aos anseios, sonhos e desejos colhidos dentre os estudantes do 3.º ano da EMREB “Nossa Senhora da Penha de França” no interior do município de Cuiabá-MT.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Nosso objetivo é analisar a perspectiva de futuro dos alunos do 3.º ano do 2.º Grau da EMREB “Nossa Senhora da Penha de França”, município de Cuiabá-MT após a conclusão do último ano do Ensino Médio, considerando o aspecto sóciocultural e econômico em que estão inseridos.
MÉTODOS:
Para a pesquisa na EMREB “Nossa Senhora da Penha de França”, fizemos um aprofundamento teórico acerca da Educação no Campo por meio da leitura e debate das seguintes fontes: “Reflexões acerca da educação do campo em Mato Grosso: o processo de inclusão social a partir da política educacional”, de autoria de Amanda P. da Silva e Lisanil da C. P. Pereira; “Movimentos sociais e educação no campo”, Renato R. Daltro; “Educação no campo e desenvolvimento: uma relação construída ao longo da história”, de autoria de Maria do S. Silva; “Caminhos e descaminhos da educação no campo: um projeto de intervenção político-pedagógico no contexto rural”, de Claudemiro G. do Nascimento; e “Consolidação das políticas educacionais do campo”, de Rodney Garcia. Em seguida, elaboramos os instrumentos de coleta de dados compostos por um questionário com questões semiestruturado para estudantes e professores. Fizemos um período de observação dirigida no ambiente escolar, discutimos os objetivos da pesquisa e distribuímos o questionário para uma amostragem de 60% dos estudantes daquela série, o que totalizou 38 alunos. Aplicamos também um questionário para cinco professores do quadro docente da escola. Os dados obtidos foram tabulados e analisados e serviram como base para ao resultado final da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os dados colhidos dos alunos apontaram os seguintes resultados como sendo as suas perspectivas de futuro: a) 92,11% pretendem cursar um curso superior; b) 76% acreditam que para ter um futuro melhor é necessário se formar em profissões liberais como medicina, direito e engenharias; c) 81,58% afirmam ter que deixar o distrito de Coxipó do Ouro para seguir sua profissão. Esses dados nos fazem questionar a relação entre cidade e campo, cujo formato no Brasil, se materializa por relegar os estudantes do campo ao esquecimento, sem lhes oferecer alternativas de permanência e de realização de suas potencialidades. Ao contrário, induz os jovens a abandonarem o campo e a buscar a cidade, por percebê-la como a única possibilidade de realização pessoal e de melhoria das condições de vida e de trabalho. Os alunos apontaram vários fatores limitadores para o sucesso da escola do campo, principalmente os relacionados à estrutura física e ao quadro de profissionais. Ainda assim, 92,11% acreditam que a escola pode ajudar a realizar o sonho de seguir a profissão escolhida. De igual forma, 97,37% responderam que a educação proporcionada pela unidade escolar pesquisada pode mudar suas vidas para melhor, especialmente se continuarem seus estudos em cursos superiores.
CONCLUSÕES:
É perceptível e compreensível que os alunos do campo anseiam por um curso superior e por um ‘futuro melhor’. No entanto, estes anseios, no contexto pesquisado e em tantos outros, parecem exigir do estudante o abandono do campo, quer pela precariedade das oportunidades, pela pouca qualidade do ensino médio ofertado ou, mesmo, pela observação empírica da vida dos pais e parentes – em sua maioria, profissionais simples de trabalhos manuais. Portanto, percebemos que a Educação do Campo atualmente existente, ainda não atende às expectativas dos estudantes, quer pela pouca qualidade, quer pelas limitações estruturais e materiais, quer pela incapacidade de fixação dos jovens em trabalhos no campo. Ao contrário, da forma como se consolidou, resultou no incentivo ao êxodo rural (que caracteriza a realidade agrária brasileira desde a década de 1960) impondo aos jovens a (falsa?) impressão de que a cidade lhes proporciona melhores condições de vida. Portanto, a pergunta renitente ainda permanece: o estudante do campo conclui o ensino médio para quê?
Palavras-chave: Educação do campo, Escolas rurais, EMREB “Nossa Senhora de Penha de França”.