65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
A ÁFRICA DENTRO DE NÓS
Flaviane Duarte do Monte Oliveira - Profª. - Prefeitura da Cidade do Recife - PE
INTRODUÇÃO:
A lei 10.639/03 reforça a discussão sobre as influências e presença da cultura afro-brasileira na sociedade, no entanto, a discriminação e o preconceito ainda permeiam muitas interações sociais e as ações afirmativas precisam ganhar mais espaço e evidência no cenário nacional. O que as escolas estão fazendo para articular essa discussão e formar cidadãos críticos e conhecedores da sua cultura? Segundo Petronilha Silva (2011) “nós brasileiros oriundos de diferentes grupos étnico-raciais-indigenas, africanos, europeus, asiáticos -, aprendemos a nos situar na sociedade... por meio de práticas sociais” (SILVA, 2011, p. 14), onde tais relações étnico-raciais no contexto social e também pedagógico acolhem, rejeitam e modificam os conhecimentos e as expressões culturais de cada indivíduo. Neste sentido, o projeto visou estimular reflexões críticas sobre a influência na história, memória e cultura dos descendentes de africanos no Brasil. Notou-se que as crianças identificam e compreendem sua cor, características fenotípicas e costumes através de seus familiares e expressam esse conhecimento com orgulho, respeito e curiosidade. Logo, pode-se afirmar que explorar a cultura afro-brasileira na sala de aula é um viés praticável por tornar as relações com os conteúdos mais significativas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Buscou-se desenvolver neste projeto o reconhecimento da importância do negro na cultura brasileira; estimular atitudes conscientes e não preconceituosas com as etnias; valorizar costumes que identifiquem práticas enraizadas na cultura afro-brasileira; e construir sua identidade enquanto pessoa negra, parda, branca, amarela ou indígena integrada em práticas que respeitem as diferenças culturais.
MÉTODOS:
Planejou-se uma sequência didática (LEAL, 2005), onde a partir da problematização “Sou negra, mas minha cor é parda” discutiu-se o conceito das etnias raciais por meio da perspectiva da auto-declaração. Foi usado diferentes materiais pedagógicos e com isto os alunos do 4° Ano refletiram e se auto-declararam na aula. Esta foi a sequência das atividades realizadas:
1° dia
Exploração geral do assunto, uso de reportagens sobre cotas raciais e preconceito racial, e fotos de crianças de várias etnias;
Caracterização e construção de gráfico das etnias raciais nas quais os alunos se identificavam.
2° dia
Organização de um cartaz com o gráfico da primeira aula e outro sobre a igualdade de direitos na sociedade.
3° dia
Roda de leitura das histórias Menina bonita de laço de fita e Betina, interpretação e produção de desenhos e frases sobre identidade e herança dos antepassados.
A culinária africana no Brasil.
4° dia
Discussão sobre a história de Zumbi dos Palmares, leitura do conto “Palmares, sonho de liberdade”.
Organização da turma em 2 grupos de pesquisa: Tema 1 – “A vida dos escravos” ; Tema 2 – “Consciência negra”.
5° dia
Discussão sobre os textos pesquisados e montagem dos cartazes.
6° dia
Socialização dos trabalhos no pátio da escola.
7° dia
Visita ao museu Homem do Nordeste, dia 13/12/2012.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Percebemos que as atividades propostas sensibilizaram bastante os alunos e proporcionaram excelentes momentos de discussões, onde a atividade de reconhecimento da própria etnia foi muito explorada e proveitosa para a turma. Explicitaram bons argumentos nos debates, onde apesar da fala de alguns expressarem o sintoma de preconceito, havia uma explicação para descaracterizar a ideia preconceituosa: A1: “Vixe, olha pra boca desse homem” P: “É um costume deles pintar e se vestir desse modo” A2: “Do mesmo jeito que agente vai pra uma procissão eles fazem isso ai” P: “Muito bem! Do mesmo jeito eles iriam...” A2: “Ia estranhar um monte de gente na procissão”. A leitura das histórias infantis e de contos africanos foi muito proveitosa pela exploração das imagens nas quais as crianças interagiam e contavam casos que conheciam sobre racismo. Outro aspecto interessante foi quando eles se identificavam e indicavam características dos personagens semelhantes às suas: A1: “A boca da menina bonita de laço de fita parece com a boca de ...” A2: “Eita é mesmo, o nariz é igual ao de ...” (risos). Neste sentido, trabalhar a temática racial no âmbito escolar é fundamental para a formação de cidadãos com pontos de vista críticos e que se reconhecem enquanto indivíduos sócio-histórico-culturais.
CONCLUSÕES:
Concluímos através da sequência didática que trabalhar a temática Afro-Brasileira na sala de aula é um viés praticável por tornar as relações com os conteúdos mais significativas, os educandos se identificam com o assunto, socializam e mobilizam seus conhecimentos e que, consequentemente, irão refletir em suas ações no dia-a-dia. A partir de uma problematização e do desenvolvimento das atividades sequenciadas as crianças compreenderam e se envolveram na maioria das situações propostas e formaram conceitos relacionados à sua identidade racial através da discussão da sua história e dos seus familiares. A escolha de bons textos e imagens durante a elaboração do planejamento contribui muito e é um componente motivador que cria um elo entre o conteúdo estudado e as experiências do estudante, onde é possível o professor alcançar um nível de sensibilização dos seus alunos nas aulas. Além disso, vale destacar que eles desempenharam ações de respeito com o próximo. Desse modo, há a necessidade nas Redes públicas de Ensino e nos Cursos de Formação de professores o constante incentivo, divulgação e a legitimação de políticas públicas que conduzam à quebra de ideias preconceituosas e de paradigmas construídos historicamente que sustentam a dominação da ideologia do branqueamento.
Palavras-chave: Cultura afro-brasileira, Identidade racial, Sequência didática.