65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica
ANÁLISE PSICOMÉTRICA DA CAPACIDADE COGNITIVA DE PACIENTES COM DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA ATRAVÉS DO MINIEXAME DO ESTADO MENTAL
Aline Alves Lopes - UFPB
Fernando Roberto Gondim Cabral de Vasconcelos - UFPB
Joyce Freire Gonçalves de Melo - UFPB
Mariah Malheiros Costa Martins - UFPB
José Luis Simões Maroja - UFPB
Rilva Lopes de Sousa-Muñoz - UFPB
INTRODUÇÃO:
A síndrome de insuficiência hepática tem alta prevalência em enfermarias de hospitais universitários, para onde é conduzida a maior parte dos portadores de hepatopatias crônicas clinicamente descompensadas. Este tema mantém sua atualidade e interesse, não apenas devido à sua alta incidência no Brasil, mas também pelo fato de ser pouco estudado sob o ângulo do estado cognitivo. A prevalência da encefalopatia hepática (EH) nesses pacientes é habitualmente subestimada em virtude da preservação das habilidades verbais dos pacientes em estádios iniciais desta complicação neurológica. As funções psicomotoras e viso-espaciais, que são afetadas precocemente na EH, requerem testes neuropsicométricos para sua avaliação. A forma subclínica da EH é definida pela presença de anormalidades nos testes neuropsicométricos quando o exame clínico é normal. Não tem havido investigações mais consistentes sobre a cognição em hepatopatas e, como consequência, a compreensão da história natural da disfunção cognitiva neste grupo de doentes tem relevância clínica, epidemiológica e social. O objetivo deste trabalho é avaliar a capacidade cognitiva de pacientes com diagnóstico de hepatopatia crônica nas enfermarias de Clínica do HULW.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar a capacidade cognitiva e a prevalência de encefalopatia hepática em pacientes internados com diagnóstico de hepatopatia crônica nas enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), e correlacionar os resultados de avaliação cognitiva breve com sinais clínicos de insuficiência hepática.
MÉTODOS:
Estudo de modelo observacional-transversal, envolvendo pacientes acima de 18 anos com diagnóstico de doença hepática crônica, independente do estabelecimento de etiologia, internados nas enfermarias de clínica médica do HULW, hospital-escola da Universidade Federal da Paraíba. O tamanho da amostra foi estimado em 60 pacientes e o critério de inclusão do estudo foi a presença de diagnóstico de hepatopatia crônica e baseado em critérios clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos, os quais foram analisados por especialistas em Gastroenterologia do HULW/UFPB, além do antecedente de etilismo, atual ou passado. O Mini-Exame de Estado Mental (MEEM) foi aplicado para avaliação cognitiva breve, seguindo-se os critérios de pontuação de corte estabelecidos por Bertolucci et al., conforme a escolaridade do paciente. Para graduação clínica da encefalopatia hepática clínica, utilizaram-se os critérios de Parsons-Smith e para disfunção hepática, a Classificação de Child-Turcotte-Pugh. Avaliou-se a correlação entre os escores de MEEM com a pontuação da Classificação de Child-Turcotte-Pugh, a classificação clínica da EH e valores de exames laboratoriais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A idade variou entre 21 e 85 anos, com média de 52,9 (±15) anos, 60% do sexo masculino (36/60), 5,6 (±4,5) anos de escolaridade, 30% (18/60) analfabetos. Quanto aos sinais de insuficiência hepática, 74,5% tinham icterícia, 70,6%, ascite, 28,8% apresentavam asterixis e 57,6% foram categorizados como Child C. Verificou-se que 43,1% dos pacientes apresentavam encefalopatia clinicamente evidente, corroborando-se as evidências da literatura. A pontuação global média do MEEM foi de 21 (± 5,9) e 53,3% (32/60) obtiveram escore abaixo do ponto de corte esperado para sua escolaridade. Houve correlação negativa entre o escore global do MEEM e a escolaridade (p=0,009) e com a idade (p=0,0001). Houve 66,6% de concordância entre as classificações feitas através do MEEM e a classificação da EH pelos critérios de Parsons-Smith. Apenas o escore isolado de orientação temporal (p=0,003) e de linguagem (p=0,006) correlacionaram-se com o MEEM. O excedente de casos detectados através da avaliação cognitiva pelo MEEM (10,2%) pode ser atribuído, teoricamente, à presença de quadro de “encefalopatia hepática mínima”, em que há sintomas e sinais cognitivos que passam frequentemente despercebidos ao clínico.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que a prevalência de encefalopatia clinicamente evidente foi 43,1%, enquanto 53,3% dos pacientes apresentaram déficit cognitivo, atribuindo-se uma prevalência estimada de “encefalopatia hepática mínima” a 10,2% da amostra. As duas avaliações (encefalopatia clínica pelos critérios de Parsons-Smith e avaliação pelo MEEM) não se correlacionaram com sinais clínicos de insuficiência hepática, porém associaram-se com a Classificação de Child-Turcotte-Pugh. É importante a realização de estudos posteriores sobre testes neuropsicológicos adequados para detectar sutis alterações cognitivas em hepatopatas e obter, assim, uma intervenção mais precoce e melhores desfechos clínicos.
Palavras-chave: Hepatologia, Exame do estado mental, Capacidade cognitiva.