65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 9. Psicologia Experimental
MEDIDAS PSICOFÍSICAS DO CONTRASTE VISUAL: EFEITO DA DESNUTRIÇÃO EM ÁREAS VISUAIS CORTICAIS
Kamila Maria de Albuquerque Fernandes Santos - Depto. de Psicologia – UFPB
Jayston Winston José Soares Neves - Depto. de Psicologia – UFPB
Débora Najda Medeiros Viana - Depto. de Psicologia – UFPB
Maria José Nunes Gadelha - Depto. de Psicologia – UFPB
Jandilson Avelino da Silva - Depto. de Psicologia – UFPB
Natanael Antonio dos Santos - Prof. Dr./Orientador – Depto. de Psicologia – UFPB
INTRODUÇÃO:
Estudos mostram que a desnutrição é responsável, direta ou indiretamente, pela morte de milhões de crianças por ano e provoca sérias implicações sensoriais comprometendo o desenvolvimento comportamental e cognitivo. As informações que chegam ao córtex visual primário, também denominado córtex estriado ou V1, são distribuídas para demais áreas de modo a concentrar características específicas, como por exemplo, as áreas visuais secundárias V2, V3, V4 e V5 (ou MT). No entanto, pesquisas sugerem que existem déficits em áreas corticais responsáveis pelo processamento visual em crianças desnutridas. Estudos mostram que a desnutrição altera a estrutura e o funcionamento do sistema visual humano fornecendo um forte indício para possíveis alterações no desenvolvimento do contraste e da acuidade visual. A maioria dos estudos psicofísicos envolvendo a função de sensibilidade ao contraste (FSC) utiliza estímulos de grades senoidais baseados na ideia de que estímulos dessa natureza possibilitam o mapeamento de vias e áreas que respondem seletivamente a atributos específicos da cena visual. Desta forma, os dados encontrados mostram que os tipos de desnutrição (atual e pregressa) interagem de formas diferentes com os mecanismos sensórios que processam contraste (Santos, Alencar & Dias, 2009).
OBJETIVO DO TRABALHO:
O processamento da informação no sistema visual é realizado por uma hierarquia neural constituída por múltiplas áreas visuais no cérebro. O presente estudo procurou medir a sensibilidade ao contraste visual de crianças com/sem desnutrição pregressa para diferentes estímulos acromáticos em coordenadas cartesianas.
MÉTODOS:
Mediu-se a SC visual de 20 crianças de 5 a 12 anos de ambos os sexos (10 com desnutrição e 10 saudáveis). Foram utilizados estímulos visuais acromáticos com modulação de grades senoidais verticais e radiais de frequências espaciais de 0,25; 1,0; 2,0; 4,0; 8,0 cpg (ciclo por grau de ângulo visual) e um estímulo neutro com padrão homogêneo de luminância média. Os participantes tinham que escolher entre os estímulos qual era o estímulo teste através do método psicofísico da escolha forçada entre duas alternativas temporais (2AFC). Os estímulos visuais foram gerados em tons de cinza, todos tinham formatos circulares com diâmetro de aproximadamente 7,2 graus de ângulo visual, gerados no centro da tela do monitor. Foi utilizado um monitor de vídeo colorido LG/RCT (Cathodic Ray Tube), com tela plana de 19 polegadas. A tela do monitor apresentava resolução 1024 x 768 pixels e taxa de atualização de 70 Hz, controlado por um microcomputador com placa de vídeo com entrada VGA e DVI; e conectado ao hardware Bits++ (Cambridge Research Systems, Rochester, Kent, England). A função do Bits++ era aumentar a resolução da tela do monitor de 8 para 14 bits, possibilitando a geração de estímulos com melhor definição passando de 256 níveis de escalas de cinza para 16.000 níveis.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Em relação ao estímulo de grade senoidal vertical os dados mostram que crianças sem desnutrição apresentaram maior sensibilidade nas frequências médias quando comparadas com as crianças com desnutrição pregressa. A análise de variância (ANOVA) mostrou diferença significante entre grupos [F(6,2112) = 426,804; p > 0,000] e o teste post-hoc tukey mostrou diferença significativa nas freqüências de 0,6 e 20 cpg com p < 0,05, respectivamente. Quanto ao estimulo grade radial a ANOVA também mostrou diferença significativa entre os grupos [F(4,210) = 7,2614; p> 0,001], já a análise com teste post-hoc tukey mostrou diferença significativa nas freqüências de 2,5 com (p<0,001) e 20cpg (p<0,001). Os resultados mostram que os mecanismos que processam o contraste visual diferem de acordo com o padrão de estímulo visual apresentado, uma vez que a grade senoidal vertical é processada em áreas visuais primárias e o estimulo de grade radial em areas visuais secundárias.
CONCLUSÕES:
A maior parte dos estudos psicofísicos envolvendo a FSC utiliza estímulos de grades senoidais baseados na ideia de que estímulos dessa natureza possibilitam o mapeamento de vias e áreas que respondem seletivamente a atributos específicos da cena visual. No entanto, os dados encontrados para estímulos radiais mostram características peculiares acerca dos mecanismos que processam o contraste visual. A idade em que a desnutrição acontece, assim como a duração e a severidade do insulto, são fatores cruciais referentes à como e em que extensão este insulto afeta o cérebro, uma vez que estímulos espaciais são teoricamente processados em áreas visuais diferentes. Com isso a desnutrição pode causar prejuízos no processamento de informações em vias neurais centrais e áreas posteriores.
Palavras-chave: Desnutrição, Função de sensibilidade, Frequências espaciais.