65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 2. Paisagismo e Projetos de Espaços Livres Urbanos
OS ESPAÇOS LIVRES E A PAISAGEM – VISUAIS DO RIO POTENGI NO CENTRO HISTÓRICO DE NATAL (RN).
Ana Karla Pires de Sousa - Departamento de Arquitetura e Urbanismo - UFRN
Paulo José Lisboa Nobre - Prof. Dr./Orientador - Departamento de Arquitetura e Urbanismo - UFRN
INTRODUÇÃO:
O conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Natal/RN, que foi tombado pelo IPHAN em 2010, contempla o núcleo histórico da cidade e sua área de entorno, cuja função é garantir a ambiência do lugar. Ambiência é entendida como aquilo natural ou construído que influi na percepção desses conjuntos, ou a eles se vincula de maneira imediata no espaço, por laços sociais, econômicos ou culturais (CURY, 2000).
Uma característica marcante da área é a proximidade com o Rio Potengi. Embora seja reconhecido o seu valor histórico cultural, o rio não está contido nem na poligonal tombada, nem no seu entorno, mesmo que a Carta de Petrópolis defina o sítio histórico como parte de um contexto amplo que comporta as paisagens natural e construída (CURY, 2000).
A importante relação com o rio é percebida na paisagem desfrutada a partir de alguns espaços livres públicos na área, o que sugere que a preservação e valorização dessas vistas são primordiais e que devem ser protegidas através da legislação. Porém, sem regulamentação específica, fica ao cargo de cada técnico do IPHAN decidir quais alterações no sítio podem vir a comprometer a sua ambiência.
Nesse sentido, o estudo tenta caracterizar essa relação, assim como apontar as agressões visuais existentes.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar a paisagem do centro histórico de Natal e a relação visual entre os seus espaços livres públicos e o Rio Potengi, apontando elementos que venham a contribuir para a normatização da área de entorno do conjunto tombado, auxiliando na manutenção da qualidade visual e trazendo novos elementos ao debate sobre a preservação do patrimônio cultural da cidade.
MÉTODOS:
Foi utilizada a metodologia de análise da paisagem proposta por Paulo dos Santos Pires (1999), em que, a partir de fotos tiradas de determinados pontos de observação, estudam-se os elementos característicos responsáveis pela qualidade da paisagem, a qual é definida pelo autor pelas características mais apreciadas, tais como diversidade, naturalidade, singularidade e complexidade.
Inicialmente foram selecionados os espaços livres do conjunto tombado que apresentam visão para o rio Potengi e, a partir das fotografias dessas visuais, foi feita uma análise que caracterizou a importância dos elementos naturais em contraposição aos construídos. Então, observaram-se quais elementos contribuíam para uma maior qualidade da paisagem, ficando claro qual tipo de atuação humana poderia comprometê-la.
Dos quatro espaços livres selecionados foram obtidas fotografias e analisados seus elementos representativos, como: relevo, água, vegetação e atuações humanas. A água do rio, o mangue ao fundo e alguns pontos de vegetação foram os elementos naturais mais constantes, enquanto que uma das pontes que cruzam o rio, muros, postes, edificações e a pavimentação do centro histórico foram os elementos construídos mais presentes na área tombada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Após a análise constatou-se que poucos são os pontos que ainda permitem a agregação do rio na paisagem. Nos quatro espaços livres analisados, encontrou-se essa visualização de um ou dois ângulos em cada, sendo que o Largo da Igreja do Rosário dos Pretos é o espaço livre com maior número de pontos de visualização para o Rio Potengi.
Ao se determinar a qualidade da paisagem, de acordo com o que foi exposto sobre ambiência e sítio histórico, pode-se destacar entre os elementos naturais o relevo, a vegetação e principalmente a água. Estes, mesmo apresentados em pequena proporção, agregam à paisagem características como naturalidade, diversidade e singularidade.
Dos elementos construídos, os que mais interferem na qualidade da paisagem são muros, fiação e postes, que trazem fragilidade e impacto visual, além de algumas construções com vários pavimentos que servem de bloqueio para a visualização do rio. No entanto, pode-se afirmar que as atuações humanas nem sempre agridem a paisagem.
Há também aquelas que são agregadoras de valor, como o conjunto do patrimônio arquitetônico e a ponte que cruza o rio, que podem ser considerados com qualidade visual se unidos com os elementos naturais.
CONCLUSÕES:
Segundo os dados obtidos, a relação visual entre o centro histórico de Natal e o Rio Potengi é importante, embora, considerando os pontos de observação analisados, existam poucos locais em que ainda se possa percebê-la hoje. Justamente por serem poucos é que existe a necessidade de serem preservados, assegurados através de fortes diretrizes referentes ao entorno do conjunto tombado.
A análise permitiu concluir que se o gabarito e a forma das edificações não forem controlados ocorrerá a perda total dessas poucas visuais que ainda restam. Se retirada parte da ambiência, consequentemente, haverá perda significativa do valor patrimonial da área.
Ao mostrar que algumas visuais devem ser primordialmente preservadas, este trabalho procura trazer novos elementos ao debate sobre a preservação da paisagem, podendo contribuir com o IPHAN na criação de uma regulamentação que impeça o bloqueio total das visuais do Rio Potengi no centro histórico de Natal.
Finalmente, defende-se também a inserção do rio e da vegetação de suas margens na poligonal de entorno, evitando a ocorrência de questões ambientais que também venham a prejudicar a ambiência da área, como assoreamento, desmatamento e outros problemas ambientais recorrentes em diversos rios e recursos naturais da região metropolitana de Natal.
Palavras-chave: Qualidades da paisagem, Patrimônio cultural urbano, Sítio histórico.