65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 8. Química
QUÍMICA: A PERSPECTIVA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO.
André Luiz Barbosa da Silva - Depto. de quimica - UFRPE
Alexandro Cardoso Tenório - Prof. Dr/ orientador - Depto. de educação
Bruna Tarcília Ferraz - Profa. Dr/ orientador - Depto. de educação
INTRODUÇÃO:
Já algum tempo, o modelo de ensino tradicional vem sendo questionado, por não promover uma formação crítica. Nesse sentido, a legislação, desde a LDB de 1988, tem regulado um ensino para a formação cidadã. Dentro desta perspectiva, os parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio (PCN, 2002) defendem que o aprendizado de ciências seja feito através de uma construção cultural mais ampla, desenvolvendo meios para a interpretação de fenômenos naturais. Há também uma preocupação com o papel do aluno no ensino, cada vez mais protagonista no aprendizado (Sá, 2007). Assim, o ensino faria sentido para o aluno, desde que seja contextualizado, valorizando os conhecimentos prévios. O presente trabalho defende que os obstáculos para aprendizagem significativa também decorre de uma percepção de ciência que não tem dialogado com o cotidiano. A tradição de ensinar química tenderia a demonstrar uma química, com pouca relação critica entre conhecimento científico e o cotidiano. Assim, os alunos têm dificuldade de reconhecer os processos químicos em sua volta, e quando o fazem confundem química com outras ciências, e também trazem noções de química, mais relevantes em séculos passados, de difícil relação com a ciência contemporânea, que permeia nosso mundo tecnocientífico.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Trazemos os resultados mais recentes das análises sobre como alunos concebem a química de seu contexto social. A perspectiva é compreender as visões sobre química, enquanto processo reação, ou como elemento ou substancia. E discutir as possíveis aproximações que fazem entre as ciências física, química e biologia, provavelmente fruto das relações que estabelecem com seu dia-a-dia.
MÉTODOS:
A metodologia aqui utilizada seguiu a perspectiva da análise de conteúdo. Assim, dos textos escritos por alunos do ensino médio, tendo o tema gerador “Onde encontro a química meu no dia-a-dia” identificamos três categorias de análise: elemento-substância, processo química/biologia, processo física/química. A análise se deu encontrando fragmentos de textos, que encerravam sentidos semelhantes. De tal modo, foi possível inferir a percepção dos alunos em relação à química. A pesquisa aqui realizada caracteriza-se como qualitativa e descritiva, pois fundamenta-se na interpretação dos fenômenos e na atribuição de significados, analisando os dados indutivamente (Silva, 2001). A presente pesquisa foi assim realizada com onze alunos do primeiro ano do ensino médio, solicitando que escrevessem um texto argumentativo, que visava estimular os alunos a pensar sobre a química de uma forma contextualizada. E assim, das análises dos onze textos, foi possível inferir a visão dos alunos quanto à presença da química em seus cotidianos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir dos argumentos apresentados pelos alunos foi possível inferir a prevalência da visão de química enquanto produto ou elemento químico, muito associado à tabela periódica (“nos minerais dos alimentos”), em detrimento da visão da química enquanto processo. E mesmo quando reconhecem a química para além do elemento químico, descrevem o processo de forma muito rudimentar, com poucos aspectos químicos, tentando defender suas posições. E, além disso, normalmente se sobressaem os fenômenos químicos, que ocorrem na biologia animal ou vegetal (“fotossíntese de uma planta”). Das análises, sentimos a ausência de relações entre química contemporânea e tecnologia, por outro lado surgem as problemáticas científicas do século XVII e XVIII, como a química dos gases. Por outro lado, ganha evidência a química como substância ruim, artificial ou veneno, reforçando a perspectiva que “tudo que é bom não contém química”. Além disso, quando o processo é destacado normalmente se revelam fenômenos físicos, demonstrando a fragmentação do ensino das ciências naturais, dificultando aos alunos discernir entre fenômenos físicos e químicos.
CONCLUSÕES:
Após a análise foi possível perceber uma ênfase na percepção de química enquanto substância ou elemento químico, nos permitindo supor que o ensino de ciências tem como desafio, contemplar uma maior contextualização. Afinal, o surgimento da química como processo se volta mais para a descrição superficial dos fenômenos, com argumentos científicos praticamente ausentes. Associado à ideia de química como algo artificial ou ruim, encontramos citações aos remédios, tintas de cabelo, produto inflamável e ácido. Quando a química como processo surge destacam exemplos à fotossíntese, digestão e a respiração. Assim, presenciamos uma restrita visão da química, dificultando reconhecer a química presente nos desafios contemporâneos tecnocientíficos e sociocientíficos, quando discutidos na escola, ou no cotidiano. Dessa forma, defendemos que a contextualização pode ajudar os alunos compreender uma química para além do elemento, desde que sejam problematizadas as reações químicas, as transformações da matéria e suas relações com as questões de nossa época, na perspectiva de promover um ensino de ciências, voltado para a construção significativa de conceitos científicos, socialmente e ambientalmente relevantes, na busca por formar cidadãos cada vez mais consciente de suas escolhas.
Palavras-chave: ensino de química, aprendizagem, percepção.