65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A FORMAÇÃO DE MESAS REDONDAS PARA A DISCUSSÃO DE TEMAS SOCIOCIENTÍFICOS: O ABORTO COMO TEMA GERADOR DE DISCUSSÃO EM SALA DE AULA
Iúri Acksel Santos de Jesus - Depto. de Biociências, UFS, Itabaiana/SE
Iris Rianne Santana Alves - Graduada em Ciências Biológicas, UFS, Itabaiana/SE
Taniela Freitas de Jesus - Depto. de Biociências, UFS, Itabaiana/SE
Marcio Andrei Guimarães - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Biociências, UFS, Itabaiana/SE
INTRODUÇÃO:
Tendo em vista as problemáticas sociais, como a fragilidade da educação pública, cresce a necessidade de formação de cidadãos críticos que estejam preparados para opinar com clareza e discernimento sobre os problemas enfrentados nas sociedades atuais. A discussão de temas sociocientíficos no âmbito de sala de aula é uma ferramenta importante para o exercício da atividade reflexiva e argumentativa para aqueles que possuem uma formação dentro desta perspectiva. Podemos considerar temas sociocientíficos os alimentos transgênicos, a clonagem, a reprodução assistida, o uso de agrotóxicos e o aborto, este último é o tema deste trabalho. É importante que novas abordagens de ensino sejam introduzidas em sala aula e que nos desvencilhemos um pouco de uma perspectiva tradicionalista, a formação de mesas de discussão no âmbito escolar é uma oportunidade do estudante ser ouvido, expressar sua opinião, que por muitas vezes foi reprimida no seu convívio social e familiar. O tema gerador de discussão nesta oficina foi o aborto, por se tratar de um tema controverso, além de ser um problema social, de saúde pública e que envolve questões referentes a ética e a moral.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo principal deste trabalho é relatar uma estratégia de ensino cujo objetivo foi o de despertar o senso crítico dos estudantes, oferecendo uma abordagem discursiva a sua formação como cidadão e capacitando os alunos para uma eventual tomada de decisão.
MÉTODOS:
Este estudo foi realizado dentro do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID) a partir de uma oficina realizada em um colégio estadual na cidade de Itabaiana SE. A turma era composta por vinte e três estudantes do terceiro ano do ensino médio do turno da noite. Os estudantes foram convidados a falar sobre o tema em questão, o aborto. Após uma breve discussão do tema, foi entregue aos estudantes um texto contendo quatro casos que envolviam o aborto, todos esses ocorreram na Irlanda. Os casos eram esses: Na primeira situação a mãe era pobre, solteira, ex-alcoólatra e depressiva, já tinha quatro filhos que se encontravam em um orfanato por que a mãe não possui condição de criá-los e, portanto ela abortou o quinto filho; O segundo caso a mulher é solteira, temia uma gravidez de risco, o que foi descartado posteriormente, mas mesmo assim a mulher decidiu abortar; O terceiro caso a mulher passava por um tratamento de câncer e temia se continuasse com a gravidez acarretar complicações a sua saúde e a do bebê, por isso resolveu abortar; No quarto e último caso uma menina de treze anos foi estuprada e engravidou, então resolveu abortar. Após a leitura dos textos os alunos foram divididos em grupos e redigiram suas opiniões de forma conjunta sobre cada caso exposto no texto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Somente um grupo formado por quatro estudantes se mostrou favorável ao aborto no primeiro caso, com o argumento de que a mulher não teria condições financeiras e psicológicas de criar uma criança e que não seria interessante gerar uma criança para colocar em um orfanato. Em relação ao segundo caso todos os grupos foram contrários ao aborto, pois a gravidez de risco não foi confirmada, o argumento mais citado era o de que a mulher deveria ter usado métodos contraceptivos para prevenir uma gravidez e não recorrer ao aborto. Argumento também muito citado no primeiro caso pelos alunos que se mostraram contrários ao aborto. No terceiro caso, dois grupos se mostraram contrários ao aborto, o primeiro argumenta que não necessariamente mãe e filha ou as duas poderiam morrer, enquanto houver chance de sobrevivência, a gravidez deve ser levada a diante, o outro grupo assim como em todos os casos mostrou-se contrário utilizando-se do argumento religioso, repreendendo qualquer tipo de aborto, mesmo em caso de estupro, uma frase chamou atenção: “Deus está no controle da situação (...) basta crer”. No caso quatro, apenas esse grupo que acabou de ser comentado mostrou-se contrário ao aborto.
CONCLUSÕES:
Independentemente do país, casos como estes são comuns em diferentes regiões do globo, inclusive no Brasil. A discussão de temas como este desperta a capacidade do aluno de refletir os problemas sociais que estão em seu entorno, além de aperfeiçoarem a atividade argumentativa. Como era de se esperar as opiniões convergiram e muitas vezes divergiram, independente do caso, pois cada indivíduo formula sua opinião de acordo com sua cultura e com o meio social e familiar no qual está inserido, a religião exerce uma influência considerável em meio a essas discussões, ainda mais no Brasil, o país mais católico do mundo, portanto o argumento religioso é de que “Deus” está no controle da situação e que seja qual for o caso, então a autoridade divina deve se sobrepor a vontade humana. Independente do argumento usado por cada um, o importante foi a formação da mesa redonda e discussão de temas sociocientíficos na escola, fato que é pouco utilizado por professores da rede pública. Nestas oportunidades o estudante tem a liberdade de expor e defender seu argumento sem o receio de ser repreendido contribuindo para uma formação não voltada apenas para prestar um exame vestibular, mas sim para o convívio social com instrução suficiente para a tomada de decisão.
Palavras-chave: Aborto, Discussão, Sociocientífico.