65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 8. Medicina
INTERAÇÃO ESTUDANTE-PACIENTE NA INICIAÇÃO AO EXAME CLÍNICO DO NOVO CURRÍCULO DO CURSO DE MEDICINA DA UFPB
Daniel Idelfonso Dantas - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Gabriel Clemente de Brito Pereira - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Mara Rufino de Andrade - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Tiago Bruno Farias - Universidade Federal da Paraíba - UFPB
José Luis Simões Maroja - Orientador - Depto. de Medicina Interna - CCM - UFPB
Rilva Lopes de Sousa-Muñoz - Profa. Dra. - Depto. de Medicina Interna - CCM - UFPB
INTRODUÇÃO:
As escolas médicas têm a grande responsabilidade de capacitar seus alunos por meio de um currículo que abranja os conhecimentos técnicos necessários, assim como saberes humanísticos, obedecendo às orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Medicina. O novo currículo do curso de Medicina da UFPB começou em 2007 e passou a inserir os estudantes na comunidade desde o primeiro período do curso. A criação de novas disciplinas para os primeiros anos da graduação, com enfoque na promoção e educação em saúde, propicia a inserção do estudante precocemente em atividades práticas relevantes para a sua futura vida profissional, permitindo-lhe conhecer e vivenciar situações variadas de vida e incentivando sua interação ativa com usuários e profissionais de saúde desde o início de sua formação. Esta inovação tem o objetivo de se conseguir que os alunos tenham uma visão holística, valorizando as ações de promoção e prevenção, tanto quanto as de recuperação e de reabilitação. Avaliar a percepção de pacientes das enfermarias de clínica médica e estudantes de Medicina do novo currículo sobre os contatos estudante-paciente ocorridos durante a ministração das aulas de Semiologia do quarto período do curso de graduação médica na UFPB.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar a percepção de pacientes das enfermarias de clínica médica e estudantes de Medicina do novo currículo (a partir de 2007) sobre os contatos estudante-paciente ocorridos durante a ministração das aulas de Semiologia do quarto período do curso de graduação médica na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
MÉTODOS:
Estudo observacional-transversal. A amostra foi composta por dois grupos: (1) estudantes que cursaram a disciplina de Semiologia Médica, e (2) pacientes internados nas enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) e que participaram das aulas práticas de Semiologia Médica durante o semestre. As informações foram coletadas através de entrevistas diretas estruturadas com aplicação de questionários já empregados em pesquisa anterior na vigência do antigo currículo do mesmo curso de Medicina. O questionário estruturado aplicado aos pacientes foi composto pelos seus dados demográficos (idade, sexo, nível de instrução, procedência) e por questões relacionadas à sua vivência como participante das aulas de Medicina. Os itens deste questionário foram aplicados oralmente aos pacientes, e à medida que estes foram respondendo, preencheram-se os dados por escrito no questionário. O questionário destinado à entrevista com os alunos também consistiu de dados demográficos (idade, sexo) e perguntas que solicitavam ao aluno que expusesse como se sentiu diante da situação vivenciada por eles na parte prática da disciplina de Semiologia, com relação à interação com os pacientes internados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Entrevistaram-se 104 alunos de Medicina que haviam concluído a disciplina de Semiologia Médica há menos de três meses, com média de idade média de 21,7 anos (±2,2). Todos consideraram que o contato com os pacientes foi importante para o aprendizado; 70 alunos (67,3%) disseram ter sentido dificuldade em abordar o paciente pela primeira vez, dos quais 68 relataram que a dificuldade diminuiu com o transcorrer da disciplina. Os sentimentos iniciais predominantes foram insegurança/medo (71,2%), curiosidade (39,4%) e vergonha (38,5%) à primeira anamnese; a maior parte dos discentes (85/81,7%) referiu que os pacientes foram receptivos na maioria das vezes. Entrevistaram-se 80 pacientes, com média de idade de 45,3 anos (± 16,9). A maioria (60%) referiu que no momento da internação não foi informada que o hospital era de ensino; 55 (68,8%) mencionaram mais de 10 contatos com estudantes; 66 (82,5%) declararam não se sentirem incomodados em participar das aulas. Embora a maioria tenha dito que não sentia incômodo, somente 29 (36,3%) afirmaram que não aceitariam participar das aulas práticas mesmo que estivessem indispostos; e 62,5% declararam que se sentiam bem ao conversar sobre sua doença com os estudantes.
CONCLUSÕES:
Os resultados deste estudo sugerem que os pacientes não estão sendo devidamente esclarecidos quanto à sua participação voluntária nas aulas de Medicina em hospitalizações no HULW. A percepção da maioria dos pacientes sobre sua participação foi positiva, não diferindo de estudo anterior realizado na vigência do antigo currículo na mesma população. Tais respostas podem relacionar-se à idéia de obrigatoriedade de participação nas aulas em um serviço público. Verificou-se que para os alunos a abordagem do paciente foi permeada por aspectos positivos ou ambíguos sobre a sua receptividade. Diretrizes que norteiem a participação do paciente nesse treinamento são necessárias para que se preserve seu papel didático sem prejuízo para o paciente. Esses resultados podem refletir que os pacientes não estão sendo devidamente esclarecidos sobre sua participação no ensino médico.
Palavras-chave: ensino, percepção, semiologia.