65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
OS DESAFIOS DA EDUCAÇAO ESCOLAR INDIGENA ESPECÍFICA E DIFERENCIADA: UM OLHAR ATRAVÉS DAS ESCOLAS EBENEZER E MARAVILHA DO MUNICÍPIO DE BENJAMIN CONSTANT/AM
Antonia Rodrigues da Silva - Instituto de Natureza e Cultura - INC/UFAM
Rosa Mendonça de Brito - PPGE/FACED/UFAM
Marinete Lourenço Mota - Instituto de Natureza e Cultura - INC/UFAM
INTRODUÇÃO:
A educação escolar indígena, em princípio, objetivava levar os índios a abdicar da sua cultura e da sua língua, contribuindo para aniquilar a diversidade étnica e cultural do Brasil. Ferreira (2001) apud Bergamaschi (2005), assinala que durante o período colonial “o objetivo das práticas educativas [...] era negar a diversidade dos índios, ou seja, aniquilar culturas e incorporar a mão-de-obra indígena à sociedade nacional”. Graças às lutas travadas historicamente, os povos indígenas conquistaram o direito de se manter como grupo étnico e cultural diferenciado, conforme apregoa a Constituição Federal de 1988.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho consiste na apresentação de parte da dissertação de mestrado, resultado da pesquisa realizada junto às escolas indígenas Tikuna “Ebenezer” e “Maravilha”, situadas no município de Benjamin Constant, Alto Solimões – AM.
MÉTODOS:
A metodologia utilizada desenvolveu-se por meio da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo privilegiando como instrumentos a observação participante e a entrevista semi-estruturada e o uso do caderno de campo, gravador e máquina fotográfica. Como colaboradores participaram 34 pessoas (pais, professores (as), alunos (as), Cacique, Gestora, o Coordenador da Educação Escolar Indígena da SEMED e o Coordenador do Museu Maguta ). O tratamento dos dados recebeu uma abordagem qualitativa porque nela a preocupação recai sobre a compreensão e interpretação do fenômeno por meio do “universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2007 p. 21). Como as entrevistas com os alunos não foram bem sucedidas, porque eles ficavam bastante tímidos para falar sobre a questão que envolvia a escola, redirecionamos a estratégia de coleta de dados com aqueles sujeitos através de oficinas. Essa experiência foi rica, proveitosa e envolveram brincadeiras, momentos para eles expressarem sua opinião através da oralidade, da produção escrita e também de desenhos. A mudança do instrumento de coleta dos dados com os alunos foi importante para que pudéssemos atingir objetivo proposto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Com este texto, pretendemos tecer algumas considerações sobre os desafios enfrentados pelos índios Tikuna no processo de efetivação da educação escolar indígena específica e diferenciada. O povo Tikuna compreende um dos grupos indígena mais numeroso do Brasil que tem conseguido se manter como um grupo ético diferenciado, porque tem mantido viva a sua língua e muitos elementos da sua cultura. Frente ao exposto é perfeitamente possível assegurar que os índios Tikuna de Benjamin Constant vivem atualmente um novo tempo da educação escolar porque foi criação a categoria de escola indígena com currículo específico incorporando as disciplinas de Língua Tikuna e Arte e Cultura Tikuna, bem como a realização de concursos e processos seletivos para a contratação de professores Tikuna bilíngue. Todavia, é preciso registrar que ao lado dos significativos avanços no processo de mudança do velho paradigma educacional de educação tradicional, persistem muitos problemas como: a interpretação errônea do que seja a educação específica e diferenciada, inclusive pelos próprios índios.
CONCLUSÕES:
Para que a educação seja específica e diferenciada, é preciso qualificar o sentido da escola diferenciada, ou seja, o povo Tikuna precisa definir o que é e como deve ser uma educação escolar específica e diferenciada e, para qualificar a escola, é necessário qualificar os professores. Sem negar ou desmerecer os relevantes trabalhos empreendidos pela OGPTB , que tem uma presença marcante no tocante a formação dos professores indígenas e na implantação da educação específica e diferenciada, ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas. Além disso, ainda pairam sobre os índios Tikuna o peso do preconceito e da discriminação por parte da sociedade dominante e, muitas vezes, por parte do poder público que insistem em não reconhecer, do ponto de vista prático, a especificidade dos índios Tikuna, dificultando assim, a concretização de uma educação diferenciada. Desta forma, os desafios que se impõem à consolidação de uma educação específica, diferenciada, bilíngue, intercultural e de qualidade nas escolas Tikuna são de ordem interna e externa. Urge transformar as ideias em práticas, a consciência dos problemas em conscientização, ou seja, é necessário envidar esforços no sentido de buscar a superação destes entraves que ora ainda se fazem presentes no contexto escolar indígena. Como nos ensina Gadotti (2000), a ousadia de cada escola está em experimentar o novo e não apenas pensá-lo, ou seja, as discussões, reflexões e análises, devem levar à ação.
Palavras-chave: Educação Escolar Indígena, Diferenciada, Desafios.