65ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 2. Manejo Florestal
DENSIDADE NATURAL E POTENCIAL DE APROVEITAMENTO DOS FRUTOS DE MURUMURU (Astrocaryum ulei BURRET. ARECACEAE) AO LONGO DE FLORESTAS CILIAREAS DO RIO PURUS, ACRE.
Arthur Cavalcante de Oliveira Andrade - Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC/Núcleo de Pesquisa do INPA-ACRE
Écio Rodrigues da Silva - Centro de Ciências Biológicas e da Natureza/Universidade Federal do Acre-UFAC
Marco Antônio Amaro - Centro de Ciências Biológicas e da Natureza/Universidade Federal do Acre-UFAC
Evandro José Linhares Ferreira - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Núcleo de Pesquisa do Acre
INTRODUÇÃO:
Murumuru é um nome popular que se aplica a duas espécies de Astrocaryum (Arecaceae) nativas da Amazônia. Uma delas, A. murumuru, é nativa da Amazônia Oriental e Central. A outra, A. ulei, é endêmica da região Sul-Ocidental da Amazônia e ocorre no Acre e regiões adjacentes da Bolívia, Peru e do Estado do Amazonas.
O murumuru nativo do Acre é uma palmeira de médio porte abundante em florestas de várzea e outros ambientes temporariamente alagados. Ela também pode ocorrer em florestas secundárias e em áreas completamente alteradas pelo homem, especialmente pastagens.
O fruto do murumuru é extremamente oleoso e dele se extrai gordura vegetal inodora e que não rancifica facilmente, muito utilizada na indústria de cosméticos e de alimentos. A maior porcentagem da gordura dos frutos do murumuru é formada por ácido láurico 44%, conhecido por ajudar no fortalecimento do sistema imunológico e ter ação anti-inflamatória.
O potencial econômico do extrativismo dos frutos da espécie sugere que a realização de estudos para intensificar a sua exploração deve ser uma prioritária nas regiões onde o extrativismo da borracha (Hevea brasiliensis) e da castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) está em franca decadência, como é o caso do vale do rio Purus, na região central do Estado do Acre.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Determinar a densidade natural de A. ulei ao longo das florestas ciliares do Rio Purus, no Estado do Acre, para quantificar a produção potencial de frutos e estimar o aproveitamento dos mesmos na extração de gordura e óleo vegetal.
MÉTODOS:
Foram levantadas áreas florestais de ambas as margens do rio Purus, desde o município de Santa Rosa do Purus até a cidade de Boca do Acre, no Amazonas. Foi utilizada a amostragem de conglomerado adaptativo para alocação das parcelas devido à grande incidência de lagos e desmatamentos por toda a área, permitindo a alocação das parcelas em áreas florestais livres de campos e água. Os pontos amostrais consistiram em 4 parcelas de 10 m x 250 m (2.500 m2) estabelecidos a uma distância de 200 metros da margem do rio Purus. A área total amostrada correspondeu a 23,75 hectares, distribuídas em 95 parcelas de 0,25 ha. Esta amostragem era representativa de 167 ha de florestas ciliares. Dentro das parcelas foram mensuradas todasas palmeiras com DAP ≥ 10 cm.
Para a determinação do potencial de produção dos frutos de A. ulei levou-se em conta a densidade natural da espécie ao longo da área estudada e as características dos cachos e frutos. Para a determinação do aproveitamento dos frutos foram usados dados secundários disponíveis na literatura e obtidos através de entrevistas com pessoas envolvidas no comércio dos frutos em outras regiões do Estado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O resultado do levantamento indicou a ocorrência do murumuru em 54 das 95 parcelas levantadas. A densidade das plantas nas parcelas aonde a mesma ocorreu variou entre 4 e 70 indivíduos/ha. Em outra região do Acre, o vale do rio Juruá, foi encontrada uma densidade média que variou entre 41,3 e 93,6 indivíduos adultos de murumuru por hectare.
No que concerne ao potencial de produção de frutos, considerando que cada palmeira produz de 2 a 6 cachos por ano e que cada cacho tem peso médio de 2,15 kg e produz entre 200 e 400 frutos, estima-se que nas parcelas levantadas é possível obter 32,13 toneladas de frutos por ano. Esta produção equivale a 714 sacos de 45 kg de frutos/ano, a unidade de medida utilizada na comercialização dos frutos na região. Cada saco de murumuru é vendido por R$ 14,00 e permite a extração de 11 kg de amêndoas. De cada kg de amêndoas é possível obter 300 g de óleo. Assim, de um saco de frutos é possível extrair 3,3 kg de óleo, cujo preço de comercialização em 2012 era de R$ 19/kg. Portanto, a produção anual de óleo a partir dos frutos colhidos no vale do rio Purus pode girar recursos financeiros equivalentes a R$ 44.767,65.
CONCLUSÕES:
A exploração do murumuru no vale do rio Purus é, sob o ponto de vista econômico, uma atividade com potencial de gerar renda e emprego para algumas das famílias extrativistas daquela região. Entretanto, isso só se concretizará com a consolidação de uma cadeia de produção que possa garantir a compra de frutos, viabilizar a instalação de uma unidade extratora de óleo e o escoamento da produção para outros mercados na regionais ou nacionais.
Palavras-chave: Extrativismo, Astrocaryum, Frutos.