65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
A Nação Pré-Modernista em contos de Lima Barreto e Monteiro Lobato
Marcos Vinicius Caetano da Silva - Universidade de Brasília
Edvaldo Aparecido Bergamo - Orientador
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa discute a representação do nacionalismo literário na época do pré-modernismo no Brasil, sem deixar de considerar os aspectos históricos e artísticos fundamentais, para que se tenha uma compreensão adequada de relevante conjuntura social e cultural, tais como a condição de país colonizado e subdesenvolvido, a incipiente república e a formação lingüística e étnica plural. Esses fatores são colocados em evidência, ao se analisar os contos "Negrinha", "Um suplício moderno" e "O Colocador de Pronomes", de Monteiro Lobato, comparados com "Um especialista", "Como o 'homem' chegou" e "Harakashy e as escolas de Java", de Lima Barreto. A problemática entre língua e norma, as questões do preconceito racial contra o negro e a burocracia intransigente são conflitos/impasses que movimentam as referidas narrativas curtas e dão a ver contradições que desafiavam a nossa literatura empenhada do período, bem como instigavam o pensamento brasileiro mais progressista do tempo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Aprofundar a discussão sobre o processo contraditório de representação da nação na contística pré-modernista de Lima Barreto e Monteiro Lobato, além de obter compreensão de alguns impasses nacionais evidenciados na contística de Lima Barreto e Monteiro Lobato percebidos como empecilhos à constituição de uma identidade nacional plural e contraditória que represente a nação pré-modernista no Brasil.
MÉTODOS:
A pesquisa dividiu-se em partes: a princípio, discutiu-se a problemática da nação no panorama histórico-literário do pré-modernismo brasileiro; em seguida, a questão da língua ganha dinamismo por intermédio da análise dos contos “O Colocador de Pronomes” e “Harakashy e as escolas de Java”, visto que tal discussão é primordial para que se considere outros aspectos; a questão da burocracia é tratada de modo a revelar as condições precárias de funcionamento do organismo estatal, marcado pela falta de planejamento e de preparo, e como tudo isso é manipulado pelo uso direcionada da língua nos contos “Como o ‘homem’ chegou” e “Um suplício moderno”; e finalmente, o preconceito racial revela o tratamento que se dava ao negro em “Negrinha” e “Um especialista”. A parte final consiste na comparação dos textos, tendo como base de análise de todo o trabalho, os pressupostos teóricos norteadores da crítica literária dialética: centro e periferia, localismo e cosmopolitismo e literatura e sociedade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Verificou-se nas análises dos contos que houve uma reflexão sobre a inserção problemática do negro na realidade nacional, assim como o debate interminável sobre o conflito entre norma escrita e língua falada, mas relevante diante das condições de acesso à leitura e ao conhecimento, restritas a um grupo elitizado em relação a outros marginalizados. Também digna de nota é a recepção das idéias importadas, observadas criticamente nas obras, pois eram absorvidas pela classe dirigente do país mediante adaptações impróprias, tendo em vista a formação incompleta da nação brasileira e o processo inconcluso de uma modernização periférica.
CONCLUSÕES:
Considerando a realização narrativa dos autores da literatura brasileira em foco, percebe-se que a representação dos entraves locais, e inerentes à história brasileira, se encontra no modo incongruente como se desenvolve a nação e como tal é captado por setores mais críticos da literatura nacional à época: o conteúdo crítico dos contos em tela possibilita pensar a nação brasileira como projeto inacabado, incompleto, em vista das condições opressoras do subdesenvolvimento cultural, social, político e econômico que persistem e parecem insuperáveis, apesar das promessas republicanas de um progresso cumulativo e de uma modernização salvadora.
Palavras-chave: modernidade periférica, literatura brasileira, pré-modernismo.