65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
DISCIPLINA E VIGILÂNCIA: A EDUCAÇÃO DA MULHER EM INSTITUIÇÕES ESCOLARES CATÓLICAS NA DÉCADA DE 1940
Silvia Helena de Sá Leitão Morais Freire - Depto. de Educação - UERN
Sérgio Luiz Freire Costa - Depto. de Administração - UERN
Maria Antonia Teixeira da Costa - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Educação - UERN
INTRODUÇÃO:
Falar da disciplina escolar que perpassa as Instituições Escolares Católicas, dirigidas por freiras, especificamente para a educação da mulher, significa considerar o contexto sócio-histórico cultural em que essas práticas ocorreram. O presente estudo é parte de uma pesquisa mais ampla que analisa a educação de mulheres no Colégio Nossa Senhora das Vitórias em Assú/RN na década de 1940, sob a direção de freiras Austríacas. Para compreender os procedimentos de disciplina, vigilância, nos respaldamos em Foucault (2011), no qual, apresenta a disciplina, como revelada na leitura do sujeito em movimento, nas formas de controle do seu corpo, das ações, dos gestos, dos comportamentos. Partindo dessa compreensão, a disciplina, mais do que moldar os comportamentos humanos, fabrica corpos submissos. Na instituição Escolar, essa violência simbólica, segundo Bourdie (2011),induz o indivíduo a se posicionar no espaço social seguindo critérios e padrões do discurso dominante, através do estabelecimento de regras, normas, condutas, cumprimento de horários, nesse caso especificamente das meninas, era vigiado o que faziam e o que falavam. Este estudo torna-se relevante para compreendermos o processo educativo no movimento histórico e para história da educação, especificamente da mulher.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A pesquisa objetivou realizar uma reflexão sobre os procedimentos de disciplina e vigilância que produziam no cotidiano a uniformização do sistema de ensino propagado na década de 1940, a fim de compreender como ocorria o processo educativo para a formação da mulher conforme o contexto da época pesquisada.
MÉTODOS:
Pesquisa de metodologia de cunho qualitativo que se respaldou no referencial teórico-metodológico da História Cultural como PERROT (2005), MORAIS (2003), por se tratar de autores que abrem espaço para novas perspectivas de construção e análise de objetos de estudo, como acontecimentos cotidianos, práticas de pessoas comuns, subjetividades e ações, a exemplo das mulheres e de seus processos educativos. Nesses autores buscamos a compreensão da pesquisa histórica em seu tripé: o trabalho com as fontes, a interpretação dos dados e a produção da narrativa escrita. Os procedimentos metodológicos incluíram visitas em arquivos públicos e privados da cidade de Assú/RN, além do Instituto Histórico Geográfico em Natal/RN, em busca de jornais, fotografias, atas e do regimento interno sobre a educação da época, especificamente sobre a educação da mulher. Posteriormente, foi realizada a seleção das fontes, a leitura e a catalogação das informações. De posse dos dados tratados, elencamos as categorias do estudo, tomando como referência o objetivo da pesquisa, a fim de produzirmos as análises e a materialização da escrita.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Nas instituições escolares católicas, sob a direção de freiras, as mulheres eram submetidas a uma disciplina em que servir era ordem, uma formação para ser boa mãe e esposa, preceitos que acompanhava os ideias de formação feminina com objetivo especifico para educar e moldar as ações diárias das meninas (MAGALHÃES JÚNIOR, 2002, p. 79). Ao transpor o conceito de disciplina para nossa reflexão, evidenciamos os efeitos dos vários dispositivos que usados nessas Instituições Escolares Católicas, para manter o funcionamento e organização rigorosa das classes, dos espaços ocupados por professoras e das alunas. O regulamento interno, o olhar meticuloso da Madre superiora, da professora, o controle disciplinar nas formas de comportamento, nas formas de se vestir, na utilização dos métodos de ensino, possibilita perceber o controle dessas meninas, uma vez como afirma Foucault (2011), a disciplina fabrica corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. De acordo com Rodrigues (2007), o documento que destaca esse detalhamento sobre esses comportamentos é o Regimento Interno. Esse documento, continha no seu corpus às normas gerais de funcionamento da Escola, quanto as regras as normas gerais para as alunas semi-internas e internas.
CONCLUSÕES:
A ordem disciplinar interna em instituições escolares católicas previa o cumprimento de horário de chegada e saída, zelo com seus objetos, com a higiene de seu corpo. Essas e outras atribuições exigidas às alunas traziam a cena uma cultura escolar como um conjunto de normas que definia os conhecimentos e as condutas que deveriam ser apreendidas, segundo as finalidades da escola. A educação é atribuída papel fundamental na formação dos sujeitos, pela sua capacidade de disciplina-los, através da interiorização de hábitos, pela vigilância sobre os comportamentos. O final do século XIX e início do século XX, a disciplina escolar e do ponto de vista social, surge como uma necessidade de se firmar a ordenação social. Sobremaneira, a escola surge nesse contexto, assumindo um papel relevante na construção social. Podemos assim perceber que a disciplina é historicamente construída, passando a ser mais um projeto de moralização dos costumes, sendo que deveria estar presente em algumas instituições, a exemplo da escola. Sendo assim, as Instituições Escolares católicas, tinham a missão de educar e disciplinar a mulher e uma educação que seria para além dos seus anseios, mas para contribuir para a civilidade da população e o progresso e social (CHAMON, 2005), (ALMEIDA, 1998).
Palavras-chave: Disciplina, Mulher, Educação.