65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
MATEMÁTICA NO COTIDIANO: A NOÇÃO DOS PEDREIROS SOBRE CÁLCULOS DE ÁREAS DE FIGURAS GEOMÉTRICAS PLANAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Gudemberg José de Santana - FMN/ UPE e SDS/GOV. de PE
José Severino de Oliveira Filho - FMN/ UPE e SDS/GOV. de PE
Marinalva Luiz de Oliveira - Profa. Ms/Orientadora - FMN/UPE; PCR; PMO
INTRODUÇÃO:
O conhecimento matemático se constrói nas necessidades do dia-a-dia, a partir de um simples problema ou fenômeno que exige uma solução rápida e imediata aos anseios do momento. É nesse cenário de necessidades cotidianas e respostas matemáticas que vivenciamos uma prática com um pedreiro da construção civil. Percebemos que ele, ao tentar colocar a área em esquadro, usava uma ‘trena’, e nesses ajustes utilizava-se intuitivamente do Teorema de Pitágoras. Então, numa conversa, o pedreiro contou-nos a respeito de sua escolaridade e concluímos que seu grau de instrução escolar não permitia ainda a apreensão de tal conhecimento matemático. Ao refletir sobre tal experiência, surgiu uma indagação que gerou, assim, a problemática desse estudo: como os pedreiros resolvem problemas que envolvem cálculos de áreas de figuras geométricas planas no canteiro de obra? Tomamos como fundamentação teórica: Bellemain (2002); Douady & Perrin-Glorian (1989); Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as perspectivas etnomatemáticas para o ensino da Matemática, de acordo com Monteiro (2001); D’Ambrosio (1996); Knijnik (1997); Ferreira (1993); Gerdes (1991).
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar como os pedreiros, profissionais da construção civil, realizam os cálculos de áreas de figuras geométricas planas diante de problemas contextualizados; Identificar o perfil social e cultural dos pedreiros; Aplicar uma atividade envolvendo área de figuras geométricas planas através de problemas contextualizados; Verificar como eles resolvem problemas envolvendo áreas de figuras planas.
MÉTODOS:
Este trabalho trata de uma pesquisa de campo, abordagem qualitativa, realizada com seis pedreiros em um canteiro de obras escolhido aleatoriamente no município de Limoeiro, Mata Norte, interior do Estado de Pernambuco. Aplicamos um questionário sociocultural e uma atividade contextualizada composta de um enunciado que ilustrava uma situação e, a partir dela, sugerimos duas questões pertinentes à noção de cálculos de áreas de figuras geométricas planas com soluções exatas. Essa atividade foi exposta por meio de linguagem clara e com recurso ilustrativo para cada questão-problema. Os pesquisados foram auxiliados na leitura dos instrumentos de coleta dos dados, especialmente na atividade contextualizada, visando ao entendimento do enunciado e das questões propostas. A primeira questão retratava subtração de áreas e a segunda retratava a ideia de composição de áreas de figuras geométricas planas semelhantes. Ainda, disponibilizamos materiais como caneta, lápis grafite, borracha e calculadora para que cada pesquisado expressasse como se obteve a solução para cada questão proposta. Os dados coletados foram organizados, interpretados e analisados segundo a proposta de análise de conteúdo de Bardin (2005) e estruturados teoricamente na perspectiva da Etnomatemática.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Ao analisar as respostas relativas ás questões do questionário sociocultural, constatamos que os pedreiros são culturalmente escolarizados através da modalidade de Ensino Regular ou Programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA). Três possuem apenas o Ensino Fundamental incompleto; dois, o Ensino Médio incompleto e um com Ensino Médio completo, mas a metade dos entrevistados, certamente não viu o conceito de área com considerável aprofundamento na escola. De acordo com os PCNs, os alunos começam a ter contato com o conceito de área no final do 2º ciclo, sem uso de fórmulas, compreendendo somente o processo de composição e decomposição de figuras geométricas planas (BRASIL, 1998). Quanto à atividade contextualizada, constatamos que dos seis, apenas dois pedreiros participaram efetivamente na busca por soluções para os dois questionamentos da atividade. Usaram métodos parecidos, mas não igual, uma espécie de estratégia própria de cada um deles desenvolvida ao longo de suas vidas para explicar, entender, manejar e conviver com essa realidade sensível e dinâmica do canteiro de obra. Confirmando, portanto, o que mostra a perspectiva da etnomatemática, segundo D’Ambrosio (1996).
CONCLUSÕES:
O estudo mostra que os pesquisados utilizam procedimentos parecidos para resolver problemas envolvendo áreas de figuras geométricas planas. Procedimentos estes, utilizados por meio de ideias puramente empíricas, sem nenhuma preocupação com o rigor matemático existente. Mas constatamos também que todos os entrevistados reconhecem que o conhecimento matemático visto na escola está sempre presente na prática do canteiro de obras, em linhas gerais da construção civil e se mostraram interessados de retornar à escola, devido à necessidade que tiveram para resolver as questões propostas durante a pesquisa ou mesmo algumas situações que vivenciaram em alguns momentos de suas vidas no decorrer da profissão. O que leva a refletir sobre o cotidiano e os conteúdos matemáticos propostos para o âmbito escolar, uma vez que grande é o desafio para o educador hoje, criar ferramentas pedagógicas eficazes que estimulem o cognitivo de seus alunos. A matemática deve ser vivenciada não só como ciência, mas como fruto de criação social.
Palavras-chave: Cálculo, Área, Etnomatemática.