65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 6. Genética
INVERSÕES PERICÊNTRICAS E CARIOEVOLUÇÃO DOS GOBÍDEOS Microgobius meeki, Evorthodus lyricus E Coryphopterus glaucofraenum
Juliana Galvão Bezerra - Departamento de Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Paulo Augusto de Lima Filho - Departamento de Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN - IFRN
Karlla Danyelle Jorge Amorim - Departamento de Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Roberta Godoy da Costa Nunes - Departamento de Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
Wagner Franco Molina - Departamento de Biologia Celular e Genética, LGRM - UFRN
INTRODUÇÃO:
Gobiidae é a família mais especiosa no ambiente marinho. Dados citogenéticos, apesar da importância em inferências evolutivas, são incipientes frente sua diversidade de espécies, sobretudo para espécies do Atlântico Ocidental. Entretanto tamanha diversidade parece ter sido acompanhada por alterações cromossômicas significativas quando comparada a outros representantes da ordem Perciformes, que exibem elevado conservadorismo cromossômico. No que diz respeito aos aspectos citogenéticos, a maioria das informações para este grupo estão resumidas prioritariamente a descrições numéricas e de morfologia cromossômica que ainda que incipiente no esclarecimento de suas relações filogenéticas, contribui substancialmente para o conhecimento da diversidade na família. As modificações complexas e frequentes na estrutura cariotípica em Gobiidae parecem estar ligadas ao padrão evolutivo deste grupo. Estudos citogenéticos evidenciaram uma tendência à ocorrência de translocações Robertsonianas para a família, com demonstrações de variações cromossômicas intra e interpopulacionais. Neste sentido, a fim de se obter melhor compreensão da diversificação cromossômica desta família, aqui são apresentados os primeiros registros citogenéticos de três espécies do Atlântico Ocidental.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar a evolução cromossômica das espécies Microgobius meeki, Evorthodus lyricus e Coryphopterus glaucofraenum e caracteriza-las cariotipicamente a partir das metodologias de coloração convencional, bandamento C, Ag-RON e coloração com fluorocromos base-específicos (CMA3 e DAPI).
MÉTODOS:
Os gobídeos Coryphopterus glaucofraenum (Gill 1863) (n=7; 4♂/3♀), Microgobius meeki (Evermann & Marsh 1899) (n=3♀) e Evorthodus lyricus (Girard 1858) (n=9; 4♂/5♀) foram coletados no litoral do Rio Grande do Norte com uso de rede de confecção própria. Os exemplares foram submetidos à estimulação mitótica in vivo overnight através de inoculação intramuscular de complexo de antígenos bacterianos e fúngicos (Molina et al., 2010). Os cromossomos mitóticos foram obtidos a partir de suspensão de células do rim anterior (Gold et al., 1990). O número diploide foi estabelecido pela análise de cerca de trinta metáfases, coradas com Giemsa à 5% diluído em tampão fosfato (pH 6.8). As regiões heterocromáticas foram analisadas através de bandamento C (Sumner, 1972). Os cromossomos foram corados com os fluorocromos base-específicos CMA3 e DAPI (Carvalho et al., 2005). Os sítios ribossomais principais das regiões organizadoras de nucléolos (RONs) foram identificados através da impregnação argêntea, de acordo com Howell e Black 1980. As melhores metáfases foram fotografadas em um microscópio OlympusTM BX50, acoplado a um sistema de captura digital de imagens Olympus DP70, e utilizadas na confecção do cariótipo. A morfologia cromossômica foi determinada de acordo com a razão entre os braços (Levan et al., 1964).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As análises citogenéticas realizadas nos gobídeos indicaram valores diploides com 2n=40 (NF=42), para C. glaucofraenum, 2n=42 (NF=82) para M. meeki e 2n=46 (NF= 92) para E. lyricus. Sítios Ag-RONs são encontrados em apenas um par de cromossomos bibraquiais em posição terminal em todas as espécies. O bandamento C evidenciou para os gobídeos analisados segmentos heterocromáticos nas regiões centroméricas. Nas três espécies, as RONs mostraram-se heterocromáticas e com padrão de coloração CMA3+/DAPI-. As espécies já analisadas citogeneticamente da família Gobiidae demonstram cariótipos altamente variáveis. Acompanhado da diversificação numérica, verifica-se notável variação na macroestrutura cariotípica identificada por largos valores de variação para o número de braços cromossômicos (NF=38 a 98), com valor modal de 24,7% para espécies com NF=46. Diversamente de outros grupos Perciformes, em Gobiidae existe uma estreita relação entre rearranjos cromossômicos e processo de especiação, sendo presumível para as espécies analisadas que o mecanismo de inversão pericêntrica tenha desempenhado participação fundamental no processo de diversificação e estabelecimento cariotípico.
CONCLUSÕES:
As três espécies da família Gobiidae demonstraram diversidade cariotípica numérica e estrutural conspícua, indicativa de ocorrência de diferentes mecanismos de modificações cromossômicas, sendo inversões pericêntricas o agente principal. Nossos resultados reforçam o indício de elevada diversidade cariotípica apresentada pelo grupo e relação entre processo especiativo e modificação cromossômica como agente propulsor de diversificação na família Gobiidae.
Palavras-chave: Família Gobiidae, Rearranjo cromossômico, Diversificação cariotípica.