65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
História aprendida nos jornais: historiadores e a imprensa na primeira metade do século XX
Amanda Alves Miranda Cavalcanti - Depto. de História - UFPE
Cibele Barbosa da Silva Andrade - CEHIBRA/MECA
INTRODUÇÃO:
Nas primeiras décadas da República houve uma necessidade de se produzir o arcabouço simbólico republicano com o interesse de construir um novo imaginário para a população brasileira. Os grandes encarregados de efetivar essas premissas foram os intelectuais, imbuídos de ideais importados da Europa que irá fundamentar toda a construção desse projeto republicano. Dentre esses intelectuais estavam os historiadores, que, segundo Ângela de Castro Gomes, são os responsáveis por criar tradições históricas que legitimassem o regime que se instalara além de “educar” a população para essa nova fase política. (GOMES, 2009).
A presente pesquisa pretende apresentar os principais discursos produzidos em veículos de comunicação impressos formulados por historiadores pernambucanos, como os jornais e revistas de grande e média circulação. Discursos que forjariam uma identificação da História do Pernambuco com os ideais republicanos e que, a partir disso, construíram o imaginário histórico-social do Estado. Logo, com esta pesquisa pretende-se avaliar a contribuição desse material impresso para a construção de narrativas históricas identitárias.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar colunas e artigos publicados em jornais de grande e média circulação produzidos por historiadores em Pernambuco, na primeira metade do século XX, bem como as imagens que acompanharam esses textos.
MÉTODOS:
O procedimento metodológico empregado na pesquisa consiste na consulta de artigos da imprensa pernambucana, jornais e revistas de grande circulação, na primeira metade do século XX. A partir da consulta desses jornais foram analisadas colunas que tinham como tema a história de Pernambuco, como a “História em pequenas doses” produzida por Mário Melo, além de serem consultadas coleções pessoais de alguns autores dos textos analisados, como Mário Melo, Aníbal Fernandes e Gilberto Freyre.
A maior parte das fontes utilizadas pertence ao acervo da Fundação Joaquim Nabuco: nos acervos do Centro de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade -CEHIBRA -, no núcleo de microfilmagem, no setor de documentos textuais e iconográficos e no setor de obras raras da Biblioteca Blanche Knopf. Outra parte delas pertence ao Instituto Arqueológico Histórico Geográfico Pernambucano, IAHGP. Vale dizer que também foi encontrada uma parte do material disponibilizado na internet no site da Fundação Joaquim Nabuco e no site do domínio público.
A estratégia metodológica empregada consiste na realização de levantamento de fontes primárias e secundárias. A partir do levantamento das fontes foi elaborado um banco de dados, além da produção de fichamentos para facilitar a análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram analisadas diversas fontes históricas, principalmente de jornais e revistas, como: Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio, Revista do IAGP (Instituto Arqueológico Geográfico Pernambucano) e outras revistas de grande circulação na época. Os principais artigos analisados tratavam das comemorações dos centenários da Revolução de 1817, da Confederação do Equador, da Restauração pernambucana e da Guerra dos Mascates. Com a leitura de mais de 360 textos de caráter histórico foi constatado que há uma associação desses eventos históricos com temas que afirmam as gêneses da formação do Brasil, como: a gênese do sentimento de nacionalidade, republicanismo e democracia. Foi verificado também que, a maioria das fontes, trata da prioridade pernambucana ao republicanismo, demostrando, assim, que os historiadores pernambucanos forçavam uma identificação da História do Estado com os ideais republicanos.
Na pesquisa foca-se em três autores: Mário Melo, Gilberto Freyre e Aníbal Fernandes, que estão entre os historiadores que criam o arcabouço simbólico republicano na primeira metade do século XX e que têm uma presença marcante nos veículos impressos de comunicação, meios propagação de informação e formadores de opinião.
CONCLUSÕES:
Como o foco principal da pesquisa é a escrita histórica dos intelectuais na imprensa – meio de comunicação popularizado que atingia maior número de leitores, comparado a outros veículos mais elitizados – foi possível notar a necessidade da popularização do saber histórico no Estado. Logo, conclui-se que o que era produzido pelos grandes intelectuais pernambucanos chegaria aos “becos mais estreitos” da sociedade, educando-a para o novo projeto político que se instalara no Brasil.
O grande interesse da pesquisa é demonstrar, através da análise do material coletado, que o imaginário coletivo pernambucano relacionado às glórias do passado histórico é uma invenção daqueles intelectuais da primeira metade do século XX, que procuraram, através da criação de tradições históricas, legitimar o regime republicano instalado. Além de perceber as permanências dessa memória criada presente ainda nos dias de hoje.
Palavras-chave: República, Historiadores, Imprensa.