65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 4. Literaturas Modernas
A PAIXÃO SEGUNDO G.H: UM CONVITE AO SILÊNCIO
Ana Carla Costa Castilho - Graduanda - UFPA
Antônio Máximo Von Sohsten Gomes Ferraz - Prof. Dr./Orientador - UFPA
INTRODUÇÃO:
Em A Paixão Segundo G.H. (1964) a trama consiste no encontro de uma mulher, bem sucedida que vive sozinha em uma cobertura no Rio de Janeiro, com uma barata. A protagonista – G.H – mata o inseto e o come. Este episódio é o ponto de partida para uma reflexão de mais de duzentas páginas sobre o encontro do ser humano consigo mesmo e seu nascimento para a vida. A autoprocura da personagem a leva ao silêncio e à renúncia da linguagem, ao nada, de que as questões emanam. A obra mostra assim a questão do que é a realidade, expondo a trajetória da personagem que passa de um externo alienado para um externo questionante.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esta pesquisa objetiva interpretar a obra A Paixão Segundo G.H, percorrendo a questão do silêncio na travessia para o próprio. O romance nos induz a uma travessia, viagem do ser humano, pela questão de quem ele é – travessia que tem como senda extrema o encontro com as questões do silêncio e o nada. A questão é fundada como procura do que é próprio do ser humano.
MÉTODOS:
O método utilizado na interpretação do romance foi o Hermenêutico, pelo qual o interprete ao interrogar as questões que a obra opera acaba sendo por ela interrogado.
A hermenêutica ontológica passa essencialmente pela "questão que é digna de ser pensada", pela “questão do pensamento”. Neste trabalho temos o método não engessado pelas formulações metodológicas, mas caminhando junto com as inquietações que a obra poética nos lança.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Estabeleceu-se um diálogo entre o leitor e a obra buscando o sentido originário do fazer poético, que acontece no diálogo do interprete com as questões do leitor. O leitor que a priori pergunta “quem é G.H?” passa a se perguntar: quem eu sou? Observou-se ainda o modo como o romance opera na desconstrução da subjetividade.
A Paixão Segundo G.H nos faz imerge no desconforto da Vida, da qual somos questão. Nessa trajetória da personagem há a experiência de uma ausência que fere: uma necessidade de voltar a se ter o que nunca se teve. Temos a estranheza de algo que nos é muito próximo, porém que se ausenta nesta proximidade. Angustiamo-nos. A extraordinária condição da vida se manifesta na graça do viver, pulsa desorganizadamente como envios de um real que não mira um alvo, apenas se lança na sua própria trajetória.
CONCLUSÕES:
Na obra A paixão segundo G.H, nos deparamos com um personagem que vive sobre o olhar do outro: “O mundo se me olha. Tudo olha pra tudo, tudo vive o outro; neste deserto as coisas sabem as coisas” (PSGH, p.62). A personagem teve de se ver não mais de fora, mas se isentando de seus velhos conceitos, sociais e morais. O outro lado do espelho aparece no texto por meio das expressões “se me olha”, “se me é”. Diante desse olhar não há piedade e só resta o calar. Foi necessário a G.H o esvaziamento de si, toda sua experiência não teve nome, foi necessário ela ser barata para poder ver o outro. Foi necessário ser humana se desencontrar e se procurar. O olhar angustiado da personagem só foi possível através da mudez da palavra, do indizível. Para nós, leitores, este silêncio nos lança em uma travessia que nos leva a questionar quem nós próprios somos.
Palavras-chave: Silêncio, Procura, Poético.