65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
FATORES DE EVITABILIDADE DA MORTALIDADE PERINATAL, RECIFE (PE), 2010
Midiã Gomes da Silva - Depto de Ciências da Saúde, Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU
Conceição Oliveira - Dept de Ciências da Saúde, Centro de Pesquisa Ageu Magalhães – CpqAM (Fiocruz)
Profa. Dra./Orientadora - Cristine Bonfim - Depto de Ciências Sociais da Fundação Joaquim Nabuco - Fundaj
INTRODUÇÃO:
A mortalidade perinatal é considerada um indicador de saúde materno-infantil que reflete as condições de saúde ligadas aos fatores socioeconômicos e à qualidade da assistência durante a gestação, parto e ao recém-nascido. Compreende a soma de dois períodos: óbitos fetais (a partir da 22ª semana de gestação) e o período neonatal precoce (de zero a seis dias completos de vida) (LANSKY, 2006; BRASIL, 2009). O Brasil em acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem o propósito de alcançar condições de vida mais digna para a população com a redução da mortalidade na infância atingindo o coeficiente de 17,9 óbitos por mil nascidos vivos (NV) até 2015 (WHO, 2006). A média atual da mortalidade infantil no Brasil é de 22,6/1000 e em Recife 12,7 (IPEA, 2010; RECIFE, 2012).
Dos óbitos perinatais que estão relacionados ao acesso e utilização dos serviços de saúde, a maioria, é considerado evento sentinela, ou seja, morte prevenível, que é acionada como sinal de alerta pelo o Sistema de Vigilância Sentinela (SVS), com o propósito de estabelecer medidas preventivas evitando futuros casos semelhantes (BRASIL, 2009).
De fato, muitos problemas que surgem no período perinatal contribuem para o desenvolvimento da doença e morte nos primeiros dias de vida.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Descrever o perfil epidemiológico dos óbitos perinatais sob a perspectiva da evitabilidade na cidade do Recife em 2010. Identificar e classificar os óbitos perinatais de acordo com a evitabilidade.
MÉTODOS:
Estudo descritivo de corte transversal, população foi composta por todos os óbitos perinatais de mães residentes do Recife, capital de Pernambuco, estado localizado no litoral da Região Nordeste do Brasil ocorrido no ano de 2010. A fonte de dados foi constituída pelo Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Considerando-se perda fetal o natimorto com peso igual ou superior a 500g e/ou idade gestacional maior ou igual a 22 semanas e óbito neonatal precoce, o óbito infantil de zero a seis dias de vida completos e peso ao nascer igual ou superior a 500g de gravidez, não portadores de anencefalia. Utilizaram-se variáveis relacionadas às características maternas (idade e escolaridade), ao parto (tipo de parto e local de ocorrência) e ao recém-nascido (sexo, tempo de gestação e peso ao nascer). Foi utilizado o critério de classificação de evitabilidade por intervenções do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, Malta (2010). Utilizou-se estatística descritiva para análise dos dados. A pesquisa foi submetida à análise e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa e foi solicitada a anuência para utilização do banco de dados do SIM.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram registrados 21.920 nascimentos ocorridos no Recife, com 281 óbitos perinatais. O coeficiente da mortalidade perinatal foi de 12,81 por mil nascimentos. Contabilizaram-se 225 (80,07%) óbitos de bebês prematuros e quase todos de baixo peso, estes são dois fatores de risco que estão relacionados às circunstancias do recém-nascido e a assistência pré-natal (DOLDAN, COSTA, NUNES, 2011). Aproximadamente 20% dos casos perinatais foi composta por fetos e recém-nascidos com grande potencial de sobrevivência. Geralmente esses óbitos estão relacionados com as circunstancias das salas de parto e a assistência imediata antes e após o nascimento (CARVALHO et al., 2007). Identificaram-se 149 (53,03%) óbitos reduzíveis por adequada atenção à mulher e a principal causa básica do óbito foram as afecções maternas que afetam o feto ou recém-nascido. A detecção precoce de patologias relacionadas à mulher e ao bebê favorece a utilização de métodos diagnósticos e terapêuticos em tempo oportuno, no entanto, precisam ser monitorados no período gestacional (DOMINGUES, et al, 2012; GRAVENA et al, 2011). Como fator importante para a saúde coletiva, a identificação do óbito perinatal permite além de classificá-lo, direcionar para o planejamento local e específico das medidas de prevenção.
CONCLUSÕES:
Pode-se observar na cidade do Recife ocorrem aproximadamente 13 óbitos perinatais a cada mil nascimentos. Verificou-se que mais da metade dos óbitos eram evitáveis segundo o critério de evitabilidade por intervenção do SUS e 75% delas estavam relacionadas às afecções maternas como causa básica do óbito. Observou-se que quase a metade dos óbitos era de baixo peso extremo. Identificou-se que um quarto da população perinatal que foi a óbito tinham condições viáveis, visto que possuíam tempo de vida intrauterina madura e tinham peso ideal para o nascimento.
Os resultados sugerem grupos de riscos envolvidos com a assistência ofertada durante o pré-natal, uma vez que as afecções maternas são de fácil diagnóstico tornando possível o tratamento e controle das mesmas, como também, o monitoramento do desenvolvimento fetal que é realizado no momento em que se faz a consulta, através da anamnese e exames clínicos. De mesmo modo, foram sugeridos grupos de riscos na assistência durante o trabalho de parto e os cuidados neonatais pós-parto. Logo, as ações contínuas de promoção e prevenção fundamentadas nos princípios da universalidade e da equidade e humanização no atendimento pré-natal, parto e neonatal são importantes investimentos para melhorar a saúde materno-infantil na cidade do Recife.
Palavras-chave: Estatísticas vitais, Mortalidade perinatal, Sistemas de Informação.