65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada
SÍMBOLOS DE AMOR E INTIMIDADE EM NÉLIDA PIÑON E CHICO BUARQUE
Danuza Kryshna da Costa Lima - Depto. de pós-graduação em Letras - Faculdade Frassinetti do Recife FAFIRE
Renata Pimentel Teixeira - Profª Dra. / Orientadora – Depto. de Letras UFRPE
INTRODUÇÃO:
Tudo ao redor do homem está indiscutivelmente preso ao universo simbólico (CASTORIADIS, 2000) e a literatura como re-(a)presentação do mundo social confirma, através da desconstrução física de imagens, o caráter volátil desse universo (DURAND, 1988). O amor, símbolo norteador da pesquisa, mostra-se em suas várias faces, da mitológica (PLATÃO, 1995), à teleológica (SIMMEL, 1993), bifurcando-se em diversos símbolos dotados de um caráter íntimo. Graças à formação isotópica das imagens que os designam, se transfigurarão em símbolos de intimidade (DURAND, 2002). Dessa forma, como os espaços da casa e o ato de cozinhar se revestirão de uma significação imaterial, (BACHELAR, 2003) trazendo uma leitura diferenciada ao universo acadêmico, acerca da representatividade do amor frente aos questionamentos dos estudos do imaginário?
OBJETIVO DO TRABALHO:
Mostrar através da análise comparativa entre o conto Ave de paraíso e a letra da canção Com açúcar e com afeto, como o amor, transposto em símbolo, pode originar de seu campo simbólico mais símbolos que o (re)signifiquem, transformando a relação amorosa em um apanhado intersubjetivo de identidade e submissão.
MÉTODOS:
A pesquisa fomenta-se na análise do universo simbólico que através da leitura, estudo e reflexão do conto Ave de paraíso de Nélida Piñon e da letra da canção Com açúcar e com afeto de Chico Buarque se coadunam. A partir de uma pesquisa de cunho qualitativo, e no universo desta, optamos pela pesquisa bibliográfica, na qual diagnosticou-se a verossimilhança semiótica entre alguns símbolos encontrados no corpus em estudo, todos em consonância hierárquica com o símbolo norteador da pesquisa, o amor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os símbolos introspectam as suas significações no ser humano à medida que são (re)significados por eles e pelas instituições que o comportam. Ou seja, quando, por alguma eventualidade, a consciência, através de sua via indireta de representação, recorre aos símbolos para dinamizar uma imagem do real. Na autonomização desses símbolos, as formas como eles se agrupam é de uma importância ímpar. Centrados sob o Regime Noturno da imagem, os símbolos em estudo – a começar pelo amor – advêm de uma atmosfera absolutamente feminina, na qual todos os símbolos estão dispostos, conforme esse símbolo maior. O Regime Noturno da imagem fundamenta-se numa espécie de reencontro de forças. No campo das Schèmes, o lar simboliza a eternidade dos gestos, a fiel descida e a imersão imaginária do inconsciente às terras imensuráveis (BACHELAR, 2003). Em Ave de paraíso e Com açúcar e com afeto, a casa é o recinto que guarda o amor. No espaço da casa repousam o austero e o divino da intimidade. Através da alimentação e de seu trajeto alimentar, o exterior adentra o terreno interior humano. O ato de cozinhar o alimento carrega em si a chama do amor ritualístico e aquele que doa dedica ao outro uma parte de si, cozinhada sob a forma singela de uma dedicatória (BARTHES, 1991).
CONCLUSÕES:
A partir do amor como “pano de fundo” para o estudo literário, percebeu-se a importância da difusão do estudo da literatura para uma maior compreensão das relações simbólicas, embebidas no imaginário individual e coletivo humano (CASTORIADIS, 2000). A casa e o alimento, entendidos como símbolos da intimidade (DURAND, 2003) crivam o tempo e o espaço delimitando e levando, assim, a consciência à descida (DURAND, 2003) ao interior do ser para o abismo do eterno retorno. Cada um deles, a casa e o alimento, coexistem uns com os outros, a tornar o viver do ser de amor a transmutação viva de um ritual eterno regidos a partir do Regime Noturno da imagem.
Palavras-chave: Símbolos de intimidade, Ave de paraíso, Com açúcar e com afeto.