65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
Violência e juventude em Goiânia: delinquência ou genocídio? Da construção de notícias no jornal “Diário da Manhã” aos inquéritos policiais
Naiara Martins de Oliveira Paes - Faculdade de Ciências Sociais - UFG
Francisco Chagas Evangelista Rabêlo - Prof. Dr. / Orientador - Faculdade de Ciências Sociais - UFG
INTRODUÇÃO:
Apesar de a violência urbana ser uma forma de expressão que norteia comportamentos sociais, faz-se necessário estabelecer as relações também adentradas às estruturas de poder que visam manter o nível civilizatório constante da população através do monopólio legítimo do uso da força. O aspecto assim relacionado à violência parte de uma variedade de elementos inseridos socialmente que acarretam na diversidade do crime e da criminalidade em um contexto globalizador pós-moderno estratificado.
Com isso, a desigualdade e segregação perceptíveis nos âmbitos sócio espaciais, observa-se a influência da violência com consequência direta, especialmente, na juventude. É preciso que sejam analisadas as formas e as causas das relações de poder que levam ao “estranhamento”, tendo em vista as localidades e os jovens cidadãos habitantes das mesmas a partir dos conceitos de diferença e exclusão social.
Mesmo que a violência aconteça com mais frequência entre a população de baixa renda, como cita a imprensa midiática, não há como descartar que a mesma atinge de forma indiscriminada os jovens independentemente da classe social a que pertencem. A maioria das pesquisas empíricas, no entanto, tem enfatizado a violência praticada pelos jovens e não a violência contra eles, demonstrando a segurança enquanto manutenção da ordem e não dos anseios da cidadania.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Identificação das situações de crimes envolvendo jovens através da averiguação de inquéritos policiais que tenha como conteúdo a violência exercida por eles ou contra eles mesmos e na verificação de uma subcultura propiciada ao crime ou não, bem como em diferentes aspectos sociais ao enfatizar o crime e a criminalidade juvenil na região goiana e metropolitana de Goiânia também em torno da mídia.
MÉTODOS:
Para o desenvolvimento do trabalho foi feito o levantamento de informações no jornal impresso “Diário da manhã” para a análise das formas de interpretação do contexto do crime ou criminalidade em que o jovem está inserido. Foram coletados duzentos e vinte quatro casos. De posse dessas informações criminais, fez-se em seguida, a averiguação dos inquéritos policiais para levantar as formas de representação que foram construídas na esfera policial, de tal forma a permitir a comparação entre as duas formas e assim possibilitar a identificação das situações de crimes que tenham como conteúdo a violência juvenil na região goiana e metropolitana de Goiânia.
A leitura específica sobre o tema em questão para a análise do material coletado circundou todas as fases da pesquisa. O que permitiu a constante atualização do conhecimento sobre a temática, proporcionando uma desmistificação sobre o crime e a criminalidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Precedeu a análise dos resultados, a discussão bibliográfica sobre a temática, começando com “Modernidade Líquida” de BAUMAN (2001) ao delimitar uma nova forma de organização em função de novas maneiras de identificação do “outro” ao resultar em uma individualidade exacerbada, isto é, partindo das transformações dos modelos de trabalho e no que é conhecido como o conceito de “globalização”, ocasionando ou não a inserção do indivíduo. Com isso, observou-se em referência aos inquéritos policiais uma disputa pela superioridade nos aspectos físico e simbólico como transparência de uma suposta afirmação do que se procura ser através da imposição identitária no momento do ato violento, como disputas de facções para algo que se deseja obter, sendo esta conseguida pela força ou pelo medo.
Posteriormente, com SOUZA (2009) em que a violência planejada (em que se prevalece os estados emocionais e tangeria aspectos psicológicos que não levariam a um ato violento imediato) e a violência instrumental (caracterizada pela “vontade do desejo imediato” na qual é comum em assaltos e latrocínios) constatam-se com mais frequência na sociedade moderna.
Os artigos de WIEVIORKA (2004) foram de extrema importância para se fazer a distinção entre sujeito e indivíduo e também ao sentido da violência como negação do sujeito. A leitura específica da temática encerrou-se com o artigo de PORTO (2009) que permitiu um melhor entendimento sobre as representações sociais em torno dos apelos midiáticos.
CONCLUSÕES:
A exacerbante individualidade, os conhecidos templos de consumo e a esfera social em constante transformação norteiam as novas maneiras e padrões aos quais somos doutrinados a conviver. As modificações de cunho globalizante são determinantes para que tal individualidade exacerbada flua em um ritmo acelerado gerando um eterno desejo de consumo como afirma BAUMAN (2001).
Nesse cenário, a violência é manifestada através da indiferença de uma sociedade pautada no desprezo do “outro”, na identidade fragmentada geradora de novos costumes e culturas, e no incessante desejo de obter aquilo que não se têm. O medo e insegurança social são amenos para a população quando se mora entre os muros dos condomínios, há a existência de uma realidade paralela em que a convivência é transformada, bem como o espaço urbano. Já a comunicação globalizante e mídia, ratificam as vivências sociais através do imaginário popular a partir da preconização dos casos de violência juvenil, aumentando o espetáculo da venda e do horror gerados pelos variados tipos de crime.
Nesta pesquisa, todavia, houve a identificação de uma subcultura juvenil propicia ao crime, constatada pelos discursos da imprensa midiática em relação à realidade “violenta”. Fomenta-se, portanto, uma cultura distorcida sobre o crime e transforma-se em decorrência, o imaginário popular. A cultura de violência e impunidade goiana irá sempre nos circundar, porém não se sabe os meios de sua periculosidade.
Palavras-chave: inquéritos, mídia, subcultura.