65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
Relações Etnicorraciais na Educação Infantil: Constituição da identidade e autoimagem da criança negra na creche
Maria da Conceição de Carvalho Varejão Filha - Especialista em Educação Infantil pela UNICID /Graduada em Pedagogia pela UFPE
Ester Calland de Souza Rosa - Doutora em Psicologia pela USP / Professora do DPOE/CE/UFPE
INTRODUÇÃO:
A pesquisa teve como objetivo analisar que elementos presentes nas práticas educativas e nas relações entre educadores e crianças nos ambientes de creche contribuem para a formação da identidade e autoimagem de crianças negras. A estratégia metodológica adotada nesta pesquisa qualitativa foi a observação do cotidiano de uma sala de creche pública do Recife que atendia crianças na faixa etária entre 12 a 24 meses. Percebemos durante a pesquisa fatores que identificam que o silenciamento do racismo tem um papel prejudicial à construção da identidade racial e autoimagem das crianças negras. No decorrer da pesquisa foi possível constatar, ainda, a ausência no espaço de circulação das crianças, de cartazes, livros infantis ou alguma atividade sobre as questões etnicorraciais que viesse a auxiliar o professor na realização de atividades voltadas a essa temática. Como conclusão, o estudo evidencia a importância de inserir a temática das relações etnicorraciais na formação continuada dos profissionais que atuam na educação infantil.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar que elementos presentes nas práticas educativas e nas relações entre educadores e crianças na faixa etária entre 12 e 24 meses nos ambientes de creche contribuem para a formação da identidade e autoimagem de crianças negras.
MÉTODOS:
Utilizamos a metodologia de caráter qualitativo, tendo como instrumentos para análise dos dados vídeogravações e entrevista semi-estruturada com educadores e familiares. Participaram da pesquisa 16 alunos de ambos os sexos, sendo destes 10 do sexo feminino e 6 do sexo masculino, todos com idades de 12 a 24 meses. Como estratégia de registro, utilizou-se a vídeogravação e o registro em diário de campo. A pesquisa foi realizada em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da prefeitura do Recife que se encontra localizado no bairro do Ibura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Na sala observada não encontramos nenhum material que seja utilizado para o trabalho sobre as questões raciais com as crianças, nenhum dos murais expostos nas paredes, nenhum livro infantil ou vídeos sobre a temática e que não havia brinquedos (como bonecos, por exemplo) que evidenciassem a diversidade racial.se percebeu que nenhuma das atividades registradas e expostas nas paredes com produções infantis evidenciava o trabalho com essa temática. Nos momentos de cuidado com as crianças também foi observado que os adultos não faziam referências positivas a características distintivas do fenótipo negro (como por exemplo os diferentes tipos de cabelo) havendo inclusive reclamações quanto ao “trabalho” de pentear as crianças negras. Portanto, a análise dos dados coletados nessa pesquisa, indica que o racismo tem se manifestado com uma “roupagem” diferenciada, que é através do silêncio do mesmo. E a instituição educacional e seus profissionais não percebem que as disparidades nas representações em que o racismo vem se manifestando, através do silenciamento e a omissão ao seu combate, são fontes de rebaixo da autoimagem da criança negra, e facilitador no que se refere a uma construção negativa da identidade.
CONCLUSÕES:
É através da valorização da Cultura Africana e Afro-Brasileira que a criança reproduz e recria, em seu cotidiano, os valores que são passados de geração em geração. E para tanto se faz necessário reconhecer a importância da identidade, levando em consideração os valores culturais das crianças e respeitando a história de seu grupo etnicorracial.Em relação aos profissionais que trabalham com a educação infantil, se faz necessário uma atenção redobrada para a maneira silenciosa que o racismo tem sido propagado em nossas creches e CMEI’s, para que estigmas, palavras depreciativas e a forma diferenciada de tratamento, em relação à cor da pele e ao tipo de cabelo, sejam banidos de nossas praticas pedagógicas. Que tenhamos a preocupação de estarmos preparados para lidar com a diversidade cultural, mas, além disso, sejamos capazes de combater qualquer forma de racismo e de criticar o currículo e sua prática.Infelizmente, a falta de um trabalho pedagógico sobre as questões raciais na educação infantil, deixa-nos a pensar que identidade racial está sendo construída nas crianças negras, quando não possuem nenhum exemplo ou algum material didático que valorizem suas características fenotípicas e mostre a cultura Afro-brasileira e Africana de forma positiva e significativa para a sociedade.
Palavras-chave: relações etnicorraciais, educação infantil, identidade.