65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE TRABALHO E EDUCAÇÃO EM COMUNIDADE RIBEIRINHA
Oderlene Bráulio da Silva - Colegiado de Pedagogia- Instituto de Natureza e Cultura- UFAM
INTRODUÇÃO:
O presente resumo vem apresentar a pesquisa intitulada Representações Sociais de Trabalho e Educação em comunidade ribeirinha desenvolvida no período de 2008 a 2010 na comunidade de Guanabara II, localizada no município de Benjamin Constant- AM, mesorregião do Alto Solimões. A relação entre trabalho e educação, defendida por Marx e Gramsci é enfatizada por Saviani (1997), Arroyo (2005), Nosella (2002), Frigotto (2008) e Kuenzer (2007) ao discutirem a questão do trabalho como princípio educativo. Com relação ao trabalho em comunidades ribeirinhas no contexto amazônico e ao perfil desses/as trabalhadores/as nos reportamos a estudos realizados por Noda (1985), Fraxe(2004) e Witkoski (2007). No entanto, a forma de produção da existência humana como se diferencia de acordo com o contexto histórico e geográfico dos indivíduos nos ancoramos na teoria das Representações Sociais de Moscovici (1961), também discutida por Jodelet(1998), Abric(1994) e Sá(1996), pois as conceituam como elementos constitutivos da realidade. Esse estudo veio contribuir significativamente com a identificação dos núcleos positivos de transformação e de resistência na forma de conceber a realidade do povo que vive da terra, da água e da floresta e que muito contribui com o desenvolvimento da região.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A pesquisa teve como objetivo analisar as representações sociais de trabalho e educação dos moradores e moradoras de uma comunidade ribeirinha do município de Benjamin Constant, Mesorregião do Alto Solimões-Am, enfatizando o contexto e o processo de sua constituição e partilha e verificando como se configuravam frente à heterogeneidade e às exigências da atualidade.
MÉTODOS:
A pesquisa configurou-se como uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa. Os sujeitos da pesquisa foram oitenta e cinco pessoas residentes na comunidade de Guanabara II a mais de seis anos e a partir dos dezesseis anos de idade, inseridas nas atividades da agricultura familiar. A metodologia aplicada foi a da Teoria do Núcleo Central de Abric (1976) utilizando-se observação participante; questionário e entrevista semiestruturada- aplicados com o objetivo de construir o perfil da população da comunidade; e técnica da evocação livre- utilizada para o levantamento dos elementos que constituíam o núcleo central das representações sociais de trabalho e educação, sendo desenvolvida a partir de quatro momentos para cada uma das palavras geradoras (trabalho e educação): 1º) Pergunta sobre o que lhes vinha à mente quando ouviam a palavra trabalho/educação; 2º) escrita das cinco primeiras palavras que vieram à lembrança quando ouviram a referida expressão; 3º) enumeração por ordem de prioridade das palavras escritas, sendo a de número um a mais importante; e 4º) justificativa da escolha da palavra prioritária, registrando o porquê da palavra de número um ser. Os dados coletados foram registrados através de anotações e ou gravações audiovisuais, devidamente autorizadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Verificamos que o trabalho para os ribeirinhos significava sustento/sobrevivência. Esse signo envolve a questão da manutenção da vida, pois é através do trabalho com a terra, a água e a floresta que adquirem os recursos naturais necessários a sua alimentação e ao sustento de sua família, diferentemente da ótica capitalista, pois suas práticas não visam à obtenção de lucros e sim o que é meramente necessário à vivência cotidiana. Com relação ao termo educação a principal cognição evocada foi respeito, elemento fundamental na harmonia deste grupo social. Educar é respeitar os filhos e ensiná-los a respeitarem os mais velhos, os pais e os outros, pois corresponde a conduta de valorização do outro e a irmandade tão apregoada pela igreja da cruzada e pelos mais antigos. A manutenção da vida em sociedade vem justificando o desenvolvimento de práticas concretas que estão alicerçadas no respeito, no estudo, no sustento da família e na relação entre homem e natureza. É a terra, água e a floresta do trabalho, tão abordadas por Witkoski (2007), e o respeito a esses elementos naturais e ao próprio homem, que vêm determinando e justificando as práticas e racionalidades dos povos ribeirinhos da Amazônia, mas especificamente do trabalhador e trabalhadora da comunidade de Guanabara II.
CONCLUSÕES:
Constatamos que as representações de trabalho e educação apresentam-se como resistência aos valores da sociedade moderna capitalista globalizada e neoliberal, porque expressam as crenças, os valores e os sentimentos em relação aos objetos do mundo social e às ideologias do coletivo. Verificamos também que na comunidade entrelaçam-se múltiplos saberes e práticas e que os espaços de produção da existência estão vinculados à produção simbólica, que direcionam as formas de organização social e a pedagogia da existência no contexto ribeirinho. Destarte, a educação como respeito, passada de geração em geração, ainda norteia as relações sociais, pois favorece a amizade, o amor, o companheirismo, a coletividade e a produção coletiva. A produção da existência, obtida coletivamente está vinculada ao respeito mútuo e ao cuidar de si, do outro, da família e do ambiente. Torna-se significativo verificar que muito seria superado com o desenvolvimento de uma prática pedagógica que valorize o cotidiano, as práticas e os saberes do povo ribeirinho, levando em consideração os ciclos dos recursos naturais, as atividades desenvolvidas, onde a comunidade, a terra, a água e a floresta sejam escola, uma escola da e para a vida, do trabalho e para o trabalho.
Palavras-chave: Exploração, Racionalidades, Práticas.