65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 3. Línguas Estrangeiras Modernas
O horizonte do Tradutor na tradução do Poema Sujo de Ferreira Gullar
Kallynny Richelly do Amaral Cardoso - Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução - UnB
Ana Helena Rossi - Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução - UnB
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa tem como objeto de estudo o horizonte do tradutor, e verificar em que medida esse horizonte se apoia na prática de tradução como espaço de autorreflexão organizado no “Jornal da Tradução”. O ponto de partida da pesquisa se deu a partir da versão do Poema Sujo de Ferreira Gullar para a língua francesa. No início da pesquisa, visualizado como primeiro projeto de tradução, a tradutora preocupava-se apenas com a língua de chegada, isto é, a língua francesa. Mas no decorrer da prática tradutória e dessa autorreflexão, o projeto inicial de tradução sofreu alterações e vários questionamentos surgiram acerca da língua materna da tradutora.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é pensar na prática de tradução como um processo que envolve várias etapas. Essas etapas implicam uma prática, que é a tradução de fato, e a reflexão desta prática, que neste trabalho, chamamos de “jornal da tradução”. A partir dessas duas etapas, objetivamos reconstruir o projeto do autor em língua francesa, mantendo suas características literárias e linguísticas.
MÉTODOS:
A metodologia deste trabalho baseia-se na autorreflexão do tradutor enquanto observador e crítico da sua metodologia de tradução discutida no “jornal da tradução”. 1º etapa: pesquisa sobre o projeto literário de Ferreira Gullar (semântica, estudo diacrônico, métrica, entre outos). Essa etapa inclui traduções intralinguais, assim como leituras em voz alta a fim de observar o ritmo do poema. 2º etapa: redação do “jornal da tradução”, onde é realizada uma autorreflexão sobre a prática tradutória, que permite explicitar um projeto de tradução coerente. 3º etapa: reler e reescrever as versões em língua francesa dentro de um processo de observação/sistematização das escolhas feitas na versão em função do projeto literário do autor, onde se observa escolhas em termos de classe gramatical e semântica. 4º etapa: reescritura do poema em sua versão francesa a partir da integração do projeto literário do autor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
No decorrer da pesquisa, o horizonte da tradução mudou, deslocou-se de um campo empírico para um campo baseado na compreensão do projeto literário do autor. Esses deslocamentos foram primordiais para se propor uma versão do Poema Sujo que levasse em conta o projeto poético de Gullar. Exemplo 1: palavra “turvo”, na primeira versão havia uma definição desse termo na língua materna (“turvo”, como “agitado” e “confuso”) que não foi satisfatória. Fez-se uma tradução intralingual do termo “turvo”, pesquisando em língua portuguesa diferentes sentidos do termo e questionando a classe gramatical da palavra no contexto do poema. Exemplo 2: palavra “turva” não se encontra nos dicionários pesquisados da língua portuguesa (Aurélio e Houaiss) apesar de existir a palavra “turba”. Neste caso, a estratégia de tradução, foi escolher o termo “trouble” em língua francesa a fim de manter o sentido e o ritmo da palavra.
CONCLUSÕES:
A partir da versão do Poema Sujo para a língua francesa, a tradutora levantou questões relacionadas à sua língua materna, umas das questões levantadas para questionar o projeto de tradução intuitivo inicialmente aplicado. A pesquisa partiu, pois, desse projeto intuitivo para se transformar em um modelo autorreflexivo construído através do “jornal de tradução”. Essa autorreflexão oriunda da prática tradutória permitiu que a versão final em língua francesa fosse mais coerente em relação ao projeto poético de Ferreira Gullar, mantendo-se inclusive as ambiguidades do texto de partida na versão em língua francesa.
Palavras-chave: Horizonte do tradutor, Tradução intralingual, Língua materna.