65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 9. Artes
CACURIÁ e a Corporeidade de suas Mulheres Dançantes
Camila Paula Lopes Soares - Departamento de Artes Cênicas - UnB
Luciana Hartmann - Profa. Dra./Orientadora - Departamento de Artes Cênicas - UnB
INTRODUÇÃO:
Este trabalho dá continuidade à pesquisa iniciada em 2009, que descreve a história do grupo de manifestação expressiva: Cacuriá Filha Herdeira. Realizou-se um resgate histórico da criação desta manifestação expressiva, pois o Cacuriá é uma dança que nasceu na década de 70, em São Luís do Maranhão, criada por Seu Alauriano Campos de Almeida e Dona Florinda Conceição do Carmo Olímpio, respectivamente, padrasto e mãe de Dona Elizene Maria, fundadora do Cacuriá Filha Herdeira, grupo que surgiu em maio de 1993, na cidade de Sobradinho - Distrito Federal. Nesta primeira fase da pesquisa, finalizada no ano passado, compreendeu-se que a identidade da família está associada à sua história e o reconhecimento da autenticidade da manifestação expressiva Cacuriá como um bem cultural da família é a garantia do seu fortalecimento e a continuidade da reprodução do seu patrimônio cultural. Porém, agora com novas reflexões, busco ampliar o olhar sobre a trajetória das mulheres cacuriantes: brincantes de cacuriá.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é continuar a analise da presença da mulher no Cacuriá, buscando identificar as raízes afro-brasileiras dessas mulheres e analisar sua influência na manifestação, além de observar os movimentos corporais dessas mulheres na vida cotidiana, e analisar como o corpo reage em cena e identificar as reminiscências afros dentro da dança na manifestação.
MÉTODOS:
Esta pesquisa é pautada na experiência prática junto à família da D. Elizene e embasada nos referenciais teóricos oferecidos pela Antropologia da Performance. Com uma pesquisa já iniciada, procurei desta vez dar um maior foco as mulheres cacuriantes, pois desde o inicio da pesquisa essas mulheres me chamaram atenção, pois percebi uma linha matriarcal dentro da família espelhada numa força e autonomia vinda destas mulheres maranhenses. A partir daí comecei a pensar na corporeidade destas mulheres em performance e busquei entender se essa corporeidade sensual se estende a vida particular.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Percebe-se que estas mulheres cacuriantes são majoritariamente negras de classes populares, e estão frequentemente em movimento de luta por melhores condições de vida para sua família e muitas vezes tornam-se porta-voz das suas comunidades. Simultaneamente a esta força de luta por igualdade, elas não deixam de ter uma corporeidade feminina e sensual ao performar, os movimentos de seus corpos em cena são sinuosos e voluptuosos, demonstrando uma paixão pelo ritmo e pela música de matriz africana. E é neste universo performático que elas se encontram com a feminilidade e sensualidade dos seus corpos, é o instante onde elas podem se esquecer das marcas escravocratas, dos preconceitos e estigmas que o corpo afrodescendente carrega. Desta maneira, é no momento performático da manifestação expressiva Cacuriá que elas reconhecerem seus corpos de uma maneira positiva e alegre, é na descoberta com a corporeidade performática que as legitimam a uma transformação afirmativa de sua identidade.
CONCLUSÕES:
Entende-se por corporeidade a maneira de se relacionar com uma memória ancestral, pois a identidade corporal é um reflexo da tradição e vivência do indivíduo em sociedade. É no corpo que podemos encontrar as marcas expressivas individuais e coletivas de uma memória, é na corporeidade performática - corpo em dança – que podemos resgatar os patrimônios culturais. Logo, essa corporeidade performática quando despertada também vai refletir na corporeidade cotidiana, pois o corpo é uma caixinha de memória e dele todas as marcas de construção da identidade são espelhadas na vida pública e privada. Conclui-se que essas mulheres têm a sua corporeidade performática estendida à vida cotidiana e, é no campo da manifestação expressiva que encontram espaços para resistência e sobrevivência de suas experiências como “mulheres guerreiras” e femininas.
Palavras-chave: Cacuriantes, Corporeidade Performática, Identidade Corporal.