65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia
INTELIGÊNCIA E DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: DA PSICOMETRIA DE BINET E SIMON À DEFECTOLOGIA DE VYGOTSKI
Fernanda Santos de Castro - Depto.de Psicologia, UEM
Sonia Mari Shima Barroco - Depto.de Psicologia, UEM
Silvana Calvo Tuleski - Depto.de Psicologia, UEM
INTRODUÇÃO:
Embora o tema da inteligência venha sendo pesquisado e discutido por vários estudiosos, sob diferentes perspectivas teóricas, identificou-se a necessidade de delimitar o conceito de inteligência e discutir as suas implicações para diversas atividades práticas que nele se ancoram.
Desse modo, entendeu-se a importância de se investigar e compreender as obras de A. Binet (1857-1911) e de T. Simon (1873-1961), que se constituem nas primeiras elaborações sobre a inteligência, a partir de uma compreensão psicrométrica. Contemporâneo às produções de Simon e Binet, L. S. Vygotski (1896-1934) estava sob o contexto da União Soviética e se contrapunha a esta concepção, ao estudar a aprendizagem e o desenvolvimento humano por outras bases filosóficas e metodológicas, que entendia ser a mente formada socialmente.
Com esta tese sendo demonstrada e defendida, sobre postulados marxistas, tem-se um reposicionamento dos fatores biológicos na conduta humana, sobretudo, no que se refere às funções psicológicas superiores. Assim, coloca-se a reflexão a que se inclina esta pesquisa: a de conceituação e discussão da inteligência, a partir da investigação da filiação de origem desta ideia e, posteriormente, apontar possíveis superações da acepção do fenômeno psicológico pelas elaborações de Vygotski.
OBJETIVO DO TRABALHO:
- Apreender os conceitos de inteligência e de deficiência intelectual nas teorizações de Binet e Simon e de Vygotski. - Investigar contribuições e superações possíveis do conceito de inteligência com base na concepção de desenvolvimento humano sob a perspectiva histórico-dialética. - Recuperar autores clássicos relacionando suas obras às demandas do contexto sócio-histórico.
MÉTODOS:
Tratou-se de uma pesquisa de cunho bibliográfico-conceitual, sob a perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, que se apropria do Materialismo Histórico Dialético como método e filosofia. Por essa matriz teórica, assumiu-se como tese central norteadora da pesquisa a concepção da formação social da mente – inteligente ou com deficiência. Elegeu-se textos sobre a Psicometria, em especial os escritos de Binet e Simon a respeito da inteligência, e sobre a inteligência e a deficiência intelectual compreendidas a partir da Psicologia Histórico-Cultural, escritos por Vygotski. Inicialmente realizou-se uma varredura extensiva das obras dos três autores, compondo um acervo em português, inglês, francês e espanhol de materiais impressos e digitais, contendo livros, artigos, materiais audiovisuais, etc.. Foram consideradas fontes primárias (documentos e publicações de Simon e Binet e de Vygotski) e secundárias (publicações que abordam os estudos da psicometria e de autores russos e soviéticos). Os procedimentos incluíram, além da composição do acervo, a seleção, a leitura e o fichamento dos materiais eleitos (com definição de critérios para cada uma destas etapas, em acordo com os objetivos da pesquisa); e com a realização de análises e sínteses dos materiais elencados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Binet e Simon desenvolveram sua teoria buscando responder a necessidade de organização da recém criada Escola Pública, Gratuíta e Laica na França. Concebem a inteligência interligada ao estudo da deficiência mental, buscando contribuir com novos métodos de diagnóstico dessa deficiência a partir da tripartição (idiotia, imbecilidade e debilidade mental). A inteligência seria um feixe de tendências, como a sensação, a percepção, o raciocínio, cuja faculdade fundamental seria o julgamento, que é a faculdade de se adaptar, ela seria inata, poderia ser mensurada, deveria ser medida em separado do nível de instrução.
Vygotski considera que a difícil educabilidade das crianças resulta de fatores socioeconômicos, com exceção de casos de insuficiência biológica e de formas mistas. Entende que os métodos tradicionais de investigação, como a escala de Binet, são baseados em concepção quantitativa do desenvolvimento infantil e se limitam a dar caracterizar negativamente a criança. Para Vygotski, a prática de Binet e Simon não possui condições de caracterização positiva da criança de um tipo determinado, não captam sua peculiaridade qualitativa, contradizendo-se aos critérios científicos sobre o desenvolvimento infantil e às exigências da educação especial.
CONCLUSÕES:
Conheceu-se a importância da vida e obra dos autores. Concluiu-se que Binet e Simon conceberam a inteligência como inata, mensurável quantitativamente e como um feixe, possuidora de outras faculdades intelectuais, sendo o julgamento a mais importante. Vygotski não expõe uma definição conceitual conclusiva, abordando a inteligência ora como intelecto ora como capacidade. Com base nos estudos sobre o intelecto, concluiu-se que a inteligência para o autor não é uma função única e nem inata em sua integridade.
Em relação ao conceito de deficiência intelectual, concluiu-se que sob a lógica de Binet e Simon existiriam fases de desenvolvimento, pelas quais, necessariamente, todas as crianças tidas como normais passam, sendo que o deficiente intelectual pode ser tomado como quem estacionou-se em uma dessas fases. Vygotski defende que há uma base biológica fundamental para se explicar a aprendizagem e o desenvolvimento humano e a inteligência, porém, ela não ocupa o papel isoladamente. Conta com as mediações sócio históricas e instrumentais vivenciadas pela pessoa, para que se torne ser pensante e atuante. Não toma a vida humana já predestinada a dado curso e nível de desenvolvimento, e nem a escola como espaço para manifestação da sina vaticinada desde a concepção da criança.
Palavras-chave: Avaliação Psicológica, Desenvolvimento do Psiquismo, História da Psicologia.